Marco Guimarães é trainee pela Agrifatto

Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto

 

Se em 2018 um fator registrou movimentação de alta consistente, foi o desempenho das exportações brasileiras com a carne bovina brasileira.

E praticamente todos os meses de 2018 contaram com volumes maiores ante os mesmos meses de 2017. A exceção fica para junho, quando a greve dos caminhoneiros no final de maio impactou negativamente os embarques daquele mês.

Mas os efeitos da paralisação foram pontuais, já que os envios represados foram compensados nos meses seguintes.

E os desempenhos positivos a cada mês renovaram os recordes mensais. Com setembro/18 ocupando agora a primeira colocação no ranking de maior proporção mensal, acumulando envio de 150,66 mil toneladas de carne bovina in natura.

E ainda, vale destacar que 2018 também respeitou a sazonalidade das exportações. Ou seja, os envios foram crescentes nos primeiros meses do ano, ganhando fôlego maior no início do 2º semestre, e recuando nos últimos meses do ano.

E assim, o país somou exportação de 1,74 milhão de toneladas em 2018 (considerando todas as categorias), um avanço de 10,75% em 12 meses.

Apenas com a carne bovina in natura (segmento que representa 77,91% das exportações), o país enviou 1,35 milhão de toneladas, alta de 12% ante o volume embarcado em 2017.

E além do volume ampliado dos embarques, a combinação com câmbio valorizado, resultou em avanço do faturamento com a operação. E apenas com a carne bovina in natura, o país obteve receita de US$ 5,59 bilhões (alta de 10,85%).

 

Sobre os principais destinos, a Ásia segue na dianteira com Hong Kong e China. Os dois países representam 23% e 19% do volume total embarcado, respectivamente. No consolidado (China + Hong Kong), foram enviadas 717,5 mil toneladas de carne bovina (destino de 42% das exportações).

O terceiro lugar foi ocupado pelo Egito, destino de 153,7 mil toneladas ao longo do último ano. Em seguida, aparecem Chile, Irã e Angola, representando 7%, 5% e 3%, respectivamente.

A sétima e a oitava posição foram ocupadas pela Arábia Saudita e pelo Emirados Árabes Unidos, ambos com aproximadamente 2% do volume total embarcado. Os outros 29% representam os embarques para países com menores representatividade, dentre eles: Itália, Estados Unidos, Reino Unido, Filipinas e outros 161 destinos.

Vale destacar que a análise considerou os embarques com todas as categorias (in natura, industrializada, miúdos e outros). Ou seja, quando se considera apenas os embarques com carne in natura, a proporção demonstrada acima passa por ajustes.

 

Perspectivas

Se no retrovisor enxergamos um 2018 positivo para os embarques, à frente existem fatores sugerindo novos avanços para as exportações brasileiras em 2019.

A Rússia, que havia suspendido as importações brasileiras de boi e porco no final de 2017, retirou o embargo em novembro/2018, e deve voltar a comprar proteína animal brasileira neste ano. Em 2017, a Rússia representou 9,4% do volume total enviado ao exterior.

A China e Hong Kong representam 42% das exportações de carne bovina. O país asiático está enfrentando recorrentes surtos de peste suína africana e é possível (e provável) que a doença se prolifere ainda mais e dizime dezenas de milhões de porco nos próximos meses/anos. Além disso, o aumento da renda dos chineses contribui para um maior consumo de carne per capita.

Uma possível mudança da embaixada em Israel (de Tel Aviv para Jerusalém) pelo presidente Jair Bolsonaro pode afetar as relações comerciais com o “Mundo Árabe”. É preciso cautela, pois o Brasil exporta para 17 países árabes, tendo uma representatividade de 20,9% do total embarcado.

O Chile, no comparativo anual, importou 77,7% mais carne bovina brasileira em 2018, adquirindo 114,9 mil toneladas ano passado. Isso se deve ao fato do governo chileno ter proibido a importação de carne do Paraguai, depois do surgimento de um caso de febre aftosa. Em dezembro/18, o país andino autorizou a exportação de carne bovina de todo o estado do Mato Grosso do Sul e as perspectivas de embarques seguem aquecidas.

Portanto, demanda internacional em alta, colabora para enxugar a oferta doméstica, servindo de sustentação às cotações. E mudanças que possam levar a recuo da quantidade exportada, levariam a maior disponibilidade de produto no mercado interno, com ajustes para baixo do equilíbrio de preços.