Por Gustavo Rezende Machado, consultor da Agrifatto.

Oferta internacional

A oferta de milho no mercado internacional apresenta recorde de produtividade pelos três principais produtores mundiais: Estados Unidos, Brasil e Argentina. Proporcionando pressão de preços mais baixos. Assim como as relações comerciais no mercado nacional também têm tido a mesma influência pela alta expectativa da safra.

Nesse contexto, de acordo com USDA, a expectativa de produção mundial indica valores de 1.067,21 bilhão de toneladas, com os estoques mundiais somando 224,59 milhões de toneladas. A Argentina tem previsão de produção de 40 milhões de toneladas e exportações próximas a 27,5 milhões de toneladas (USDA), esse valor porém pode reduzir-se próximo a 39 milhões de toneladas em decorrência do excesso de chuvas durante o período da colheita, a qual até o momento dessa análise contava com 48,6% da área colhida. Os valores de exportação para os Estados Unidos também seguem em ritmos crescentes, conforme o relatório semanal de exportações do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o país embarcou 55,146 milhões de toneladas de milho durante a temporada de 2016/17. Ainda sobre o cenário norte-americano, informações sobre melhores condições climáticas pressionam os preços negativamente em bolsa, momento em que a concretização de oferta do cereal reduziu as cotações do dia 23 de junho para 3,58 e 3,85/bushel para os contratos de julho/17 e março/18 respectivamente. O gráfico 1 a seguir, ilustra o movimento baixista dos últimos dias.

Nota-se de acordo com o gráfico, queda a partir do dia 19 de junho, sustentadas principalmente pelas previsões climáticas norte-americanas, quando a maior confiança de que a produção não deve ser prejudicada por excesso de chuvas durante o plantio e que as condições serão adequadas durante o período de florescimento e polinização, conferem segurança na quantidade a ser ofertada pela nova safra americana, causando efeitos diretos nos preços do milho em cotações da CBOT.

Cenário Brasileiro

No Brasil a colheita da safrinha de milho começa a avançar, de acordo com matéria publicada pelo Reuters do dia 23 de junho, a média brasileira é de 9,3% de área colhida. O Mato Grosso em melhores condições para a operação, conta com a maior porcentagem, próximo a 21,3% de área colhida. Em Goiás, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais a colheita apresenta-se ainda no início, mas ainda na frente do Paraná com menos de 1% da área colhida, limitada ainda pela alta umidade da região, por fim, o estado de São Paulo ainda não iniciou o processo de colheita do cereal.

O mercado doméstico para comercialização da safra do milho vem sofrendo pressão para preços mais baixos nas últimas semanas, por cotações baixistas na Bolsa de Mercadorias de Chicago e pela expectativa de colheita superior a 97 milhões de toneladas de acordo com o relatório de junho do USDA. O Brasil que também deve contar com uma produção significativamente melhor quando comparada a safra de 2015/16, visto as dificuldades climáticas enfrentadas na safra passada que prejudicou a produção de cereal do país, encontra nesse ano cotações que desestimulam a comercialização pelos produtores, esse cenário é reiterado pelo Cepea, o qual destaca a influência da expectativa de oferta recorde da safra como principal fator a pressão de preços mais baixos. Por fim, a previsão inicial levantada pela Conab no primeiro boletim de acompanhamento realizado em outubro de 2016, confirma a boa qualidade dos campos brasileiros, quando na época a previsão era de 83.809,8 milhões de toneladas, aproximadamente 13 milhões de toneladas a menos que o mercado deve receber de oferta de milho.
O Imea divulgou para o mês de junho no estado do Mato Grosso cotação em torno de R$ 14,51 por saca, pressionado especialmente pela entrada do cereal no mercado. Além disso, a quantidade exportada do estado para o acumulado até maio foi de 1.489,587 toneladas, significativamente inferior ao mesmo período do ano passado, quando foi de 7.267,615 toneladas. Ainda sobre o baixo volume de negócios, o Cepea divulgou em nota do dia 19 de junho que a baixa liquidez sustenta-se especialmente por três fatores: 1. Produtores retraídos com os baixos preços praticados; 2. Preferência pela exportação e 3. Baixo volume de milho entrando no mercado. Por outro lado, a retração dos produtores sustentam melhores preços no mercado interno, já que empresas que demandam o grão com entrega imediata acabam por negociar valores mais altos, dessa forma, nas regiões analisadas pelo CEPEA, as cotações de milho seguiram-se praticamente estáveis, com retração durante o período de 9 a 16 junho de -0,3%.

