Por Gustavo Rezende Machado, consultor da Agrifatto.
Na análise do processo de precificação dos produtos e subprodutos da cultura da soja, muitos fatores se relacionam exercendo influência sobre os custos e preços. Os fatores que serão abordados em mais detalhes nos próximos itens são: relação de oferta e demanda, estoques mundiais, variação do câmbio, Bolsa de Mercadorias de Chicago e custos de produção. Dessa forma, objetiva-se nessa introdução realçar a importância da cultura como commodity agrícola e seus principais players.
O documento elaborado pela Embrapa (HIRAKURI, M. H. & LAZZAROTTO, J. J. 2014) ressalta a importância do complexo soja no cenário mundial como um importante gerador de riquezas, divisas e empregos, envolvendo nesse cenário um grande número de empresas e profissionais para o desenvolvimento de soluções técnicas e relações de comércio da commodity agrícola. Para o cenário mundial de soja, o boletim mensal do USDA divulgado em 9 de junho apresenta para a safra de 2016/2017 produção de 351,31 milhões de toneladas e área plantada de 120,958 milhões de hectares, no qual há destaque para três países: Estados Unidos com produção de 117,22 milhões de toneladas e uma área plantada de 33,75 milhões de hectares (USDA, Jun./17). Brasil com produção de 113,923 milhões de toneladas e área plantada de 33,889 milhões de hectares, segundo o 9° levantamento de safra da CONAB. Por fim a participação da Argentina com previsão de produção em 57,8 milhões de toneladas e área plantada de 18,05 milhões de hectares.
No Brasil, podemos ainda ressaltar a importância dos estados do Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul, como respectivamente os três maiores produtores da oleaginosa no país. O estado do Mato Grosso segundo o 9° levantamento de safra da CONAB, foi responsável pela produção recorde de 30,514 milhões de toneladas (produtividade média de 3.273 kg por hectare ou 54,55 sacas de 60kg). Os estados do Paraná e Rio Grande do Sul, apresentaram produção de 19.533 e 18.713 milhões de toneladas respectivamente.
Cenário Brasileiro
A oferta de soja tem atingido valores recordes de produção e exportação a cada ano pelos principais produtores mundiais. As exportações brasileiras segundo o relatório do USDA está em valores próximos a 62,4 milhões de toneladas para a safra 2016/17. O início das exportações em fevereiro mostraram-se em níveis otimistas com aumento de 72% em relação ao mesmo período do ano anterior (Secex) e seguiram-se em valores superiores aos mesmos períodos do ano anterior. Para março o complexo soja respondeu a 46,5% de todas as exportações do agronegócio; Em abril houve exportação de 10,4 milhões de toneladas, e assim concentrando nos quatro primeiros meses 40% de todo o volume previsto para embarques no ano (Reuters, Mai./2017). Para o mês de maio uma nova alavancagem nas exportações, resultado da safra recorde e também do elevado aumento cambial em consequência do cenário político brasileiro, na qual correspondeu por 48,8% das atividades do agronegócio no mês com 10,96 milhões de toneladas. Espera-se que apenas o Mato Grosso represente 36,6% do total de exportações (16,86 milhões de toneladas). O relatório semanal do Imea de 16 de junho, acrescenta que o acumulado para 2017 encontra-se no momento em 11,46 milhões de toneladas.
O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) ressalta a pressão baixista durante a temporada pela alta oferta do grão. A excelente safra nos principais países produtores e reforçado ainda pelos altos estoques sinalizam ao mercado poucas chances de faltar soja a cadeia produtiva. Porém, como elucidado acima, a alta demanda durante os primeiros meses do ano delimitaram as quedas nos preços e favoreceram também a comercialização de farelo e óleo de soja. Além disso, outros fatores importantes segundo o Cepea para valorização dos preços relacionam-se as chuvas no período de colheita da safra Argentina, incertezas climáticas nos Estados Unidos (excesso de chuvas no início da semeadura da nova safra e incertezas climáticas para o estabelecimento e desenvolvimento da cultura) e por fim valorização cambial a partir do dia 18 de maio que estimularam a comercialização.
