Trabalhos de boas práticas de manejo desenvolvidos em fazendas de cria de gado de corte têm apresentado resultados relevantes no desempenho e na saúde dos bezerros. No criatório Bela Vista Senepol, de Paulo de Faria (SP), logo após o nascimento, os animais passam pelos primeiros procedimentos sanitários e de identificação. Tudo acompanhado de uma cuidadosa massagem para tornar o menos traumático possível o momento em que os animais ficam afastados da mãe.

Segundo a pecuarista Talita Costa Garcia, desde quando a fazenda passou a adotar a técnica, a diferença no comportamento e desempenho do gado é visível. Este é o primeiro ano em que as técnicas de boas práticas de bem-estar vêm sendo implementadas. “A ideia é adotarmos as boas práticas de manejo tanto em bezerros senepol puros de origem como em bezerros meio-sangue senepol x nelore. E a experiência está sendo muito bem sucedida”, afirma Talita. 

Estudos apontam que essa estimulação tátil pode melhorar o desenvolvimento cerebral dos filhotes, resultando em maior ganho de peso, maior eficiência na resposta imune e na obtenção de comportamentos mais desejáveis, facilitando a realização de manejos futuros. Os primeiros resultados de pesquisas foram obtidos em fazendas leiteiras, mas na pecuária de corte também já existem dados que comprovam o êxito do procedimento. 

Os colaboradores do criatório Bela Vista Senepol mostraram muito empenho em seguir o protocolo. “A partir desse primeiro manejo, todos os outros ficam mais fáceis. Os bezerros estão mais dóceis e tranquilos e conseguimos administrar com facilidade os medicamentos e os procedimentos de identificação”, explica a pecuarista. Outra medida adotada foi o uso de colares de identificação por um curto período até cicatrizarem os furos da orelha.

As dicas de como fazer vieram de uma veterana em boas práticas, a pecuarista Carmen Perez, que comanda a Agropecuária Orvalho das Flores, próximo a Barra do Garças (MT). Há 12 anos, ela introduziu práticas de bem-estar animal na propriedade, cujo foco é a cria.

“Mas não é só a massagem nos primeiros dias de vida e na cura de umbigo que entra como boa prática de manejo na Orvalho das Flores. Desde o nascimento até o embarque, tudo é pensado para não estressar os animais e, consequentemente, ganhar em saúde e desempenho. A identificação por marcação a fogo deixou de ser feita, a bandeira é usada para conduzir o gado, tudo devagar e sem gritaria”, ela diz. 

Segundo Carmen, com todos os cuidados adotados, a Orvalho das Flores reduziu os problemas de mortalidade no curral e o ganho de peso dos bezerros melhorou, assim como os índices de fertilidade das fêmeas. “São práticas que precisam de constância para dar resultado. É um desafio para toda a equipe, mas quando os tratadores percebem que eles são também beneficiados, pois o manejo torna-se muito mais fácil e os riscos de acidente diminuem, aceitam bem as técnicas”, assegura. 

É importante aproveitar todas as oportunidades de interação com os animais na fazenda para que a memória do bezerro seja construída de forma positiva quanto à interação humano-animal, ela explica. E que, depois, possa ser fortalecida com a adoção de boas práticas nos outros manejos, como pesagens, aplicação de medicamentos, visitas ao curral etc. “No caso da raça Senepol, que já tem como característica a docilidade, o uso das técnicas será muito mais fácil para os tratadores e os resultados certamente serão mais rápidos”, diz Carmen. (Globo Rural)