O Banco Central intervirá no mercado de câmbio com instrumentos e montante necessários para acalmar o mercado e promover a funcionalidade das operações, disse nesta segunda-feira o diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, acrescentando que o BC tem a política monetária como ferramenta para conter efeitos da crise externa.
“Neste momento o que podemos fazer é colocar todos os instrumentos na mesa, como vamos atuar, ainda está muito cedo para saber qual necessidade a gente vai ter, está claro no mercado de câmbio”, disse Serra em evento em São Paulo.
“Diferente de outros BCs, ainda temos espaço na política monetária, a política monetária está mais potente hoje do que no passado. Temos montante de compulsório que outros BCs não têm, e a gente tem algo que não tínhamos antes de 2011, que é a regulação prudencial brasileira”, acrescentou.
A mensagem vem num dia de nova forte alta do dólar ante o real, em meio a uma acentuada volatilidade nos mercados globais por causa da queda nos preços do petróleo após a Arábia Saudita ter lançado uma guerra de preços com a Rússia.
“Temos instrumentos mais do que suficientes para contrapor esse momento de crise”, concluiu o diretor do BC.
O BC elevou a 3 bilhões de dólares a oferta líquida de dólar à vista em leilão nesta segunda-feira, ante valor inicialmente programado de 1 bilhão, depois de na semana passada ter colocado no mercado 5 bilhões de dólares em contratos de swap cambial tradicional, também em colocação líquida.
“Isso mostra que estamos dispostos a usar o instrumento que for necessário e no volume que for necessário para acalmar o mercado”, disse Serra.
“Esta é uma conjuntura que permite ao BC dispor de todos os seus instrumentos, no volume que entender apropriado, para promover o regular funcionamento do mercado de câmbio”, acrescentou.
Serra pontuou ainda que o BC não tem preconceito ou preferência por uso de nenhum dos instrumentos à sua disposição. Ele lembrou que, no ano passado, divulgou as motivações que o levaram a trocar a oferta de swaps cambiais por dólar à vista, oferecendo a liquidez demandada pelo mercado, mas sem alterar a posição cambial líquida.
“A redução do nível e da volatilidade do cupom cambial no período recente, especialmente para os vértices entre um e dois anos, aponta para o sucesso da atuação do BC”, acrescentou.
“Vamos continuar fazendo (intervenções no câmbio) no montante que for necessário enquanto entendermos que o mercado não está funcionando de modo regular.”
TEMPO NECESSÁRIO
O diretor do BC afirmou que, apesar de “pontuais” e de acreditar que faça sentido que assim o sejam, o BC vai intervir pelo tempo que for necessário. “Acho que a discricionalidade na atuação do câmbio é um ativo que o BC tem, e a gente não pretende abrir mão desse ativo nesse momento”, disse.
Ele reconheceu que, desde o início das preocupações com a propagação do coronavírus, o real mostrou tendência de depreciação acelerada, semelhante a períodos de crise aguda. Esse movimento desde o começo deste ano “não é explicado nem pela redução no diferencial de juros nem pelo risco país”, afirmou ele.
Em comentários no evento, Serra disse que a liquidez do real nos mercados e eventual uso da moeda como “hedge” pode ter acelerado a desvalorização da divisa brasileira.
Mas o diretor citou que a posição cambial do BC, de 330 bilhões de dólares, está em seu maior nível histórico em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), de cerca de 20%, e que constitui um “seguro robusto” contra choques externos.
Questionado sobre o impacto dos movimentos nos mercados na inflação, Serra se limitou a responder que o BC ainda tem algum tempo para avaliação. “O cenário tem evoluído muito rápido. A gente vai precisar se debruçar sobre o assunto e avaliar a melhor forma” na reunião do Copom deste mês.
Serra fez algumas considerações sobre o atual cenário brasileiro, ao destacar que as transações correntes seguem financiadas pelo fluxo de investimento direto em participação no capital, frisando também que o passivo externo líquido é predominantemente em moeda local.
Em outra frente, ressaltou que as empresas não financeiras têm reduzido passivo externo e sua exposição cambial e que os investidores estrangeiros vêm diminuindo suas posições em dívida local. (Reuters)