Os eventuais efeitos do coronavírus na China nas exportações brasileiras de commodities agrícolas devem ser revertidos no segundo semestre deste ano, diz o coordenador do Núcleo Agronegócio Global do Insper, Marcos Jank. “O cenário deve ser semelhante ao observado na greve dos caminhoneiros de 2018, quando houve recuo momentâneo nos embarques por bloqueios logísticos, que logo foram recuperados por maiores volumes no segundo semestre do ano” disse ele ao Broadcast Agro.

O professor observou, entretanto, que as preocupações com a economia mundial, acentuadas pela disseminação do coronavírus, se intensificaram com a disputa de preços do mercado de petróleo, o que causou fortes perdas nos mercados financeiros na segunda-feira (9). “Já estava uma situação complicada com o coronavírus e agora, com esse problema, tem risco ainda maior para a economia mundial.” Até fevereiro, os dados da balança comercial do agronegócio não mostram qualquer retração nos embarques de produtos para a China por causa do surto.

Segundo Jank, uma possível queda nas remessas para a China pode se dar pelos entraves no fluxo da cadeia, em virtude das medidas tomadas para controle do coronavírus, e não de menor demanda do país asiático. “Os produtos agrícolas, diferentemente de outras commodities, são bens tão fundamentais que não podem simplesmente ser cortados da balança. Até a entrada da safra norte-americana 2020/21, o Brasil continua sendo o principal fornecedor de grãos para eles”, avalia Jank. Ele acrescenta que, além dos grãos, a China vai continuar necessitando das carnes brasileiras até a recuperação do plantel de suínos após a epidemia da peste suína africana.

Jank analisa que no primeiro momento houve um “pânico exagerado” de especulações quanto à queda na balança comercial entre os dois países. “A questão não é a doença em si e sim os reflexos econômicos. Mas com as medidas equacionadas, o fluxo deve voltar à normalidade com certo retardo.”

Para o especialista, ainda é cedo para projetar uma baixa imediata nas exportações para o país asiático, em virtude dos produtos agrícolas serem centrais para a cadeia produtiva chinesa. “Após a identificação do surto, a importação de commodities pela China não estava ocorrendo na velocidade necessária em função do travamento logístico, principalmente para produtos perecíveis. Mas trataram-se de problemas momentâneos, que já foram resolvidos”, pontua. O escoamento de produtos agrícolas por toda a cadeia produtiva chinesa, considera Jank, está mais lento, mas continua ocorrendo normalmente.

A China, somada a região autônoma de Hong Kong, responde por 36% das exportações agrícolas brasileiras, segundo dados do Núcleo de Agronegócio Global do Insper. No caso da soja, a participação do país representa entre 70% a 80% dos embarques do Brasil, enquanto nas carnes é da ordem de 40%, variando conforme a proteína. Do lado das importações brasileiras, 38% dos pesticidas utilizados nas lavouras domésticas vêm da China. (AE)