Cenário Norte-Americano
Segundo o último relatório do USDA, a projeção de exportação dos Estados Unidos apresentaram-se em 55,79 milhões de toneladas. Por outro lado, o relatório semanal de exportações indicam valores de 58,93 milhões de toneladas, e considerando que o ano comercial norte-americano estende-se até 31 de agosto, possivelmente novos embarques acontecerão, resultando em atualizações de projeção em um novo relatório do USDA com provável redução dos valores de estoques. Dessa forma, os altos valores de exportação reiteram não só a forte demanda, mas também a alta oferta mundial por parte dos Estados Unidos, auxiliada por boas condições climáticas durante a safra e assim com valores de produção elevados: 117,22 milhões de toneladas, área plantada igual a 33,75 milhões de hectares, produtividade média de 3.501kg/ha (58,35 sacas de 60kg) e assim uma variação positiva da produtividade de 9.68% em comparação com a safra anterior. Por fim, os estoques americanos elevaram-se de 5,35 para 12,26 milhões de toneladas.
O mercado encontra-se agora no começo da safra norte-americana após recorde de produção e estoques elevados. Logo no início da nova safra, houve no mês de abril um excesso de chuvas que comprometeram o cronograma de semeadura, resultando em oportunidade para os produtores brasileiros de provável alta nos preços pela especulação por incertezas climáticas no país. Porém, a alta capacidade operacional possibilitou o plantio da soja, que encontra-se até o momento da elaboração dessa análise em 96% concluído, no qual segundo o relatório semanal de acompanhamento de safras do USDA, 67% das lavouras apresentam-se em boas ou excelentes condições (no mesmo período do ano anterior, 73% das áreas apresentavam a mesma condição). Além disso, 26% das áreas estão em situação regular e 7% em condições ruins ou muito ruins.
No momento, as incertezas sobre o clima para os próximos dias representam o principal fator de influência nas cotações expressadas pela CBOT. Uma vez que o clima seco e chuvas que não satisfaçam a necessidade hídrica para o estabelecimento e desenvolvimento inicial da cultura poderá afetar diretamente a oferta da commodity. Além disso, o período que compreende o início da fase reprodutiva (floração e formação das vagens) é essencial para a análise do potencial produtivo da soja, quando a falta de chuvas nesse momento pode resultar no abortamento de estruturas reprodutivas afetando a produtividade da lavoura.
Portanto, nesses dois estágios de desenvolvimento da cultura (estabelecimento e formação das estruturas reprodutivas), as condições climáticas são fundamentais no que diz respeito a quantidade ofertada, e assim diretamente ligada as formações do preço.
Cenário Argentino
Na Argentina, as condições climáticas tiveram sua importância durante o final do ciclo produtivo, o excesso de chuvas durante a primeira metade de abril atrasou a colheita da safra 2016/17, ocasionando perdas próximas a 1,05 milhões de hectares. As chuvas também criaram barreiras ao processo logístico e consequentemente ao avanço das comercializações. Segundo o consultor Sebástian Gavalda (Globaltecnos), foram entregues 12,1 milhões de toneladas enquanto o compromisso de comercialização compreende 22 milhões de toneladas. Apesar dos desafios impostos pelo excesso de chuvas, 94,5% da área havia sido colhido até metade junho, com produtividades médias de 3.210 kg/ha (53,5 sacas de 60kg) e projeção de 57,5 milhões de toneladas.
Previsões
As previsões para o mês de junho mostram-se importantes para compreensão dos preços da soja dessa safra, isso se deve pelo início do plantio de soja nos Estados Unidos com especulações a respeito do clima, chuvas durante o processo de colheita na Argentina e negociações brasileiras com pressão de preços mais baixos. Dessa forma, alguns cenários que poderiam afetar o preço da soja com relação a oferta são:
1. Apesar da forte pressão sobre os preços pela oferta elevada (resultado de ganhos na produtividade e aumento das áreas semeadas) e aumento nos estoques, temos um cenário otimista na remuneração caso haja menores negociações dos produtores por quedas tanto na Bolsa de Mercadorias de Chicago quanto no dólar. Essa possibilidade pode resultar em aumento do prêmio e melhor poder de negociação, afetado pela necessidade de originação da soja por trading.
