O Brasil iniciou 2022 com aceleração do crescimento econômico, registrando entre janeiro e março expansão por três trimestres seguidos com a ajuda da retomada do setor de serviços, mesmo com o cenário de inflação e juros elevados e incertezas externas.
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro teve crescimento de 1,0% na comparação com os últimos três meses de 2021, mostrando aceleração em relação ao fim do ano passado, quando avançou 0,7% sobre o trimestre anterior.
O dado divulgado nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi o mais alto desde o primeiro trimestre de 2021 (+1,1%), porém ficou abaixo da expectativa em pesquisa de Reuters de um ganho de 1,2%.
O IBGE, entretanto, revisou para cima os números do terceiro e quarto trimestres de 2021, passando a ver respectivamente altas de 0,7% e 0,1%, depois de informar anteriormente taxas de 0,5% e -0,1%. O número do segundo trimestre também melhorou, embora ainda tenha ficado negativo, passando a retração de 0,2%, ante declínio de 0,3% informado previamente.
Com o agora resultado positivo do terceiro trimestre, o Brasil sai do cenário de recessão técnica que havia sido apontado antes com dois trimestres seguidos de recuos.
Entretanto, o avanço de 4,6% do PIB no ano de 2021 como um todo foi mantido, e a atividade econômica está agora 1,6% acima do patamar do quatro trimestre de 2019, período pré-pandemia, segundo o IBGE.
Na comparação com o primeiro trimestre de 2021, o PIB teve expansão de 1,7%, ante expectativa de 1,8% nessa base de comparação.
O desempenho da atividade econômica surpreendeu no início deste ano, mesmo com a inflação em 12 meses em dois dígitos e a alta da taxa básica de juros. A reabertura da economia após os lockdowns contra a Covid-19 ajudou, bem como a recuperação do emprego e a expansão da renda disponível, ainda que abaixo do esperado no primeiro trimestre.
E a demanda no país foi auxiliada por um maior estímulo fiscal, após o aumento da transferência de renda aos mais pobres por meio do Auxílio Brasil.
Serviços puxam PIB
Nos três primeiros meses do ano, o destaque foi o crescimento de 1,0% dos serviços, que respondem por 70% do PIB brasileiro, acelerando ante avanço de 0,6% no quarto trimestre.
“Serviços foram o destaque no primeiro trimestre e tudo que tem a ver com viagem, transporte aéreo, rodoviário, bar, restaurante, alimentação cresceu. Houve flexibilização das medidas (contra a Covid) e houve aumento da demanda por parte das pessoas. Diminuiu o receio das pessoas de consumir presencialmente”, explicou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
Ainda do lado da produção, a indústria teve crescimento de apenas 0,1% no período, mas voltou a uma taxa positiva depois de três trimestres seguidos de contração.
Por outro lado, a Agropecuária encolheu 0,9% nos três primeiros meses deste ano, depois de saltar 6,0% no quarto trimestre, devido à estiagem no Sul que afetou principalmente a soja, segundo o IBGE.
Pelo lado das despesas, o consumo das famílias cresceu 0,7% e o do governo, 0,1%. No entanto, a Formação Bruta de Capital Fixo, uma medida de investimento, encolheu 3,5%, com redução na produção e importação de bens de capital.
“O consumo das famílias cresceu puxado pelos serviços presenciais, e o consumo do governo cresceu por conta do ano eleitoral e há prazo para gastos”, disse Palis, ressaltando, no entanto, que o consumo das famílias ainda está 0,7% abaixo do nível pré-pandemia.
Em relação ao setor externo, as exportações de bens de serviços aumentaram 5,0%, mas as importações contraíram 4,6% em relação ao quarto trimestre de 2021.
Estímulos
Analistas vêm melhorando as perspectivas para a economia brasileira neste ano, ao mesmo tempo que revisam para baixo as projeções para o PIB em 2023.
Entre os fatores domésticos, estímulos fiscais anunciados pelo governo podem ajudar a mitigar a deterioração das finanças das famílias, em um ambiente de inflação extremamente alta e desafiadora no país.
Além disso, a atividade se beneficia do aumento internacional dos preços das commodities, via tanto balança comercial quanto aumento da produção.
Entretanto, a eleição presidencial no segundo semestre continua sendo ponto de atenção, com as incertezas relacionadas ao processo político e à política econômica no próximo governo potencialmente afetando decisões de investimento de empresas. E o agressivo aperto da política monetária conduzido pelo Banco Central para controlar a inflação –a Selic está atualmente em 12,75%– tende a impactar a demanda e restringir a atividade já na segunda metade deste ano e em 2023.
Nesse cenário, as projeções do mercado para o PIB seguem modestas, com o teto das apostas de grandes bancos apontando crescimento em torno de 1,5% para este ano. Para 2023, a expectativa é que a economia desacelere e cresça abaixo de 1%, com algumas casas –como Itaú Asset e Santander Brasil– prevendo retração.
O Ministério da Economia já estava mais otimista do que o mercado e no mês passado manteve suas projeções feitas em março para o crescimento do PIB, de 1,5% para este ano e de 2,5% para 2023.
(Reuters)