O Banco Central melhorou sua projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 a uma retração de 5,0%, sobre queda de 6,4% calculada em junho, e repetiu que há pouco ou nenhum espaço para cortar a Selic à frente, com a alta dos juros básicos sendo descartada desde que mantido o quadro para a inflação e para a disciplina das contas públicas, numa referência à regra do teto de gastos.
Os dados constam do Relatório Trimestral de Inflação do BC publicado nesta quinta-feira.
A nova expectativa para o PIB é um pouco pior que a estimativa oficial do Ministério da Economia, de um recuo de 4,7% para a atividade neste ano.
Para o ano que vem, o BC projetou uma alta de 3,9% para o PIB, mais otimista que o crescimento de 3,2% visto pelo Ministério da Economia.
Os agentes de mercado, por sua vez, preveem queda do PIB de 5,05% este ano e elevação de 3,50% no ano que vem, conforme boletim Focus mais recente.
No relatório, o BC pontuou que a despeito da derrocada do PIB no segundo trimestre, os indicadores disponíveis têm mostrado que a retomada após a fase mais aguda da pandemia de coronavírus, ainda que parcial, está ocorrendo mais rapidamente que o antecipado.
“Todavia, a heterogeneidade da recuperação entre os segmentos da atividade econômica continua sendo uma característica marcante”, ressalvou o BC.
A autarquia mudou pouco suas contas para o desempenho da agropecuária no ano, prevendo alta de 1,3%, sobre 1,2% antes. A maior alteração veio para a indústria, com o tombo revisado a 4,7% este ano, de queda de 8,5% anteriormente.
“A projeção para o crescimento da indústria extrativa foi alterada em virtude de impactos iniciais da pandemia da Covid-19 sobre a demanda por petróleo e minério de ferro menos intensos do que os previstos anteriormente”, disse o BC.
“A rápida recuperação de indicadores da indústria de transformação e da construção civil após recuo agudo no início do período de distanciamento social motivou as revisões no desempenho desses segmentos”, acrescentou.
Já para o setor de serviços o BC melhorou levemente a contração esperada este ano a 5,2%, de 5,3% em junho. Nesse caso, entretanto, o BC apontou para “alterações relevantes” nas estimativas para os componentes analisados.
“Destacam-se a melhora na previsão para o comércio, setor bastante relacionado à atividade industrial e ao consumo de bens pelas famílias e, em sentido oposto, os recuos esperados para outros serviços e, em especial, para administração, saúde e educação públicas”, disse.
Sob a ótica da demanda, a expectativa agora é de queda de 4,6% no consumo das famílias (-7,4% antes) e de 6,6% nos investimentos (-13,8% antes). Para o consumo do governo, a perspectiva piorou a uma retração de 4,2%, ante crescimento de 0,2% calculado no relatório de junho.
A autoridade monetária destacou que a nova projeção para o PIB deste ano considera “crescimento acentuado” no terceiro trimestre, com ajuda das medidas do governo para o enfrentamento aos impactos econômicos do surto de Covid-19.
Para os últimos três meses do ano, o BC reconheceu “incerteza acima da usual sobre o ritmo da recuperação” e apontou expectativa de arrefecimento na alta do PIB, em parte pela diminuição das transferências às famílias.
O governo estendeu até o fim do ano a concessão do auxílio emergencial a informais e vulneráveis, seu programa mais vultoso para a crise, mas cortou o valor do benefício mensal a 300 reais de setembro a dezembro, ante 600 reais distribuídos entre abril e agosto.
Em relação à estimativa para o PIB em 2021, o BC ressaltou haver incerteza acima do usual para a projeção, e disse que a perspectiva está condicionada à continuidade das reformas e manutenção do teto de gastos, pressupondo também o arrefecimento da pandemia, “com gradativa elevação da mobilidade e volta progressiva aos padrões de consumo vigentes antes do período de distanciamento social”.
POLÍTICA MONETÁRIA E INFLAÇÃO
Na semana passada, o BC manteve a Selic em sua mínima histórica de 2% ao ano após nove cortes consecutivos. Desde então, a autoridade monetária vem reforçando em suas comunicações que o espaço para reduzir ainda mais os juros, se existente, deve ser pequeno — o que repetiu no relatório.
O BC também reiterou que, apesar de uma assimetria em seu balanço de riscos para a inflação para o lado altista, não pretende subir a Selic a menos que o cenário para o avanço de preços na economia ou o regime fiscal sejam modificados.
Quanto à inflação, o BC explicitou ver nos próximos meses alta relevante dos preços livres, com pressão sobre o preço de alimentos e reversão da queda em serviços.
“O aumento dos índices de mobilidade deve resultar em elevação de preços que ainda estão deprimidos, como os de passagem aérea, hospedagem, alimentação fora do domicílio e vestuário”, disse.
Em contrapartida, os preços administrados devem sofrer “variação contida”. Dentro desse grupo, o BC destacou o recuo que será registrado nas tarifas de plano de saúde em setembro, refletindo a suspensão dos reajustes no ano de 2020, e a projeção de redução no preço da gasolina a partir de outubro.
No curto prazo, o BC vê alta do IPCA de 0,40% em setembro, 0,30% em outubro e 0,27% em novembro. A inflação acumulada em 12 meses deve então cair de 2,85% em novembro para cerca de 2,1% em dezembro, “com o descarte da alta atipicamente elevada observada em dezembro de 2019, na esteira do choque nos preços das carnes”.
Nos quatro cenários traçados pelo BC para a inflação neste ano e nos próximos, o IPCA ficou confortavelmente longe das metas em 2020 e 2021, mas passou ou se aproximou bastante da meta de 2022, ultrapassando-a em todos os casos em 2023.
As metas de inflação são de 4% este ano, 3,75% no ano que vem, 3,5% em 2022 e 3,25% em 2023, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos.
Atualmente, o horizonte relevante para a política monetária inclui 2021 e, em menor grau, 2022, sendo que o BC avalia que “diversas medidas de inflação subjacente permanecem abaixo dos níveis compatíveis com o cumprimento da meta”, conforme pontuou no relatório. (Reuters)