O dólar voltou a bater recorde histórico nesta quinta-feira, chegando a se aproximar de 4,67 reais no pico do dia, com a moeda brasileira golpeada junto com outros ativos de risco em todo o mundo por persistentes temores relacionados ao coronavírus.
Mas o contexto local seguiu influenciando as cotações. O ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a normalizar a alta da moeda norte-americana, enquanto crescem críticas à postura do Banco Central diante da disparada do dólar a sucessivos recordes.
Somando uma oferta já programada e duas extraodinárias, o BC vendeu um total de 3 bilhões de dólares apenas nesta sessão em contratos de swap cambial tradicional. O swap é um derivativo que paga ao comprador a variação cambial acrescida de uma taxa de juros. Na prática, funciona como uma injeção de liquidez no mercado futuro.
“O mercado está aturdido. O BC apagou a fogueira com querosene”, disse no Twitter o sócio-fundador e gestor da SF2 Investimentos.
“Parece que é intencional. A atuação é tão ruim que parece que o BC quer o dólar mais alto”, afirmou um gestor que preferiu não ser identificado.
A alta do dólar se intensificou nesta semana conforme o mercado turbinou expectativas de cortes de juros pelo Banco Central, depois de a autoridade monetária ter emitido comunicado cujo conteúdo foi entendido por operadores como uma virada em relação ao discurso anterior de interrupção no ciclo de afrouxamento monetário.
Com isso, o mercado coloca no preço cenário de redução adicional do diferencial de juros entre o Brasil e o mundo, o que prejudica ainda mais a atratividade da renda fixa brasileira, turvando perspectivas de recuperação do fluxo cambial —portanto, sem melhora na oferta de dólar no país.
Nessa linha, dados fracos do PIB brasileiro do ano passado provocaram uma série de revisão para baixo nas expectativas para 2020, piorando ainda mais a percepção do Brasil como atrator de capital estrangeiro.
O dólar à vista fechou em alta de 1,54%, a 4,651 reais na venda, nova máxima histórica nominal para um encerramento.
A alta é a 12ª consecutiva. Apenas em março a moeda salta 3,79% e dispara 15,90% no acumulado de 2020.
Na B3, o dólar futuro de maior liquidez subia 1,02%, a 4,6390 reais.
Mas outras divisas de risco sofreram bastante nesta sessão. Rand sul-africano, peso colombiano e peso mexicano perdiam entre 1,7% e 2,3% ante o dólar, por exemplo, afetados pela turbulência nos mercados financeiros em geral diante da piora no sentimento por temores de impacto econômico do coronavírus ainda mais forte do que o temido inicialmente. (Reuters)