A inflação oficial do Brasil voltou a acelerar em fevereiro e ficou acima do esperado com os reajustes sazonais de educação, porém registrou, ainda assim, a taxa mais baixa para o mês em 20 anos.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve em fevereiro alta de 0,25%, depois de registrar avanço de 0,21% no mês anterior, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira.

A leitura é a mais fraca para o mês desde 2000, quando foi de 0,13%, mas ficou acima da expectativa em pesquisa da Reuters de ganho de 0,15%.

No acumulado em 12 meses o IPCA foi a 4,01% em fevereiro, depois de ter chegado a uma alta de 4,19% em janeiro e ante taxa de 3,9% esperada em pesquisa da Reuters. O centro da meta de inflação para este ano é 4%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

“São taxas muitos próximas em janeiro e fevereiro, mas com explicações diferentes. Agora houve peso forte da educação, mas em janeiro houve fatores como queda das carnes, mas pressão de transportes e outros”, disse Pedro Kislanov, o gerente da pesquisa do IBGE.

“A taxa de 12 meses continua cedendo e mostra que a tendência é de uma inflação bem comportada”, completou.

O mês de fevereiro mostrou, segundo o IBGE, forte impacto do grupo Educação, que também registrou a maior variação, uma alta de 3,70%.

Isso reflete o avanço de 4,42% dos cursos regulares, item que deu ainda a maior contribuição individual para a taxa do IPCA de fevereiro. Os cursos diversos também se destacaram, após subirem 2,67%.

Os avanços de 0,73% nos preços e Saúde e cuidados pessoais e de 0,11% dos Alimentos e bebidas também tiveram impactos relevante.

Na outra ponta, Habitação recuou 0,39 e os custos de Vestuário caíram 0,73%.

O cenário de fraqueza da economia vem reprimindo a demanda e o consumo no Brasil. Em 2019, a atividade econômica cresceu apenas 1,1%, após expansão de 1,3% registrada tanto em 2018 quando em 2017.

As expectativas agora giram em torno da reunião de política monetária do Banco Central na semana que vem, depois de indicar novo corte na taxa básica de juros Selic ao afirmar que monitora atentamente os impactos do coronavírus nas condições financeiras e na economia brasileira.

As altas sucessivas do dólar ante o real, atingindo máximas recordes, também podem exercer alguma pressão sobre a inflação.

“Não vemos ainda impacto do dólar sobre os preços. Primeiro que tem um atraso entra alta e repasse, e esse repasse está comprometido por conta da conjuntura (econômica). A capacidade de rapasse ainda está limitada com a demanda fraca”, explicou Kislanov.

O gerente do IBGE ainda destacou que os efeitos do coronavírus sobre os preços pode aparecer mais para a frente, e em direções diferentes.

“Estamos vendo corrida lá fora por produtos como papel higiênico e pode, eventualmente, faltar em alguns mercados e aumentar preços. Por outro lado, pode haver queda nos preços de viagem, passagens, turismo, mas aumento da demanda por remédios e alimentos”, disse Kislanov. (Reuters)