2. Quebras de produção em decorrência de clima, ataques de pragas ou doenças, o que resultaria em menor oferta e consequentemente elevação dos preços. Dessa forma, se as condições climáticas se confirmarem insatisfatórias para o desenvolvimento da nova safra norte-americana, os preços para a soja brasileira seriam beneficiados.
3. A valorização cambial e aumentos significativos na Bolsa de Mercadorias de Chicago causariam melhores remunerações aos produtores brasileiros.
4. Um desestímulo ao plantio de soja perante menores remunerações, causando menor oferta do grão e consequente aumento dos preços.
Porém, de acordo com o exposto e considerando a importância da relação de oferta e demanda para o mercado de soja, a hipótese mais provável a curto prazo consiste em preços no patamar mínimo em torno de US$ 9,00/bushel e máxima de US$ 9,80/bushel. Considerando fatores como: volatilidade do dólar, confirmação de chuvas para o meio-oeste americano, demanda aquecida e oferta alta.
Para análise da influência da demanda no mercado internacional da soja como commodity agrícola, a China situa-se como a principal importadora mundial. Por apresentar-se também como importante esmagadora, destacamos sua relevância principalmente do embarque da soja em grão para posterior processamento. Em publicação feita pelo consultor Ivan Formigoni ao portal Farmnews (Dezembro, 2016) encontra-se ilustrado os principais importadores de soja (gráfico 1).
A partir do gráfico 1, a China tem representatividade de 75% das importações, seguido com porcentagens entre 2 e 3% de países como Espanha, Tailândia, Holanda e Rússia. Ou seja, a demanda dos mercados Chineses são fundamentais na formação dos preços internacionais.
Para o ano de 2017, a China confirma sua importância no mercado internacional com aumento de 20% no acumulado dos três primeiros meses do ano. As estimativas apontam recordes na importação alcançando patamares próximos a 89 milhões de toneladas (USDA) – 6,93% superior a safra 2015/16. Além disso, o país conta com um volume de soja estocado de 17,56 milhões de toneladas – 3,8% superior a safra 2015/16. Apesar das importações recordes, houve queda de 5% no histórico de 2014/15 (Ivan Formigoni, 2016), indicando haver o encaminhamento a longo prazo para níveis estáveis nas importações.
A demanda internacional da soja brasileira apresentou melhoras na segunda metade do mês de abril como comentado no item sobre oferta acima, diminuindo assim a pressão baixista para os preços. No mercado interno, de acordo com o Cepea em nota divulgada no dia 12 de junho, três fatores foram importantes para movimentos de altas nos preços domésticos: 1.Valorização do dólar em relação ao real; 2. Elevação do prêmio para exportação e 3. Condições climáticas dos Estados Unidos, resultando em cotações maiores na CBOT. A princípio, esse movimento de alta estimulou a venda que estava, em período anterior, esperando por melhores condições, existindo nesse período um grande volume negociado. Já a partir de junho, há um desaquecimento e temos vendedores aguardando negociações de lotes maiores para o segundo semestre (CEPEA, Jun./2017).
A procura prolongada pelos estoques norte-americanos de soja sinalizam de acordo com o consultor Luiz Fernando Roque, que as atenções do mercado ainda não foram totalmente voltadas ao hemisfério sul. Se por um lado as incertezas sobre o clima causam maiores especulações, por outro lado a oferta de soja americana oferece também estabilidade ao mercado enquanto atende à demanda internacional.
A demanda chinesa manteve-se crescente durante os primeiros cinco meses de 2017, chegando a recorde de importação de 37,1 milhões de toneladas (20% superior ao mesmo período de 2016). Além disso, como os embarques têm sido mais dinâmicos comparativamente as projeções do USDA, maiores quedas das cotações são limitadas pela tendência positiva da demanda, que tem apresentado valores consistentes desde o início do ano. Enquanto que, pela perspectiva da oferta, o Brasil exportou para a China no mesmo período 28,3 milhões de toneladas, ou seja, atendeu em 76% a necessidade do país asiático com receitas ao Brasil em patamar superior a US$11 bilhões (Folha de S. Paulo, 13/06/2017). Portanto, a demanda crescente da China, acompanhando o aumento da população urbana e economicamente ativa, oferece suporte a manutenção dos preços mesmo com ofertas recordes.
