O Ministério da Agricultura da Argentina suspendeu nesta quarta-feira os registros de exportações agrícolas do país até segunda ordem, anunciou a pasta em comunicado, em medida vista por operadores como um passo que pode anteceder um significativo aumento nas tarifas de exportação de grãos.
“Quando eles suspendem os registros, é porque algo está por vir”, disse à Reuters o consultor agrícola Nestor Roulet, que atuou como secretário de Agronegócios no governo anterior, de Mauricio Macri, em entrevista por telefone.
Em dezembro, o novo governo argentino, do peronista Alberto Fernández, ampliou as taxas para exportação de soja, trigo e milho, com o objetivo de aumentar receitas. O país busca evitar um “default” de sua elevada dívida soberana.
Roulet, que estima que o governo possa aumentar as retenções em 3%, afirmou que a arrecadação com impostos apenas sobre a soja poderia crescer em 513 milhões de dólares.
A medida, entretanto, pode representar perdas de centenas de milhões de dólares em receitas para os agricultores do país, disse o consultor.
Atualmente, as tarifas sobre as exportações de soja do país são de 30%, em um momento em que a Argentina enfrenta uma profunda recessão econômica e caminha para uma reestruturação de cerca de 100 bilhões de dólares em sua dívida soberana.
A Confederação Rural da Argentina (CRA) disse em comunicado que foi surpreendidas pela medida, que deixa “um profundo sentimento de decepção”.
Os contratos futuros da soja negociados em Chicago ampliaram sua recuperação nesta quarta-feira, após uma queda acentuada nesta semana, uma vez que investidores anteciparam que mudanças nas taxas de exportação da Argentina poderiam reduzir a competitividade de um importante exportador.
Além de ser grande exportadora de soja, a Argentina também é uma fornecedora relevante de trigo e milho.
No caso do trigo, boa parte do que o país exporta tem como destino o Brasil.
Procurado, o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa, disse que a suspensão dos registros, por ora, não impacta os negócios.
“Não está havendo importações de trigo argentino. Por isso, não muda nada por enquanto”, disse ele, por meio da assessoria de imprensa.
Ele explicou que a indústria brasileira está estocada no momento, o que restringe o interesse por importações neste momento.
Em janeiro, das 647,8 mil toneladas de trigo que o Brasil importou, segundo a Abitrigo, 615,5 mil toneladas do cereal tiveram origem na Argentina. (Reuters)