Reportagem publicada pelo portal australiano Beef Central aponta o Brasil como um novo e fortíssimo concorrente da Austrália no mercado de exportação de animais vivos do Vietnã.
Segundo a matéria, os exportadores brasileiros receberão, em breve – “possivelmente até dezembro deste ano” –, o sinal verde para iniciar a comércio de gado em pé ao mercado vietnamita. A entrada da mercadoria brasileira, diz o texto, poderá impactar “o forte e importante comércio de gado vivo entre a Austrália e o país do sudeste asiático”.
“As exportações de gado vivo do Brasil claramente têm o potencial de atrapalhar significativamente o que se tornou um grande e valioso comércio de gado vivo para a Austrália”, sentencia a matéria.
Atualmente, o Vietnã é o segundo maior cliente da Austrália no setor de exportação de animais vivos. No período de janeiro a setembro deste ano, os embarques australianos para o mercado vietnamita subiram 30%, para 181.598 cabeças, em relação ao mesmo período do ano passado. No acumulado dos últimos 12 meses, o aumento chega a quase 40%, totalizando 244.418 cabeças.
A grande maioria (80%) do gado vivo australiano exportado para o Vietnã são bovinos prontos para abate. O restante (20%) da remessa é direcionada para engorda, para atingir o peso ideal de abate nos estabelecimentos locais.
Nos últimos anos, os exportadores australianos investiram pesado na construção de relações comerciais com clientes vietnamitas, fortalecendo padrões de bem-estar e a sua capacidade de fornecimento de animais vivos. No entanto, alerta a reportagem da Beef Central, “parece provável que os exportadores brasileiros poderão competir com os australianos em preço quando entrarem no mercado do Vietnã”.
Em comparação a Austrália, o Brasil mantém maiores distâncias de frete e, consequentemente, custos mais altos de transporte para o Vietnã, além enfrentar um imposto de importação de 5% sobre o gado. Porém, ressalta a matéria, o gado vivo brasileiro “está mais barato, em grande parte devido a um declínio significativo em sua moeda em relação ao dólar (elevando a competitividade dos exportadores brasileiros).
Outro ponto-chave, continua a reportagem, é que, nos últimos anos, os exportadores australianos passaram a conviver com custos mais altos depois que fortaleceram os padrões de bem-estar animal. O Brasil, segundo dados da Beef Central, embarcou 527.000 bovinos para o Oriente Médio nos últimos 12 meses.
O gerente de serviços de pecuária da Meat & Livestock Australia (MLA) – Sudeste Asiático, Michael Patching, disse que há pouca dúvida de que o Brasil, em breve, terá acesso ao mercado de gado vivo do Vietnã. Diante dessa iminente participação brasileira, Patching acredita que a indústria australiana terá que se apoiar em seu principal diferencial de mercado, que é a qualidade e a padronização na entrega de sua mercadoria.
Os exportadores australianos e os programas apoiados pela indústria local têm investido em treinamento e infraestrutura para apoiar os proprietários de matadouros no Vietnã, com objetivo de aumentar o rendimento em seus frigoríficos e, assim, construir negócios mais sustentáveis. “Muitos matadouros do Vietnã que estavam processando apenas cinco a dez bovinos por dia há cinco anos, agora estão matando 50 cabeças/dia – alguns deles lidando com até 200 cabeças/dia”, ilustra a reportagem.
Mas o Brasil pode pegar carona no trabalho duro que a Austrália fez no mercado de animais vivos do Vietnã nos últimos anos?, indaga o texto da Beef Central. “Se estivéssemos sempre preocupados com alguém pegando carona no bom trabalho que você faz, você não faria nenhum trabalho”, disse Patching. (Portal DBO)