Na quinta-feira, dia 04 de maio, foi anunciado pela Conab a primeira operação de apoio à comercialização. Foram oferecidas três formas de comercialização com garantia de preços e especificidades quanto ao destino. As modalidades se dividem em opções de contratos de venda (7,4 mil contratos no valor de R$ 17,87 a saca de 60 kg), Pepro (Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural) e Pep (Prêmio para o Escoamento). Os prêmios vão atender 200 mil toneladas de milho, com valores que variam de acordo com a região. A região norte do Mato Grosso teve o valor do prêmio de R$ 3,40, centro-norte de R$3,07 e centro-sul e nordeste do estado a R$ 2,41 (o valor pode variar durante as operações de acordo com a disputa). No dia 22 de junho, duas operações foram concluídas: No leilão do Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro), foram negociados 948,32 mil toneladas, correspondendo a 94,83% do total ofertado; Enquanto o Prêmio para o Escoamento (PEP), colaborou para a comercialização de 200,48 mil toneladas de milho, abrangendo 60,75% do total oferecido.

As cotações dos preços de milho atualizadas para o dia 23 de junho, apresentam-se menores para o estado do Mato Grosso, onde existe maior oferta e menor demanda, resultando em mínima de R$ 11,00/sc em Sorriso e máxima de R$ 17,50 em Itiquira. Na região sul os valores apresentam média de R$ 21,35/sc. Campinas/SP conta com média de R$ 26,25/sc, enquanto o porto de Paranaguá tem melhor preço, no valor para setembro de 2017 de R$ 28,50.

Considerações finais

Os preços devem presenciar quedas conforme a colheita da segunda-safra de milho oferte mais cereal ao mercado interno, enquanto que a operação da Conab de comercialização de milho pode colaborar para assegurar melhores preços aos produtores nacionais, apesar de provavelmente não resolver como um todo a comercialização da alta oferta que deve se concretizar esse ano. Com as ofertas altas dos Estados Unidos e Argentina, somados a expectativa de produção recorde pelos estados brasileiros, os preços não devem apresentar altas consideráveis. O aumento cambial juntamente com as incertezas climáticas norte-americanas, trouxeram uma janela de melhores negócios e alto volume negociado, porém, com a safra americana sinalizando melhores condições para o cultivo, quedas na bolsa foram expressivas durante as últimas semanas de junho. A expectativa otimista a curto prazo seria de altas na CBOT pelas dúvidas climáticas durante a safra americana e juntamente com o câmbio mais elevado possibilitaria negócios com melhores margens aos produtores brasileiros. Com as altas exportações, os preços internos também seriam beneficiados pela menor oferta no mercado interno. Por outro lado, a safra norte-americana pode confirmar-se com índices satisfatórios, em que mesmo os volumes de milho nacionais exportados, não sejam suficientes para alavancar as cotações no mercado interno conforme a colheita da segunda-safra avance.

Referências

Canal Rural, Produção brasileira de grãos deve superar expectativas. Disponível em: <http://www.canalrural.com.br/noticias/agricultura/producao-brasileira-graos-deve-superar-expectativas-67209>. Acesso em 04 de maio de 2017.

Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, Retração vendedora sustenta cotações – Liquidez continua baixa. Disponível em: <http://www.cepea.esalq.usp.br/br/milho-cepea-retracao-vendedora-sustenta-cotacoes-liquidez-continua-baixa.aspx>. Acesso em 23 de maio de 2017.

Companhia Nacional de Abastecimento, Acompanhamento da Safra Brasileira – Leilões públicos negociam apoio à comercialização de milho de Mato Grosso – Disponível em: <http://www.conab.gov.br/imprensa-noticia.php?id=43925>. Acesso em 04 de maio de 2017.

Companhia Nacional de Abastecimento, Acompanhamento da Safra Brasileira – Primeiro levantamento – Disponível em: <http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/16_10_21_15_32_09_safra_outubro.pdf>. Acesso em 03 de maio de 2017.

Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária, Boletim Semanal do Milho, 19/06/2017. Disponível em: <http://www.imea.com.br/upload/publicacoes/arquivos/19062017205003.pdf>. Acesso em 23 de maio de 2017.

Integrada, Cooperativa Agroindustrial, Economia: Cotações de hoje com gráficos e tabelas. Disponível em: <http://www.integrada.coop.br/cotacoes/cbot_milho/milho_cbot.xhtml>. Acesso em 23 de maio de 2017.

Notícias Agrícolas, USDA: Embarques semanais de soja e milho dos EUA ficam acima das expectativas. Disponível em: < https://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/usda/190877-usda-embarques-semanais-de-soja-e-milho-dos-eua-ficam-acima-das-expectativas.html>.Acesso em 04 de maio de 2017.

Portal do Agronegócio, Argentina prevê exportação recorde de milho em 2017/18. Disponível em: <http://www.portaldoagronegocio.com.br/noticia/argentina-preve-exportacao-recorde-de-milho-em-2017-18-157973>. Acesso em 04 de maio de 2017.

United States Department of Agriculture, World Agricultural Supply and Demand Estimates. Disponível em: <https://www.usda.gov/oce/commodity/wasde/latest.pdf>. Acesso em 23 de maio de 2017.