Mesmo que a um ritmo menor do que gostariam as cadeias produtivas do agronegócio no país, os avanços observados sobretudo nas áreas de pesquisa e financiamento nas últimas décadas permitiram que o Brasil ampliasse a oferta de alimentos e se tornasse um dos maiores exportadores do setor no mundo. E não apenas com a expansão das áreas de plantio, mas também com ganhos expressivos de produtividade.
O estudo “Produtividade total dos fatores na agricultura: Brasil e países selecionados”, assinado por José Garcia Gasques, coordenador-geral de Políticas e Informações do Ministério da Agricultura, e José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e professor do Ibmec e da Universidade Federal de Viçosa (UFV), mostra que, em um grupo de 13 dos mais importantes países agrícolas do mundo, nenhum cresceu mais que o Brasil em produtividade agrícola a partir de 2000.
De 2000 a 2020, a produtividade total dos fatores (PTF), que mede a diferença entre o crescimento do produto e dos insumos, registrou alta de 3,18% ao ano no país. Apenas um pouco abaixo da média registrada entre 1975 e 2020 (3,79%) – intervalo maior que inclui o início da conquista do Cerrado e no qual a produção brasileira de grãos multiplicou-se por quatro (alta de 3,79% ao ano) -, e acima de “concorrentes” como Índia (2,93%), China (2,03%), Chile (1,82%), Canadá (1,8%), EUA (0,5%), Austrália (0,47%) e Argentina (0,05%). Os dados desses países são de 2000 a 2019, quando o aumento médio global foi de 1,66% ao ano.
“As pesquisas agropecuárias transformaram o Cerrado e expandiram as fronteiras produtivas. Além disso, a adoção de insumos modernos (mecanização e biotecnologia), aliada ao empreendedorismo dos nossos agricultores, também influenciou o crescimento produtivo. Após o Plano Real, em 1994, as políticas econômicas de maior abertura de mercado potencializaram a dinâmica produtiva agropecuária”, dizem os autores do estudo.
Eles lembram que o fator terra continuou em expansão depois de 2020 no Brasil, principalmente com a consolidação de novas áreas de produção de grãos no “Matopiba” – confluência entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia -, mas que a maior parte dos ganhos de produtividade observados veio de uma dinâmica tecnológica mais intensa, com mais capital e menos trabalho.
“O aumento da produtividade agrícola permitiu a expansão da oferta em nível maior do que o crescimento da demanda, o que reduziu o preço da cesta básica”, escreveram os autores do estudo, sem esquecer da forte alta registrada desde o ano passado, nos mercados doméstico e internacional.
“Recentemente, a inflação de alimentos vem trazendo preocupações, mas esse aumento dos preços está relacionado a fatores externos (reabertura das economias pós-pandemia, preço elevado do petróleo, conflito Rússia e Ucrânia, bem como escassez de insumos importados da China) e internos (problemas climáticos, incerteza política e aumento dos gastos públicos).
Contudo, manter o crescimento da produtividade é essencial para evitar o desabastecimento interno e contribuir, no médio e longo prazos, com o controle inflacionário”, dizem Gasques e José Eustáquio.
Entre 2000 e 2020, mostra o estudo que será divulgado nesta quinta-feira pelo Ipea, a taxa média de crescimento do produto na agricultura brasileira atingiu 3,76% ao ano, enquanto o avanço dos insumos foi de 0,56% ao ano. No caso dos insumos, houve incrementos médios de 0,18% em terra e de 1,22% em capital, mas recuo de 0,84% ao ano no fator trabalho.
“Houve aumento do crédito de investimento, com a criação de linhas de financiamento que atendessem aos diferentes portes produtivos. Pesquisas foram realizadas na tropicalização dos cultivos, na expansão do plantio direto, na integração produtiva lavoura-pecuária-floresta, assim como na maior mecanização do campo. Esses arranjos trouxeram acentuados ganhos de produtividade na agricultura brasileira”, dizem os autores do trabalho.
(Valor Econômico)