Gustavo Rezende Machado é trainee pela Agrifatto
Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – CEPEA, a área cultivada com milho na safra 2017/18 deverá ser a menor desde o início do levantamento da série histórica pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) em 1976/77.
O recuo esperado está em torno de 9,6% e queda da oferta na 1º safra de 17,8% (totalizando 25,05 milhões de toneladas).
O fato é que os estoques de passagem estão relativamente altos (em 18,92 milhões de toneladas), dada a produção recorde na safra passada e ritmo de comercialização menor ao longo de 2017.
Portanto, as projeções da CONAB apontam que a soma entre a colheita de milho verão desta safra e os estoques atuais equivalem a 44,1 milhões de toneladas, o que representa 75% de toda a estimativa de consumo interno para 2018.
Em outras palavras, excluindo-se a segunda safra de milho (a mais representativa para a cultura no Brasil), a disponibilidade do cereal se mostra confortável neste início de ano, retraindo os spreads entre os contratos futuros.
Já as estimativas da CONAB para a segunda safra de milho exibem pequena variação entre os relatórios mensais, isso porque a semeadura ganha força nas próximas semanas e oferecem melhores condições para as previsões de produção.
No momento a estimativa para a segunda safra está em 67,17 milhões de toneladas, o que projeta uma oferta total de 92,35 milhões de toneladas (5,6% inferior ao montante de 97,82 milhões de toneladas da safra 2016/17).
Muito possivelmente os números acima sofrerão ajustes negativos, com a produção total talvez inferior a 90 milhões de toneladas, e ainda, com possibilidade de reajustes positivos para os volumes de consumo e exportação (este cenário causaria pressão positiva as cotações).
Além disso, já se registra ligeiro atraso da colheita da soja em estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e Goiás, que deverão ampliar o ritmo de colheita apenas a partir do início de fevereiro.
Ou seja, há uma janela pela frente de especulação climática que deverá pressionar positivamente as cotações futuras do milho no curto prazo. Neste sentido, o gráfico 1 reúne as variações dos preços do milho entre os meses de janeiro e maio no mercado físico, de 2008 a 2017.
Observa-se que a quebra de safra ocorrida na safra 2015/16 ocasionou forte ágio entre janeiro e maio. Enquanto que na safra seguinte, a oferta recorde causou depreciação dos valores entre os mesmos meses.
Para este ano, como comentado anteriormente, os altos estoques limitam altas expressivas, ainda que se espere ampliação da diferença dos preços futuros com os valores atuais de balcão.
Deste modo, o gráfico 2 calcula qual seria a variação porcentual com diferentes hipóteses de preços futuros. O primeiro valor de R$ 32,90/saca é a atual cotação para maio/18 precificado na B3 (antiga BM&F), o que representa um tímido aumento de 0,86% com relação à atual referência do preço físico.
Lembrando que o último indicador do CEPEA (dia 22/01) foi de R$ 32,62/saca.
Portanto, há espaço para reajustes, ainda que possam ser fortemente limitados pelos altos estoques de passagem que oferecem segurança quanto a disponibilidade do cereal neste ano.
Ademais, temos a segunda safra de milho inteira pela frente, assim como o fenômeno climático La Niña, que pode trazer surpresas ao longo do cultivo e possibilitar recuperação das cotações.
O patamar de R$ 34,00/sc, registrado durante o final e início deste ano, pode ser alcançando ainda no curto prazo, e dependendo das condições para o desenvolvimento da safrinha, os valores podem continuar em curva positiva de modo a exibir preços em São Paulo de R$ 36,00 por saca de 60 kg (aumento de 10% em relação a referência atual).
Por fim, os estoques devem ser ajustados neste ano, permitindo altas mais expressivas a partir de 2019 dependendo da relação de oferta e demanda no próximo ano.