A economia brasileira crescerá 2,5% neste ano e 2,2% no próximo, continuando a retomada depois da recessão, mas a atividade global perderá dinamismo, num ambiente de riscos agravados pelas tensões comerciais, avalia o FMI. Tendo crescido 1,3% em 2018, o Brasil ganha impulso, numa recuperação cíclica: a tendência é de ocupação do espaço deixado ocioso com a crise. Mas o desempenho será inferior ao previsto, se a reforma da Previdência emperrar, diz o diretor adjunto do Departamento Econômico, Gian-Maria Milesi Ferretti.
O crescimento estimado para o Brasil em 2019 é 0,1 ponto porcentual maior que o divulgado em outubro, na última reunião anual do Fundo, e o projetado para 2020 é 0,1 ponto porcentual menor. Economistas da instituição têm estimado em algo próximo de 2,5% ao ano o potencial de expansão do Brasil. Para elevá-lo serão necessários, além de reformas estruturais, investimentos bem maiores em capacidade produtiva.
A economia global está enfraquecendo mais velozmente do que se esperava e deverá expandir-se 3,5% em 2019 e 3,6% no próximo ano, 0,2 e 0,1 pontos porcentuais abaixo das projeções de outubro. Mas o quadro poderá piorar, se as condições de comércio, afetadas pela disputa entre Estados Unidos e China, continuarem a deteriorar-se. As condições ideais são semelhantes às do cross-country de esqui, comparou a diretora gerente do FMI, Christine Lagarde, amante declarada do esporte: boa visibilidade, muita certeza, estabilidade, terreno com inclinação razoável e todos seguindo na trilha correta.
Nenhuma dessas condições está presente na economia global. A lista de riscos inclui, além das tensões no comércio e do aperto monetário nas economias mais avançadas, o desequilíbrio das contas públicas da Itália, o Brexit (separação entre Reino Unido e União Europeia), os efeitos da paralisação parcial do governo americano e alto endividamento de alguns governos e de boa parte do setor privado em vários países, segundo as análises do FMI. A segurança do crescimento dependerá da segurança fiscal, de políticas monetárias estimulantes nos países de inflação baixa, da manutenção do câmbio flutuante e de muita cooperação internacional, segundo Lagarde. Ela voltou a defender o multilateralismo, um tema recorrente em seus pronunciamento e um valor rejeitado pelo presidente americano Donald Trump e por seu seguidor, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
A nova edição do Panorama Econômico Mundial, com as projeções atualizadas, foi divulgado ontem à tarde, em Davos. Há alguns anos o FMI tem apresentado essa edição num evento prévio à reunião do Fórum Econômico Mundial.
Há riscos crescentes de novas correções para baixo, disse diretora econômica do FMI, Gita Gopinath. As tensões comerciais têm afetado os mercados financeiros mais fortemente que no ano passado, acrescentou a economista.
ONU. Já a ONU refez suas contas para baixo. Antes, estimava que a taxa de expansão da economia brasileira seria de 2,7% em 2019 e 2,9% em 2020. Agora, a taxa está em 2,1% para este ano e 2,5% para o ano que vem.
A expansão brasileira ficará abaixo da média mundial, que chega a 3% neste ano e em 2020, segundo a entidade.
Fonte: Estadão (Rolf Kuntz, Jamil Chade – ENVIADO ESPECIAL)