Influência do câmbio e da Bolsa de Mercadorias de Chicago
Em estudo realizado por BARROS, G. S. A. D. C., & SILVA, S. F. (2008), os autores concluíram que existe atratividade para exportação, devido ao preço externo negociado em dólares, pois a valorização cambial favorece positivamente a paridade de exportação. Essa valorização cambial ocorreu de forma brusca a partir do dia 18 de maio, quando o mercado expressou as questões políticas brasileiras. Para a análise econômica relacionada a influência do câmbio, a safra 2016/17 será dividida então em dois momentos relevantes.
Em um primeiro momento, houve uma redução cambial entre o início e final da safra, quando apresentava médias de R$ 3,60 na compra de insumos e R$ 3,15 até metade de maio. O fato representou um aumento dos custos operacionais (insumos e logísticas) que estão relacionados a moeda estrangeira e menor rentabilidade no momento de exportação com o dólar mais baixo. Uma segunda influência ocorre do aumento da taxa de juros americano pelo banco central dos EUA, Federal Reserve (FED), em março com um segundo aumento em junho, superando a faixa de 1% desde a crise ocorrida em 2008. Nesse contexto, o professor da Esalq/USP, Geraldo Barros defende que o aumento de juros tende a reduzir os preços em dólares das commodities. Esse fenômeno ocorre pela melhor remuneração dos títulos da dívida americana, no qual ativos antes investidos em mercados emergentes (maior remuneração pelo maior risco) retornam ao Estados Unidos.
Em um segundo momento, após a divulgação de uma conversa gravada entre o presidente Michel Temer e um dos donos do grupo J&F, o câmbio que operava a patamares próximos a R$3,15 saltou para R$3,40 e estabilizou-se posteriormente próximo a R$3,30. Apesar da alta volatilidade do dólar nesse momento, o Banco Central deve tentar manter o câmbio estável nesses patamares, já que sua flutuação causaria uma pressão inflacionária. O resultado desse salto cambial resultou primeiro em um alto volume de negociações, logo na madrugada do dia 18 de maio houve cinco vezes mais negociações, com movimentação de 50 mil contratos. Consequentemente, as cotações em bolsa iniciaram um processo de queda para que a soja norte-americana continuasse competitiva no mercado internacional (comentários sobre consequências na bolsa serão detalhados em item específico). Segue abaixo, o gráfico elaborado pelo portal Exchange-rates.org que ilustra as taxas cambiais históricas durante o período de 23 de março a 20 de junho de 2017, com o salto cambial destacado em vermelho.
Por fim, a agência The Economy Forecast, aponta a previsão do dólar para os próximos meses ilustrados na tabela 1 abaixo:
Portanto, a previsão evidencia valor máximo para a cotação do dólar no valor de R$ 3,516 para outubro e mínima de R$ 3,357 para o atual mês de junho. A previsão indica portanto, uma tendência ao longo do ano de valorização do dólar frente ao real, a qual pode beneficiar as vendas de commodities agrícolas pelos produtores brasileiros durante o segundo semestre, quando existe nesse período competição com a soja da nova safra norte-americana.
Verificamos que o câmbio apresenta bastante volatilidade no mercado, no qual existem consequências com respostas rápidas em decorrência de atividades políticas e econômicas, tais como mudanças de juros e reformas políticas. Sendo que a valorização do dólar causa melhores remunerações para os exportadores brasileiros enquanto também eleva os custos de operações com preços associados a moeda. Atenção especial ao cenário político brasileiro com poder de influência no câmbio torna-se essencial para o acompanhamento do mercado internacional da commodity.
