Enquanto o Brasil aguarda a vinda de uma missão sanitária dos EUA para avaliar uma possível reabertura do mercado norte-americano à carne bovina in natura (embargada desde julho de 2017), a Argentina faz o caminho inverso, levando nesta terceira semana de março uma comitiva “comemorativa”, com viés estratégico, para a terra do presidente Donald Trump.
O motivo da viagem portenha é exatamente o oposto da atual pauta de negociação entre Brasil e EUA: trata-se de um encontro institucional para festejar o retorno de sua carne bovina à mesa dos consumidores norte-americanos, depois de 17 anos de bloqueio, ocasionado por um surto de febre aftosa em 2001.
Na noite de ontem (quarta-feira), enquanto a delegação brasileira liderada por Jair Bolsonaro retornava dos EUA de mãos vazias em relação à resolução do atual impasse envolvendo à carne bovina brasileira in natura (embargada há quase dois anos por problemas de abcessos provocados pela vacina contra aftosa), a comitiva argentina participava de um jantar descontraído ao lado de importadores e funcionários do governo norte-americano, na Embaixada da Argentina em Washington.
Na agenda desta quinta-feira, a delegação argentina participa de uma série de eventos e reuniões na capital norte-americana. Integram a comitiva lideranças como Ulises Forte e Mario Ravettino, presidente e vice-presidente, respectivamente, do Instituto de Promoção da Carne Argentina (IPCVA), além de representantes dos frigoríficos Rioplatense, Swift, Quickfood e da indústria brasileira Marfrig, que conta com subsidiária no país vizinho.
Em novembro do ano passado, o Serviço de Inspeção e Segurança Alimentar (FSIS), do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), tornou oficial a entrada da carne bovina argentina no mercado norte-americano. Foi autorizada a importação de todos os cortes de carcaça, desossados.
Em Washington, Ulises Forte, presidente do Instituto de Promoção da Carne Argentina, disse que, embora o acordo para exportação de carne bovina envolva, por enquanto, apenas a remessa de 20 mil toneladas/ano (sem tarifas), além da questão comercial, o importante é que, depois de 17 anos, o seu pais conseguiu novamente fincar os pés no maior mercado consumidor do mundo. Conforme balanço no Anuário DBO 2019, os EUA importaram em torno de 1,3 milhão de toneladas equivalente-carcaça de carne bovina, à frente da China, Japão e Hong Hong.
“Trata-se de um país que busca sobretudo carne magra para hambúrgueres, mas também trabalha com nichos gastronômicos de alto valor, além de sua grande influência sobre outros mercados consumidores, que muitas vezes são uma espécie de espelho dos EUA”, ressalta Forte.
Nesse sentido, continua o presidente da IPCVA, voltar aos Estados Unidos significa colocar a carne argentina “no topo da gôndola dos supermercados do mundo, criando possibilidades de abertura para outros mercados, tais como México, países da América Central, além de fortalecer as esperanças de alcançar destinos igualmente importantes, como a Coreia e o Japão. (DBO)