Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto

Na semana passada, o Laboratório de Análises Socioeconômicas e Ciência Animal (LAE) da USP, campus de Pirassununga, divulgou indicadores dos custos de produção de bovinos confinados entre abril e dezembro de 2017.

Como esperado, os dados expressam custos mais elevados durante os primeiros meses do ano para os confinamentos em São Paulo, com posterior recuo entre julho e setembro.

Em Goiás por sua vez, as despesas do confinamento se ampliaram no decorrer do ano, alcançando os maiores patamares durante o último trimestre de 2017.

O gráfico 1 exibe os custos da diária-boi (CDB) de confinamentos em SP de tamanho médio (abate de 3 mil animais/ano) e de tamanho grande (abate de 27 mil animais/ano), além dos cálculos para confinamento em Goiás (com 16,5 mil animais a cada ano).

O movimento descrito acima tem relação próxima com duas importantes curvas de preços, a alimentação animal e o preço do boi magro.

A alta oferta de milho na safra passada combinada ao aumento dos estoques pressionou negativamente os valores praticados pelo cereal na primeira metade do ano. Em outras palavras, a colheita da safra verão e a necessidade de espaço para armazenamento da soja resultam em maior pressão de venda e consequente queda dos preços entre fevereiro e abril (especialmente em anos que a segunda-safra do cereal tem produção expressiva, implicando em pressão negativa mais forte aos preços no início do ano) .

Posteriormente, a queda ao ritmo de negócios devido à queda de preços refletiu em melhor suporte às cotações do milho durante o final do segundo semestre, conforme indica a curva normal de sazonalidade do produto exibida no gráfico 2.

O fato é que apesar de Goiás ser o 4° maior produtor brasileiro de milho com as estimativas do último levantamento da CONAB apontando para 9,43 milhões de toneladas na safra 2018/19 (considerando as duas safras), o estado de São Paulo oferece mais alternativas de subprodutos para alimentação animal, limitando as altas para essa praça no segundo semestre.

Deste modo, observa-se pelo gráfico 1 que, em ambas as praças, o aumento dos custos de produção que costuma ocorrer no segundo semestre está, em alguma medida, relacionado com à curva positiva do preço do cereal.

Já os preços do boi magro exibem uma diferença sazonal maior entre as diferentes praças, dependendo principalmente da influência e participação do confinamento sobre o abate de cada região.

O fato é que tanto em SP como em GO, os meses que antecedem o confinamento pressionam positivamente os valores do boi magro, com variações positivas em abril e setembro/outubro.

Além disso, vale destacar que geralmente o início do ano registra preços mais altos, consequência da capacidade de manutenção dos pastos, que estimula a troca.

Os gráficos 3 e 4 a seguir demonstram a sazonalidade dos preços do boi magro em Presidente Prudente – SP e em Goiânia – GO, de acordo com os dados compilados do CEPEA entre 2013 e 2017.

 

De modo objetivo, podemos destacar quatro principais fatores que devem influenciar os preços de reposição e a tomada de decisão de levar os animais ao cocho em 2018:

  1. O primeiro ponto se dá pelo próprio ciclo pecuário, a menor participação de fêmeas nos abates entre 2014 e 2016, que aumentou a capacidade produtiva de bezerros, deve manter as cotações dos animais magros pressionadas este ano, um fator de estímulo ao confinamento pela melhor relação de troca;
  1. O segundo fator diz respeito ao clima e seus efeitos sobre o suporte das pastagens. Como sabido, condições mais convidativas à engorda da reposição a pasto aumentam a liquidez do mercado e afetam diretamente os valores praticados;
  1. As cotações futuras, que refletem o ânimo do mercado e influenciam o planejamento estratégico, a tomada de decisão e posteriormente, a comercialização;
  1. O custo nutricional, especialmente relacionado às cotações do milho, que deve apresentar pressão positiva ao longo de 2018 pela menor disponibilidade interna projetada, porém ainda abaixo da média histórica.

Deste modo, 2018 promete registrar número maior para o volume de animais confinados, já que todos os quatro fatores listados acima estimulam a engorda em sistema fechado. Como observado, os preços do milho devem seguir abaixo da média histórica ou ainda, no caso de queda da oferta, voltar às cotações aos patamares historicamente normais.

Para a reposição do plantel, a chegada da safra deve pressionar negativamente os valores pecuários e recuar a relação de troca de boi gordo pelo bezerro. Portanto atenção à cotação dos animais mais jovens que devem ser pressionados positivamente nos próximos meses.

Precaver-se de surpresas que não apareçam imediatamente no radar continua sendo de grande importância e, nesse caso, o uso do mercado futuro e de opções é sempre de grande valia.