Crise econômica. Redução da renda média do trabalhador empregado. Desemprego. Redução da atividade econômica. Inflação. Queda do PIB. Explosão da dívida pública. Crise política. Aumento da carga tributária.
São frases que já cansamos de ouvir no noticiário dos últimos dois anos.
O fato é que o movimento econômico traz consequências graves ao consumo de carne bovina.
Considerando que a renda do brasileiro compra menos e que ele perdeu o emprego, ocorre a forte substituição da carne bovina na mesa do dia-a-dia pela carne de frango, que é mais barata. O movimento já foi discutido amplamente neste mesmo espaço.
Recordado tal fato, começamos a esmiuçar o que isso trouxe de efeito para a indústria frigorífica brasileira. A falta de interesse por parte do consumidor jogou os preços no atacado para baixo, mas a oferta ainda restrita por conta do ciclo pecuário deixou o boi caro. Isso acabou com a margem da indústria, que teve que escolher entre um prejuízo enorme com o processamento da carne ou um prejuízo menor com o custo fixo de plantas paralisadas. Obviamente, escolheram a segunda opção. Em 2015, a Agrifatto contabilizou o fechamento de 43 plantas e outras 5 em 2016 (a última em AlegreteRS).
Seguindo o efeito-cascata, o fechamento das plantas transferiu a falta de apetite do consumidor para a indústria, que passou a necessitar menos animais para completar suas escalas de abate, uma vez que parte das plantas frigoríficas estavam paralisadas.
O efeito dominó continua, e o apetite reduzido por animais terminados obedece a lei maior do mercado, levando à depressão dos preços. A Agrifatto registrou queda de 2,3% para os preços no segundo semestre de 2016 em relação ao primeiro.
Dito isso, chegamos ao título de nossa análise desta semana. O apetite reduzido por animais resultou consequentemente em queda do volume abatido desde 2013, quando a crise começava a ser sentida mas ainda era manipulada e disfarçada pelo governo, que se preparava para as eleições.
Com isso, chegamos aos menores níveis de abate desde 2003, quando registrou-se 33,2 milhões de cabeças abatidas, entre números oficiais, consumo informal e consumo nas propriedades rurais. Em 2016, a Agrifatto registrou um número parcial de 35,0 milhões.
É importante ressaltar que de 2003 para cá, houve grandes e importantes mudanças relativas à carcaça bovina, o que impacta sobremaneira o volume produzido de carne.
A média ponderada de 16,47 arrobas por animal abatido em 2016 apresenta melhora de 7,3% em relação às 15,35 arrobas médias registradas em 2003. De toda forma, a produção de carne bovina caiu para 8,5 milhões de toneladas equivalente carcaça, um bom recuo que deve começar a reverter a partir de 2017 devido a dois importantes motivos: a reestruturação econômica brasileira (mesmo que lenta), e à maior oferta de animais que deverão aparecer após uma retração acumulada de abates de quase 20% em 3 anos, um número muito importante sob o ponto de vista de oferta futura.