Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto
A proporção de fêmeas nos abates totais tem subido desde 2016, na comparação apenas dos abates no 1º trimestre de cada ano.
O ciclo pecuário e seus efeitos já são conhecidos pelo leitor de nossa coluna semanal, mas não custa lembrar como ele funciona.
Em resumo, em anos de preços em alta, a margem do pecuarista melhora e ele tem mais capital para investir na produção e retém fêmeas para a produção de bezerros, além de aplicar novas tecnologias, comprar mais terras, entre outras atitudes motivadas pela necessidade de aumentar a produção.
E a produção, de fato, aumenta. Por isso, depois de alguns anos, a oferta gado e de carne sobe, deixando o mercado saturado. Os preços, então, começam a cair e tem-se o fim da fase de alta e o início da fase de baixa. Entre as duas fases pode ocorrer uma acomodação, o que chamamos de fase de estabilidade.
É aí que o pecuarista reduz o uso de tecnologias, insumos e aquisição de novas áreas. O objetivo é diminuir os custos de produção, e assim ele posterga investimentos. Quando não é mais possível realizar esses cortes, ele acaba refugiando-se na venda das matrizes para manter o caixa no azul, ou seja, é obrigado a liquidar o seu plantel.
Em um primeiro momento, esse abate de fêmeas dá ainda mais força ao movimento de baixa, já que a oferta de animais para abate também aumenta. Mas o efeito disso é sentido nos anos seguintes, quando os bezerros das fêmeas abatidas não são mais produzidos. Naturalmente a redução da oferta de bezerros acaba por pressionar também, negativamente, a oferta dos animais das eras seguintes, até faltar boi para abate.
A primeira indicação de que a produção de animais está reduzida aparece no preço do bezerro. As cotações começam a subir concomitantemente a um boi gordo em baixa/estabilidade. E é aí que o pessoal volta suas atenções ao pequeno e o interesse na produção dele volta a aumentar.
Como ainda faltam animais terminados, dentro de algum tempo o valor da arroba do boi gordo começa a se recuperar pela redução da oferta, dando início à fase de alta e um novo ciclo pecuário.
Dito isso, partimos para a análise dos novos dados. O que temos observado é que anos de abate crescente de fêmeas costumam durar 4 ou 5 anos.
Portanto, vale destacar que ainda existe espaço para que a desova de fêmeas continue, possivelmente, ao longo dos próximos 2 anos, limitando o movimento dos preços para níveis mais altos.
Em um ano, o número de vacas abatidas subiu 7%, enquanto que o abate de bois avançou 0,5% no mesmo período. Ademais, se no 1º trimestre de 2019 o número de vacas para o abate subir ao redor de 10%, a proporção alcançará a máxima recente, equivalente as 3 milhões de vacas abatidas do 1º tri/14.
Ressalta-se ainda que as categorias mais jovens registraram variação em maior intensidade no mesmo período, resultado da combinação entre acesso a novos mercados e evolução da demanda internacional.
E assim, os abates de novilhos subiu 14,70% e de novilhas avançou 10,15% (com a participação de novilhas ganhando destaque nos últimos anos) – gráfico 2.
A proporção de abates nos três primeiros meses deste ano seguiu praticamente a mesma tendência e intensidade do mesmo período de 2017. Com a proporção de vacas nos abates ganhando terreno a partir de outubro/17.
Já o valor nominal da arroba manteve-se mais sustentado no mesmo período (gráfico 3). Entre março de 2018 e o mesmo mês de 2017, o valor nominal da arroba ficou 2,80% mais alto neste ano (R$ 143,50 ante R$ 139,61/@ em mar/17). Se considerarmos a valorização real, entretanto, veremos que o valor praticamente empata na comparação ano-a-ano.
Espera-se que o próximo relatório trimestral de abates do IBGE divulgue números menores, consequência da paralisação dos caminhoneiros no final de maio, mas o abate de fêmeas acelerado deve persistir.
Junto a ele, deve persistir também a valorização do bezerro no momento da troca, com ágios mais apertados para o recriador até que se volte a reter fêmeas, o que deveremos observar dentro de 1 ou 2 anos.
Um abraço e até a próxima!