Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto
Nos últimos meses, o mercado tem olhando com atenção para um indicador importante: a curva de juros norte-americana, já que a comparação entre as taxas de juros dos contratos com vencimentos mais longos ou mais curtos dá luz à capacidade do mercado de precificar o risco de mercado em prazos diferentes.
Em outras palavras, a comparação é feita entre os contratos de juros de prazos mais curtos em relação àqueles com vencimentos mais longos.
Afinal, se presume que quanto mais longos são os vencimentos, maior é o risco embutido e, assim, maiores deveriam ser as suas taxas de juros. A questão é que este cenário nem sempre acontece.
Mas voltando ao mercado agro, sabemos que os preços das matérias-primas possuem sazonalidade e que os contratos mais longos das commodities em bolsa não precisam ser obrigatoriamente mais valorizados.
Por isso que o objetivo desta análise será comparar a diferença de preços entre os contratos futuros do milho, combinando-os com os riscos do mercado.
Observe pelo gráfico 1 como há períodos em que a diferença de preços entre os contratos de milho se amplia (exemplificado pela seta preta), e em outros momentos essas cotações se aproximam (seta vermelha).
De modo diferente, o gráfico 2 também ilustra como essa diferença entre os contratos se comporta, complementando ainda com uma relação com o indicador do CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
Observe que quando a referência da Esalq se valoriza, na esteira, os contratos futuros são reajustados para cima, especialmente os vencimentos mais curtos. E assim, a diferença de preços entre eles também avança. Na sequência, os contratos se ajustam e aproximam novamente os seus valores.
E essa relação ajuda a entender o que está acontecendo na bolsa atualmente. Após uma combinação de fatores que pressionaram para cima os valores na B3 (antiga BM&F) em dezembro, os contratos futuros passam agora por correções para baixo.
Mas nesta semana, as quedas já acontecem em menor intensidade e com um menor volume de contratos negociados, especialmente para os vencimentos mais longos (gráfico 3).
E além da análise gráfica, a conjuntura também aponta para preços do cereal sustentado em 2019, já que a perspectiva é de demanda doméstica aquecida, além do avanço das exportações do cereal.
Outro importante destaque fica para o atual período mais seco e com temperaturas altas, gerando especulação climática e maior volatilidade aos preços.
Aliás, o risco pelo clima é o que mantém o cenário de preços firmes no curto prazo, refletindo preços de balcão com graduais reajustes positivos pelo país.
Em resumo, o cenário de preços para o cereal deve seguir volátil. As variações expressivas acontecem pela combinação de riscos neste momento com a perspectiva de demanda aquecida.
E sendo a safrinha o principal período de oferta desta matéria-prima, o equilíbrio de preços do cereal deve se alterar à medida em que o efeito do clima sobre as lavouras também se confirmar.
Ou seja, se a atual projeção de produção em 91,20 milhões de toneladas se concretizar, então as cotações do milho recuam em maior intensidade. Mas se essa estimativa for se ajustando nos próximos meses, as cotações do cereal devem registrar nova pressão positiva.
Não vai faltar volatilidade!