Na Bolsa de Mercadorias de Chicago, onde existe concentração de ofertantes e demandantes, torna-se uma importante referência na formação dos preços internacionais de soja, na qual temos as sinalizações nos preços em decorrência de fatores que estejam ligados a sua formação. Dessa forma, podemos destacar primeiro que até metade de maio, houve certa estabilidade nas operações, com pequenas variações diárias e correções técnicas, com aumentos em decorrência principalmente da incerteza climática norte-americana no início do plantio. Com as cotações ficando em torno de US$9,50 e US$9,70/bushel, com muitos embarques acontecendo principalmente por acordos firmados anteriormente. Ressalta-se ainda, que não ocorreram grandes variações pela certeza de oferta do grão no mercado mundial, na qual mesmo com a demanda mantendo-se aquecida, os contratos ofereciam dificuldades em romper valores muito acima de US$9,70/bushel.
A partir do dia 18 de maio, com a divulgação do grampo entre conversa do presidente Temer e um dos donos da J&F e com os acontecimentos posteriores, houve alta no câmbio e consequente queda nas cotações em bolsa durante os dias 23 a 31 de maio, chegando ao patamar de US$912,00/bushel para contratos com vencimento em julho de 2017. Após esse período, configurou-se recuperações técnicas até a confirmação de uma nova tendência de alta suportado pelas incertezas climáticas durante o estabelecimento da nova safra de soja norte-americana, com elevação das cotações prolongando-se então até 12 de junho quando o contrato para julho de 2017 encerrou a US$941,75/bushel. No momento, as atenções se concentram ainda nas condições climáticas do meio-oeste americano, quando nessa semana com previsão de chuvas para a região ocasionou novas quedas.
O gráfico 3 a seguir, ilustra as variações das cotações para soja para o contrato de julho de 2017 na Bolsa de Valores de Chicago, compreendendo o período de 16 de maio a 22 de junho. As partes destacadas referem-se primeiro a queda da cotação pelo salto cambial do dia 18 de maio e em um segundo momento pela confirmação de melhores condições climáticas nas áreas de cultivo dos Estados Unidos.
As condições climáticas comprovaram mais uma vez sua importância nesse período, no dia 22 de junho, a confirmação de período chuvoso para as regiões produtoras americanas fizeram as cotações perderem cerca de 14 pontos, chegando o contrato de julho/17 a US$9,04/bushel. Oferecendo suporte a queda, houve exportações semanais em volume menor ao esperado pelo mercado: 110 mil toneladas exportados, contra 200 a 400 mil toneladas esperadas e a valorização do real que chegou a R$3,35 em alguns momentos.
As condições climáticas, importante fator para a formação dos preços em bolsa de valores, é um elemento que se confirma ao longo do tempo. A probabilidade de falta de chuvas durante o começo da safra dos EUA ofereceu força ao aumento das cotações durante alguns dias, porém, no momento em que novas previsões indicaram condições melhores as lavouras, os aumentos não mais se sustentaram, havendo rápida queda nas cotações. O gráfico 4 das cotações para o dia 22 de junho, ilustra o movimento na Bolsa de Mercadorias de Chicago.
As altas produtividades obtidas durante a safra de 2016/17 foram atingidas mediante altos investimentos que aumentaram significativamente os custos de produção. De acordo com os dados do Imea, o custo de produção total para o estado do Mato Grosso (considerando custos operacionais e custos fixos), foi em 2015/16 de R$ 2.958,37 para o cultivo de soja transgênica. Enquanto para a safra seguinte, o custo total para o mesmo estado foi de R$ 3.683,30. Essa alta de 24,5% entre os anos se deve especialmente a elevação nos preços de insumos e a valorização do dólar frente ao real.
Dessa forma, considerando a região de Primavera do Leste, situada no centro-sul do estado, de acordo com o Imea, apresentou custo variável de R$ 2.517,98. Com a cotação do mercado físico de soja para o dia 21 de junho no valor de R$ 57,00 por saca de 60 kg, concluímos que seria necessário a produção de 44,17 sacas para cobrir os custos variáveis.
