Diante da perspectiva de maior abertura comercial e crescimento da demanda global, o agronegócio vê infraestrutura, logística e tributação como entraves para a competitividade do País.

 “O nosso setor agropecuário compete com qualquer país do mundo. Mas da ‘porteira pra fora’ destruímos nosso valor. Temos que pensar em investimentos em infraestrutura para os próximos 50 anos”, afirmou o diretor de operações supply da Syngenta, Jorge Buzzetto, nesta segunda-feira (5) durante um congresso de agronegócio em São Paulo (SP).

No mesmo evento, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, destacou que as mudanças demográficas mundiais vão exigir do Brasil ampliar sua produtividade. “O mundo deverá chegar a 10 bilhões de pessoas em 2050. O aumento de renda e longevidade e mudanças nos padrões de consumo trazem uma maior demanda. Para alimentar essa população, o Brasil terá que aumentar em 27% sua produção nas próximas décadas.”

Ela acredita que o setor tem que estar preparado para o atual movimento de maior abertura comercial. “Temos um ministro da Economia [Paulo Guedes] liberal, que busca abrir mercados. Além do acordo Mercosul e União Europeia, teremos novos tratados nos próximos dois anos.”

O presidente da Yara Brasil, Lair Hanzen, enumerou os principais fatores que elevam o custo da produção no País. “Temos uma dificuldade grande de escoamento da safra. Na logística, temos a situação do tabelamento dos fretes, que preocupa e nada ajuda os caminhoneiros. Na parte de energia, o custo do gás é quatro vezes mais caro que nos Estados Unidos.”

Ele também apontou a questão tributária como um elemento desestimulante para a indústria de fertilizantes. “Cerca de 75% dos fertilizantes usados são importados. Porque não investimos mais na produção? Porque é mais barato importar. O produtor é punido pelo ICMS [imposto sobre circulação de mercadorias e serviços] e perde o interesse.”

O economista e diretor do Centro de Cidadania Fiscal, Bernard Appy, avalia que a estrutura do ICMS onera a exportação e torna mais barato a importação para alguns setores. “A reforma Tributária elimina isso. A tributação deixa de ser na origem e passa a ser no destino”, detalha.

Appy elaborou o texto proposto pelo deputado Baleia Rossi (MDB-SP) de maneira paralela a reforma Tributária do governo federal. “Não sabemos a posição do governo em relação à proposta do Congresso. O poder executivo apresentou um texto que não altera a questão do ICMS. As discussões vão começar agora e veremos qual será o andamento.”

Guerra comercial

Em coletiva de imprensa durante o evento, Tereza Cristina declarou que o Brasil deveria permanecer neutro no conflito comercial entre Estados Unidos e China. “Não temos que entrar nessa briga. Vendemos para os dois países. Especificamente no agronegócio, a China é um grande parceiro e o EUA é um concorrente. Deixe que eles se resolvam, o Brasil vai continuar se abrindo.”

Nesta segunda-feira (5), o Ministério de Comércio da China informou que companhias chinesas pararam de comprar produtos agrícolas dos EUA, e que não descarta impor tarifas a esses bens norte-americanos comprados após 3 de agosto. “As empresas chinesas relacionadas suspenderam compras de produtos agrícolas norte-americanos.”

O movimento ocorre em reação à declaração do presidente norte-americano, Donald Trump, de que Pequim não cumpriu sua promessa de adquirir grandes volumes de produtos agrícolas dos EUA, prometendo impor novas tarifas em cerca de US$ 300 bilhões em bens chineses.

A China é a maior compradora mundial de soja, cultivo de exportação de maior valor dos EUA. O governo norte-americano já divulgou planos de gastar até US$ 28 bilhões para compensar agricultores, importante setor de apoio eleitoral a Trump, pela receita perdida devido às disputas comerciais. A China não divulgou o valor das importações agrícolas provenientes dos EUA que podem estar sujeitas às novas tarifas.