Na contramão do mercado físico, que tem preços firmes, os futuros do boi gordo recuaram ontem na B3. O movimento refletiu a expectativa de recomposição da oferta de gado terminado para abate, a partir do mês que vem, e um possível arrefecimento nas exportações no trimestre do ano. Na B3, o contrato outubro, mais líquido, com 2.100 negociações no dia, rompeu o suporte de R$ 150,50 por arroba e fechou a R$ 150,00 por arroba, queda de R$ 1,40 (0,92%) em relação à véspera. O vencimento novembro, com 412 negociações, perdeu R$ 1,70 (1,12%) ao terminar a sessão em R$ 149,70. “Nos próximos dias, o contrato para outubro ainda pode testar valores abaixo de R$ 150,00”, estima o analista da consultoria Agrifatto, Marco Guimarães.

A falta de gado pronto para abate e as exportações aquecidas de carne bovina neste mês são os fatores que seguram os preços físicos da arroba em patamares altos. No entanto, em meados de outubro os animais do segundo giro de confinamento começam a ser ofertados. A expectativa é de que esta segunda rodada traga um volume maior de animais em comparação ao primeiro giro de confinamento. Esta perspectiva gera um viés de baixa para arroba futura.

Quanto às vendas externas, dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que, na parcial setembro (14 dias úteis), os embarques de carne bovina in natura já ultrapassaram 112 mil toneladas. A média diária das exportações de setembro é de 8,1 mil toneladas, ante 6,3 mil em agosto. Com isso, até o fim deste mês, o volume enviado ao mercado externo pode somar mais de 150 mil toneladas, um novo recorde.

“Esse forte ritmo dos embarques está atrelado ao elevado patamar do dólar, que torna a carne bovina brasileira mais competitiva no mercado externo”, avalia o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Na parcial de setembro, a tonelada média de carne exportada está em US$ 3.391,50 por tonelada, o menor valor desde março de 2016.

No entanto, Guimarães alerta que o volume de embarques de carne bovina no quarto trimestre é tradicionalmente menor que o exportado durante o terceiro trimestre do ano. Com isso, a contribuição da demanda externa para os preços da arroba tende a diminuir ao longo dos próximos meses, fator que ajuda a pressionar os valores da arroba na B3.

“Agora, o preço físico tem que se alinhar com o futuro. Em breve devem ocorrer correções negativas no físico ou positivas no futuro”, estima o analista da Agrifatto.

Ontem, valor à vista do indicador do boi gordo Esalq/BM&F ficou em R$ 151,40/arroba (+0,26%). A prazo, a cotação ficou em R$ 151,61/arroba (-0,15%). Segundo o Cepea, o índice acumulava alta de 2,86% na parcial do mês de setembro até a última terça-feira (25).

Levantamento da Scot Consultoria registrou ajuste positivo em 15 das 32 praças pecuárias pesquisadas no mercado físico. A arroba do boi gordo teve alta de 3,7% acumulada na média das cotações de todas as praças. Em Barretos (SP) e Araçatuba (SP), os valores ficaram estáveis em R$ 151,50 por arroba à vista e R$ 152,50 a prazo.

De acordo com a IEG FNP, o noroeste paulista tem arroba em R$ 152 para pagamento em 30 dias. As indústrias frigoríficas exportadoras que precisam adquirir lotes grandes e de qualidade estão pagando preços acima dos referidos em São Paulo. Essas negociações são fechadas em até R$ 153 por arroba livre de Funrural e, para a FNP, provavelmente os preços referenciais convergirão para esses patamares nos próximos dias.

No mercado atacadista, apesar da restrição na oferta da proteína, a desaceleração nas vendas do varejo impede elevações nos preços da carne bovina com osso. Na análise da Scot Consultoria, as referências fecharam estáveis ontem e a carcaça de bovinos castrados está cotada em R$ 10,05 por quilo. Já a FNP destaca o desempenho dos cortes dianteiros, que mantêm valores ligeiramente mais fortalecidos. O dianteiro do boi registrou alta de 1,19%, a R$ 8,50 por quilo. (Estadão)