Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto
Os indicadores macroeconômicos apontam para um cenário de recuperação econômica, e nesse sentido, sugerem aumento do poder de compra da população como motor de alavancagem da demanda interna.
O Banco Central do Brasil, em seu último boletim Focus, reduziu pela sexta semana consecutiva a estimativa para a inflação em 2018, com o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) caindo para 3,67% na projeção até o fim de 2018.
Com a inflação abaixo do centro da meta, a estimativa da taxa Selic fica estimada em 6,5%.
E se o boletim do Banco Central oferece um ambiente positivo à recuperação econômica, o professor Sérgio Amad Costa da Fundação Getúlio Vargas – FGV descreve, de forma simplificada, que neste ambiente, a retomada econômica é conduzida por: Derrubada da taxa de ociosidade da indústria, seguida de recolocação de vagas de trabalho para, então, uma consolidação efetiva do desenvolvimento econômico.
O primeiro ponto está em curva negativa, visto que a taxa de ociosidade atingiu em janeiro de 2018 o menor valor desde julho de 2015. Segundo os dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a utilização da capacidade instalada da indústria chegou a 78,1%.
Para comparação, em janeiro de 2015 o uso da capacidade instalada estava em 62%, ou seja, 38% da capacidade produtiva estava ociosa, este número atualmente caiu quase pela metade, em 21,9%.
Apesar das indústrias operando com menor ociosidade, a retomada de vagas formais acontece em ritmo mais lento, apenas quando as empresas notarem alta sustentável de suas receitas, e este é o ponto que mantém a demanda interna ainda comedida, com queda acentuada do escoamento de carne na segunda metade do mês.
De todo modo, as perspectivas para 2018 dão conta de que o desemprego deve continuar em queda, mas ainda permanecer em patamares historicamente altos (segundo o IBGE, o Brasil conta hoje com 12,7 milhões de pessoas desocupadas).
A expectativa positiva para retomada de postos de trabalho é demonstrada, por exemplo, por meio do Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) elaborado pela FGV.
O indicador reflete a expectativa para os negócios e planos de contratação das empresas para os seis meses seguintes, que em fevereiro/18 atingiu o maior nível da série histórica, totalizando 109,6 pontos (quanto maior o valor da medida, maior é a expectativa de recuperação).
Mas além dos dados otimistas descritos acima, um segundo levantamento da CNI revela que a confiança do consumidor ainda permanece baixa, registrando-se 4,9% inferior à média histórica e 1,6% abaixo do mesmo período do ano passado.
Apesar de consumidores menos preocupados com a evolução dos preços e também percebendo melhora na evolução de suas dívidas, ainda há temor com a expectativa de renda pessoal, que subiu 3% em relação a fevereiro de 2018.
E apesar das eleições em 2018 que ainda trazem dúvidas quanto ao ambiente de ajustes e reformas, sem falar na dificuldade de prever os resultados das eleições, o fato é que a atual conjuntura econômica já exibe importantes sinais de recuperação.
Por fim, na esteira da recuperação econômica, e em ritmo mais lento, a criação de vagas de emprego devem continuar aumentando (especialmente de vagas informais neste primeiro momento), mas a recuperação da demanda nos próximos meses deverá continuar a ser moderada.