Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto

Caroline Matos é zootecnista e trainee pela Agrifatto

 

Resumo da semana:

A última semana foi marcada por expressivas quedas dos contratos do boi gordo, a pecuária foi contagiada pelo pavor com o Coronavírus.

A segunda semana de março foi encerrada sem refletir no spot as mudanças que foram antecipadas pela bolsa. Mas essa semana já se inicia com frigoríficos fora de novas compras, e o temor de menor consumo e maior desafio para as exportações podem colocar pressão negativa no curtíssimo prazo.

Nesse sentido, as escalas se mostram mais confortáveis em praças de São Paulo e do Mato Grosso do Sul, avançando para o final deste mês.

Combinado com o cenário descrito acima, o escoamento de carne no atacado também pode seguir relativamente lento com a chegada da segunda metade do mês e agravado pela dispersão do Covid-19 – um quadro que deve manter as indústrias ainda mais cautelosas em novas compras

  1. Na tela da B3

O pânico provocado pelas incertezas do coronavírus sob a economia global resultou em quedas expressivas das bolsas por todo o mundo. Na última semana, o mercado do boi gordo também foi contagiado.

O contrato para março/20 acumulou queda de 5,83% nos últimos sete dias, encerrando a semana em R$ 192,10/@ – menor valor desde 29 de janeiro deste ano, data em que o fechamento ficou em R$ 190,00/@.

O maio/20, acumulou baixa de 10,73% no mesmo período (-R$ 21,90/@), para R$ 183,85/@, e o outubro/20 desacelerou 10,58% na comparação semanal – caindo para R$ 192,20/@.

  1. Enquanto isso, no atacado…

O mercado atacadista de carne bovina perdeu força na segunda semana deste mês, já que os estoques estão ligeiramente mais confortáveis enquanto há dificuldade do escoamento da proteína bovina. As negociações do boi casado estão balizadas entre R$ 12,80 – 13,00/kg.

O frango resfriado continua firme no mercado atacadista, as vendas estão aquecidas tanto para o mercado interno quanto para as exportações, e encerrou a sexta-feira (13/mar) em R$ 4,38/kg, alta de 0,69% na semana. Na comparação mensal o avanço ficou em 4,03%.

A carcaça especial suína mostrou-se mais estável, negociada em R$ 8,70/kg – acréscimo de 0,52% ante a semana anterior e aumento de 8,62% contra o mesmo período em fevereiro.

Segundo as cotações levantadas pelo CEPEA, o spread (diferença de preços entre a carne bovina vendida no atacado e a arroba do boi gordo) retornou ao campo positivo, encerrando a segunda semana de março em 0,41%.

3. No mercado externo

As exportações de carne bovina in natura referentes aos 10 (dez) primeiros dias úteis de março/20 contabilizaram um volume total de 59,63 mil toneladas e uma receita de US$ 266,13 milhões.

A média diária da segunda semana registrou-se em 5,96 mil toneladas – avanço de 4,80% ante a semana anterior, entretanto, ainda se mantém 2,93% abaixo da média de fevereiro/20 além de queda de 4,41% frente ao desempenho do mesmo período de 2019.

O valor médio por tonelada registrou-se em US$ 4.462.79, queda de 0,14% em relação à média do mês anterior, e aumento de 20,00% quando comparado com o valor médio de março/19.

Projeções preliminares deste mês apontam para intervalo entre 115 e 125 mil toneladas enviadas até o final de março, um cálculo considerando o histórico dos últimos três meses e uma possível queda dos embarques no último período do mês. Entretanto, se a média diária se preservar, é possível que um volume ainda maior seja alcançado.

Por fim, destaque para as exportações com o milho, o país embarcou 345,49 mil toneladas nos primeiros 10 dias úteis deste mês. O ritmo médio diário ficou em 34,49 mil toneladas, alta de 79,55% frente o desempenho diário no mês anterior, porém, queda de 20,60% contra o mesmo período do ano passado.

  1. Grãos e o seu poder de compra

Os principais fundamentos não foram alterados no mercado de grãos, ou seja, a escalada do dólar e a escorregada das cotações em Chicago seguem colocando forte volatilidade para a soja.

Neste sentido, entre a alta de um ativo e a queda do outro, o resultado foi positivo para a soja brasileira – o indicador do CEPEA acumula alta de 2% na primeira metade deste mês com último fechamento em R$ 92,18/sc.

Além disso, o fluxo de negociações com o grão brasileiro segue em ritmo acelerado, consequência de preços convidativos as vendas junto com um mercado externo bastante comprador, ambiente que sustenta os prêmios nos portos – ao redor de US$ 0,50/bushel (embarques em abril/20 por Paranaguá).

O milho também seguiu seu viés altista, a baixa disponibilidade do cereal combinado com recomposição dos estoques dos consumidores elevou as indicações do mercado spot aos seus maiores valores nominais. O CEPEA acumula valorização de 7,5% desde o início deste mês, com último fechamento em R$ 57,58/sc.

Fonte: Broadcast AE / B3 / Agrifatto

  1. O destaque:

O destaque da última semana ficou para a rápida e forte queda dos contratos futuros do boi gordo em bolsa, um cenário que trouxe toda a curva futura para patamar inferior.

Os recuos confirmam um claro sinal de aversão ao risco, com os players desmontando suas posições e acelerando o movimento negativo.

As quedas estão mais relacionadas ao alto nível de contágio do Coronavírus do que pela sua taxa de mortalidade, que se mantém relativamente baixa, em 3,7%, felizmente.

Mas o potencial de disseminação e o risco de que a economia possa perder tração adiciona o potencial de menor consumo, incluindo a demanda por proteínas animais.

É neste cenário que o contrato para maio/20 caiu 10,7% ao longo da última semana, equivalente a uma impressionante queda de R$ 21,90/@. Lembrando: a primeira semana de março encerrou em R$ 205,00/@, mas fechou o último pregão em R$ 183,10/@.

O momento é de turbulência, e destaca a importância do hedge.

  1. E o que está no radar?

Todas as atenções voltam-se para os possíveis efeitos da disseminação do Coronavírus, com foco sobre a nova dinâmica imposta a população. No curto prazo, o setor de turismo e refeições fora de casa devem ser diretamente impactadas.

Além disso, o afastamento das indústrias de novas compras e menor escoamento da carne bovina nesta segunda metade do mês adicionam fatores negativos.

O cenário se tornou mais nebuloso, e mais turbulência pode estar a caminho.