(Reuters) – A queda da Selic para mínimas recordes e a expectativa de que a taxa básica de juros atinja patamares ainda mais baixos até o fim do ano não são os únicos motivos para a mudança no “modus operandi” do Banco Central na forma de atuar no câmbio, mas certamente estão entre os mais básicos para essa alteração no modelo de intervenção, que passará a privilegiar o mercado à vista.

Tudo passa pela reviravolta na dinâmica dos fluxos no mercado de câmbio, sobretudo nas negociações do segmento spot —onde há demanda física por moeda.

A inédita perspectiva de que o juro mais baixo veio para ficar não apenas tem tornado menos interessante emissão de títulos em dólar por empresas brasileiras como também estimulado algumas delas a trocar passivos em moeda estrangeira por dívida com custo local.

Números do BC dão uma boa ideia desse novo “normal”. O saldo de títulos de dívida privada emitidos no país saltou cerca de 34% em 12 meses até junho. Já o estoque de papéis vendidos no exterior caiu na mesma proporção.

No mais recente exemplo da mudança de dinâmica, na véspera, a Petrobras (PETR4.SA) antecipou o pagamento integral de um contrato de financiamento com o China Development Bank (CDB) no valor de 3 bilhões de dólares, com vencimento previsto para 2024.

Esse quadro implica maior demanda por dólar físico por parte das empresas. Com isso, a liquidez no mercado spot cai, o que acaba gerando distorções que vão desde a taxa do casado (cupom cambial de curtíssimo prazo) até o caminho livre para a alta do dólar, que na véspera superou os 4 reais pela primeira vez desde maio.

Os números do fluxo cambial contratado expõem essa carência de liquidez. No acumulado dos sete primeiros meses do ano, o país teve déficit de 2,194 bilhões de dólares no fluxo cambial total (comercial mais financeiro), contra superávit de 29,184 bilhões de dólares no mesmo período do ano passado.

Não à toa, o BC justificou a mudança na forma de atuar no câmbio citando maior busca por liquidez no mercado à vista —e não no segmento futuro, onde tradicionalmente a demanda por “hedge” é maior e atendida pelos swaps cambiais.

MERCADO À VISTA X SWAP

O Banco Central explicitou suas razões para a alteração no modo de intervir no câmbio, mas isso não significa que as atuações no mercado à vista se tornarão tão frequentes quanto as via swap têm sido nos últimos anos.

Alguns analistas argumentam que o fluxo persistentemente negativo ao Brasil nos últimos meses é reflexo de um período de transição no qual o mercado se ajusta à realidade do juro baixo.

Por essa lógica, as saídas de dólares em algum momento estancariam. E mais do que isso: uma parcela importante do mercado acredita num ingresso firme de moeda estrangeira nos próximos meses conforme ganharem tração leilões de concessões, privatizações e de áreas do pré-sal.

O governo discute os termos de uma oferta de proteção cambial a esses investimentos, mas o que já se sabe é que esse “hedge” seria feito via swap cambial. Ou seja, com a esperada volta dos fluxos ao mercado à vista, a atuação do BC via swap poderá voltar a ganhar protagonismo num futuro próximo.