Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto

 

No início de 2017, a colheita da soja refletiu em queda dos seus preços (destacado pelo tom verde no gráfico 1), caindo em maior intensidade em MG (pela relação de oferta e demanda deste estado).

Na sequência, as cotações sustentaram-se e recuperaram patamares mais altos, na medida em que o mercado se encaminha para a entressafra (além das exportações que ganham fôlego no primeiro semestre).

Por fim, a pressão positiva mais forte no segundo semestre se dá por menor disponibilidade da matéria-prima. Os atrasos no início da semeadura e previsões climáticas apontando para ocorrência da La Niña, alimentaram maior especulação climática com alta forte dos preços.

 

Já em 2018 os preços subiram entre janeiro e fevereiro (especialmente em Paranaguá), e ainda com maior intensidade a partir de março pela escalada comercial entre EUA e China.

A quebra da safra Argentina foi o primeiro fator a fortalecer as cotações nos dois primeiros meses do ano (gráfico 2).

Na sequência, a elevação das ameaças comerciais entre EUA e China (com o país asiático reduzindo drasticamente as importações dos EUA) elevaram o prêmio a níveis historicamente altos (gráfico 3).

O prêmio é composto pela condição de oferta e demanda brasileira, calculado a partir do ágio ou deságio sobre as cotações da Bolsa de Mercadorias de Chicago (CBOT).

Enquanto a CBOT reflete a relação de oferta e demanda norte-americana.

Deste modo, os prêmios nos portos brasileiros somados a cotação em Chicago formam o preço free on board (FOB), que descontado o frete, e combinado com a relação de oferta e demanda de cada estado, precificam a soja nas diferentes regiões produtoras brasileiras.

Além disso, os prêmios são negociados previamente entre tradings e compradores internacionais, e, entre outros fatores, considera-se também o destino da matéria-prima, a qualidade, a eficiência logística e o câmbio.

Na prática, com a guerra comercial entre EUA e China, os embarques norte-americanos para o país asiático caíram drasticamente.

Associado ao dólar elevado (que pressiona negativamente os ativos das bolsas norte-americanas), o valor da soja na CBOT derreteu nos últimos meses (gráfico 4).

Se por um lado a menor demanda chinesa pela soja norte-americana recuou os valores na CBOT, por outro lado, com a China voltando-se ao produto brasileiro, os prêmios se elevam na mesma medida, mantendo as cotações internas fortalecidas.

 

Perspectivas

As quedas em Chicago acontecem em menor intensidade, alcançando patamares convidativos a compra de contratos, com possível reajuste dos valores no curto prazo. E ainda, os atuais patamares não estimulam a venda pelo agricultor norte-americano.

A soja norte-americana mais barata, também amplia o interesse de outros mercados consumidores pelo produto.

Enquanto a China anunciou que deve cortar suas importações de soja aos patamares de 2016/17.

Os fatores acima devem limitar novas quedas para a soja dos EUA e oferecer alguma sustentação em Chicago.

Além disso, o mercado indica já ter precificado boa parte da guerra comercial, e a volatilidade ficará agora por conta do clima nos EUA (até o momento o clima é positivo para o desenvolvimento da safra, o que por sua vez, limita movimento de alta na CBOT).

Por outro lado, a escalada da tensão comercial deve prolongar as exportações brasileiras que sazonalmente perdem fôlego no segundo semestre, e assim, os prêmios nos portos e os preços domésticos deverão continuar fortalecidos no médio prazo (ainda que os prêmios possam sofrer ajustes).

Existem ainda outros pontos no radar, como o atraso na entrega de fertilizantes que pode estender o período de semeadura da nova temporada de grãos, imprimindo maior risco aos preços. Além da relação cambial que deverá continuar em alta e promover apreciação da soja.

O tabelamento dos fretes mantém travadas as negociações de balcão, com foco nas entregas de contratos negociados anteriormente (a menor liquidez também oferece sustentação ao mercado).

Em resumo, a volatilidade (e o risco) devem continuar altos no curto prazo. No médio prazo as cotações deverão continuar positivamente pressionadas, com o mercado futuro indicando apreciação para o valor da soja brasileira.

E ainda, com a entressafra aproximando-se, a diferença de preços entre Minas Gerais e a referência de Paranaguá deve ficar menor, com os valores também subindo em maior intensidade no interior do país.