Além da influência do câmbio para elevação dos custos é importante destacar a logística como fator que compromete a competitividade brasileira de forma significativa. O transporte do grão realizado pela Argentina é em sua maioria de forma rodoviária, porém em distâncias menores, em torno de 300 km até o porto exportador. Os Estados Unidos por sua vez, percorre distâncias médias maiores, em torno de 1000 a 2000 km, porém 60% do transporte realizado por meio de hidrovias. Além do transporte brasileiro até os portos serem em sua maioria realizados por rodovias, percorrendo longas distâncias, os portos também prejudicam a competitividade, com taxas portuárias elevadas, capacidade operacional menor do que a demanda e estruturas antigas as necessidades atuais. Apesar desse cenário, desde 2014 com o início das atividades do porto de Barcarena no Pará e melhoria nas condições do porto de Santos, espera-se que a eficiência portuária e logística se aprimore, refletindo em custos menores e prêmios de exportação maiores.
Considerações
Neste item objetiva-se correlacionar as informações dispostas anteriormente, comentando sobre o cenário mundial e as perspectivas para o ano. Visto a importância da relação de oferta e demanda para regulação dos preços de soja, encontramos para essa safra valores que elevaram-se constantemente nos dos dois sentidos, ou seja, uma oferta recorde e demanda aquecida e crescente. Ao mesmo tempo, os estoques estão superando seus valores a cada ano. Portando, o indicativo de que não irá faltar soja no mercado internacional somado aos altos estoques exerceram pressões de baixas nos preços, mas que não se agravaram pela alta demanda do produto, especialmente da China.
Um segundo fator importante para essa safra foi a cotação do dólar, a princípio alto para a compra dos insumos e baixo no período de exportações, afetando as margens dos produtores e sua liquidez. Pela influência de desdobramentos no cenário político brasileiro, alterações nas cotações em bolsa trouxeram oportunidades a comercialização da safra brasileira. Perante esse cenário de incertezas e acontecimentos inesperados, a gestão da produção torna-se crucial para obtenção de melhores margens. A exemplo, temos as produtividades recordes no Mato Grosso do Sul e rentabilidade baixa pelo alto investimento inicial e preços baixos no momento de negociação. São os riscos envolvidos na produção agrícola que devem ser minimizados por exemplo pela realização de contratos futuros, boa gestão da produção com foco na redução dos custos e melhoria dos meios de produção.
As cotações analisadas para o dia 22 de junho de 2017, indicam após três dias de queda o menor valor para julho/17 de US$ 9,04/bushel e maior valor para novembro/2017 de US$ 9,13/bushel. O mercado físico apresentou ganhos após o impulso cambial que favoreceu a exportação, variando entre a mínima de R$ 52,00/sc em Sorriso – MT e máxima de R$ 73,00/sc no porto de Rio Grande – RS. O prêmio no porto de Paranaguá, também segundo cotação do dia 22 de junho, apresentou poucas variações, ficando com ágil em torno de +0,55 e +0,65 (junho e agosto respectivamente).
Portanto, o cenário que se desenha até o momento, é fundamentado primeiro pela alta demanda Chinesa que oferece suporte aos preços, mesmo com uma safra alta pelos principais países produtores mundiais de soja. Temos ainda as incertezas políticas brasileiras, que causam alta volatilidade ao dólar e consequente variações das cotações em bolsa. Essa volatilidade ocorre pelas situações com baixa previsibilidade, tais como: o andamento de operações da polícia federal, encontros partidários, decisões dos três poderes brasileiros ou ainda pela atuação de meios de comunicação.
Por fim, a maior possibilidade de aumento dos preços da soja podem ser motivados por uma queda da oferta mundial do grão, por esse motivo, as atenções voltam-se a safra norte-americana e suas possibilidades climáticas. O atraso no plantio e o provável déficit hídrico pode ser recuperado pelo aumento de área semeada com soja nessa nova safra, mas ainda com pouca perspectiva de uma safra superior a de 2016/17, quando contou com condições climáticas excelentes. Com isso, o potencial produtivo a ser demonstrado pela cultura norte-americana ao longo das próximas semanas deverá oferecer uma previsão de produção com influência direta nos preços. Na possibilidade de haver comprometimento ao longo da safra e obter assim valores de produção muito inferiores a 115 milhões de toneladas, seguramente teremos um impacto positivo para os preços da soja. Por outro lado, se as condições permitirem uma nova safra em valores próximos a aqueles previsto pelo USDA, esse cenário terá influência na derrubada dos preços.
Referências
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