(Reuters) – O Banco Central manteve nesta quarta-feira a taxa de juros no piso histórico de 6,50 por cento ao ano e indicou que, diante da retomada econômica abaixo da esperada, o balanço de riscos para a inflação tem pesos iguais tanto para cima quanto para baixo.

A decisão, a primeira com Roberto Campos Neto no comando da autoridade monetária, tira o impedimento explícito que o BC vinha apontando para possivelmente diminuir os juros à frente. Mas o Comitê de Política Monetária (Copom) assinalou que seguirá atento ao desenrolar da atividade econômica, o que tomará tempo.

“O Comitê julga importante observar o comportamento da economia brasileira ao longo do tempo, com menor grau de incerteza e livre dos efeitos dos diversos choques a que foi submetida no ano passado. O Copom considera que esta avaliação demanda tempo e não deverá ser concluída a curto prazo”, diz o comunicado que acompanhou a decisão.

O BC excluiu o trecho que apontava maior peso para fatores que na sua avaliação podem pressionar a inflação para cima: eventual frustração sobre a continuidade das reformas econômicas e deterioração do cenário externo para países emergentes.

“O Comitê avalia que o balanço de riscos para a inflação mostra-se simétrico”, afirmou.

O BC indicou no documento que o risco de o nível de ociosidade na economia produzir perspectiva de inflação abaixo do esperado se equiparou ao peso contrário dos demais.

“O comunicado revelou um tom mais ‘dovish’ (inclinado ao afrouxamento dos juros) para a política monetária, pavimentando o caminho para uma possível redução da Selic, embora não no curto prazo”, avaliou em nota o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman.

Em pesquisa Reuters, os 21 economistas consultados esperavam que o BC manteria a Selic, o que ocorreu pela oitava reunião consecutiva do colegiado.

Apesar de a Selic estar parada há um ano neste nível, a economia segue penando para ganhar tração, e a inflação continua em território confortável, cenário que vem embalando tanto apostas de aperto monetário mais demorado e suave à frente quanto de eventual corte nos juros para estimular a atividade.

O BC avaliou no comunicado que indicadores recentes da atividade econômica “apontam ritmo aquém do esperado”, mas manteve a indicação de que usará cautela, serenidade e perseverança para conduzir a política monetária.

Para Rodolfo Margato, economista do Santander Brasil, o documento referenda a projeção do banco de manutenção da Selic em 6,50 por cento ao ano até pelo menos meados de 2020.

Mas ele reconheceu que a persistência de dados fracos de atividade pode fortalecer no mercado o debate sobre o espaço para novos cortes da Selic.

A ideia é “low for longer” (juros baixos por mais tempo), afirmou Margato.

Já o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira, ponderou que, com a simetria de riscos agora apontada, nada impede que o BC possa em algum momento reduzir a taxa de juros.

“Tenho expectativa que a gente deve terminar o ano com Selic mais próxima de 6 ou em 6 do que 6,5 por cento. Acho que passando a reforma (da Previdência) no segundo semestre, a gente vai ter duas reduções da taxa de juros, iniciando em agosto ou setembro”, disse.

Na pesquisa Focus mais recente com uma centena de economistas, a expectativa segue de que a Selic fechará 2019 em 6,5 por cento, mas a visão é de que subirá menos em 2020, a 7,75 por cento, ante previsão anterior de 8 por cento.

Em pesquisa Reuters, dos 18 economistas que deram uma perspectiva para 12 meses, sete disseram que o viés para os juros é neutro, enquanto sete disseram ser de alta e quatro afirmaram ser de baixa.

Apesar de a inflação ter surpreendido para cima em fevereiro, no acumulado em 12 meses o IPCA atingiu 3,89 por cento, ainda distante do centro da meta oficial para 2019 de 4,25 por cento, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

No comunicado desta quarta, o BC manteve a projeção de inflação para 2019 pelo cenário de mercado, a 3,9 por cento, mesmo percentual calculado na reunião do Copom de fevereiro. Para 2020, a estimativa se manteve em 3,8 por cento, abaixo da meta de 4 por cento, com banda de tolerância de 1,5 ponto.

Sobre o cenário externo, o BC assinalou que desde a última reunião do Copom, em fevereiro, os riscos ligados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas recuaram. Em contrapartida, subiram os riscos associados a uma desaceleração da economia global, em função de diversas incertezas.

Também nesta quarta-feira, o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, manteve o juro básico do país e sinalizou que não aumentará taxas neste ano.