O dólar sofreu nesta terça-feira a maior queda diária em seis meses, voltando à casa de 4,64 reais diante de uma combinação de alívio externo e atuação do Banco Central, após na véspera a cotação ter flertado com a marca de 4,80 reais e batido novo recorde histórico.
O dólar à vista encerrou em baixa de 1,69%, a 4,6457 reais na venda, maior baixa diária desde 4 de setembro de 2019 (-1,79%).
Na B3, o dólar futuro —cujos negócios terminam às 18h— caía 1,66% às 17h33, para 4,6550 reais.
O dia foi de ajustes e alívio depois do caos da véspera, quando o tombo histórico do petróleo arrastou para baixo várias classes de ativos financeiros e golpeou um sentimento já fragilizado pelos temores relacionados ao coronavírus.
Notícias sobre a disposição dos principais bancos centrais do mundo para adotar mais estímulos e negociações entre autoridades de governos sobre pacotes de ajuda econômica ajudaram a trazer alguma calma aos mercados em todo o mundo neste pregão.
O principal índice das ações brasileiras saltou mais de 7%, maior alta desde janeiro de 2009. O índice referencial da bolsa de Nova York disparou quase 5%, e o petróleo WTI ganhou 10,4%.
As moedas emergentes, contudo, mostravam desempenho misto, e o real encabeçou a lista de melhor desempenho entre 33 rivais do dólar na sessão. A venda de mais 2 bilhões de dólares em moeda à vista pelo Banco Central combinada com a percepção de que o BC pode estar menos confortável com queda de juros na próxima semana ajudou a divisa brasileira a se destacar positivamente nesta terça.
A discussão sobre mais reduções da Selic segue no radar do mercado, já que novo afrouxamento monetário poderia reduzir mais o diferencial de retornos entre a renda fixa brasileira e a de outros países emergentes, o que jogaria contra um fluxo cambial que já está negativo no ano depois de saída líquida recorde em 2019.
Vicente Matheus Zuffo, diretor de investimentos da SRM Asset, lembra que o real tem se comportado pior que seus pares emergentes desde o último corte de juros pelo Copom (5 de fevereiro), enquanto a curva longa de juros tem caído menos que a parte intermediária.
“Um corte, ainda mais de 75 pontos-base, provavelmente faria a curva empinar ainda mais e manteria o real insistentemente fraco”, disse.
O Copom volta a se reunir em 17 e 18 de março.
Na véspera, o diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra, afirmou que o câmbio passou a ser o “canal mais relevante de transmissão de política monetária”, reflexo da queda dos diferenciais de juros.
Dado que o real está entre as moedas que mais se depreciam neste ano, a declaração de Serra foi entendida como uma indicação de que o BC está cauteloso com os efeitos da desvalorização cambial sobre a inflação. (Reuters)