Diante da perspectiva de maior abertura comercial e crescimento da demanda global, o agronegócio vê infraestrutura, logística e tributação como entraves para a competitividade do País.
No mesmo evento, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, destacou que as mudanças demográficas mundiais vão exigir do Brasil ampliar sua produtividade. “O mundo deverá chegar a 10 bilhões de pessoas em 2050. O aumento de renda e longevidade e mudanças nos padrões de consumo trazem uma maior demanda. Para alimentar essa população, o Brasil terá que aumentar em 27% sua produção nas próximas décadas.”
Ela acredita que o setor tem que estar preparado para o atual movimento de maior abertura comercial. “Temos um ministro da Economia [Paulo Guedes] liberal, que busca abrir mercados. Além do acordo Mercosul e União Europeia, teremos novos tratados nos próximos dois anos.”
O presidente da Yara Brasil, Lair Hanzen, enumerou os principais fatores que elevam o custo da produção no País. “Temos uma dificuldade grande de escoamento da safra. Na logística, temos a situação do tabelamento dos fretes, que preocupa e nada ajuda os caminhoneiros. Na parte de energia, o custo do gás é quatro vezes mais caro que nos Estados Unidos.”
Ele também apontou a questão tributária como um elemento desestimulante para a indústria de fertilizantes. “Cerca de 75% dos fertilizantes usados são importados. Porque não investimos mais na produção? Porque é mais barato importar. O produtor é punido pelo ICMS [imposto sobre circulação de mercadorias e serviços] e perde o interesse.”
O economista e diretor do Centro de Cidadania Fiscal, Bernard Appy, avalia que a estrutura do ICMS onera a exportação e torna mais barato a importação para alguns setores. “A reforma Tributária elimina isso. A tributação deixa de ser na origem e passa a ser no destino”, detalha.
Appy elaborou o texto proposto pelo deputado Baleia Rossi (MDB-SP) de maneira paralela a reforma Tributária do governo federal. “Não sabemos a posição do governo em relação à proposta do Congresso. O poder executivo apresentou um texto que não altera a questão do ICMS. As discussões vão começar agora e veremos qual será o andamento.”
Guerra comercial
Em coletiva de imprensa durante o evento, Tereza Cristina declarou que o Brasil deveria permanecer neutro no conflito comercial entre Estados Unidos e China. “Não temos que entrar nessa briga. Vendemos para os dois países. Especificamente no agronegócio, a China é um grande parceiro e o EUA é um concorrente. Deixe que eles se resolvam, o Brasil vai continuar se abrindo.”
Nesta segunda-feira (5), o Ministério de Comércio da China informou que companhias chinesas pararam de comprar produtos agrícolas dos EUA, e que não descarta impor tarifas a esses bens norte-americanos comprados após 3 de agosto. “As empresas chinesas relacionadas suspenderam compras de produtos agrícolas norte-americanos.”
O movimento ocorre em reação à declaração do presidente norte-americano, Donald Trump, de que Pequim não cumpriu sua promessa de adquirir grandes volumes de produtos agrícolas dos EUA, prometendo impor novas tarifas em cerca de US$ 300 bilhões em bens chineses.
A China é a maior compradora mundial de soja, cultivo de exportação de maior valor dos EUA. O governo norte-americano já divulgou planos de gastar até US$ 28 bilhões para compensar agricultores, importante setor de apoio eleitoral a Trump, pela receita perdida devido às disputas comerciais. A China não divulgou o valor das importações agrícolas provenientes dos EUA que podem estar sujeitas às novas tarifas.