Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto
Caroline Matos é zootecnista e trainee pela Agrifatto

 

Resumo da semana:

O mercado pecuário seguiu com poucas novidades na segunda semana de fevereiro, ou seja, os valores continuaram sustentados pela baixa oferta, mas novas revisões positivas ainda esbarram no lento escoamento da carne bovina.

O cenário também se mostra mais regionalizado, com as programações de abate em algumas praças paulistas mais alongadas, enquanto a disponibilidade segue bastante restrita em outras regiões.

As valorizações do câmbio neste mês também chamaram a atenção, a alta da moeda norte-americana acontece em uma cesta de moedas, consequência das incertezas pela disseminação do coronavírus. Enquanto isso, o dólar alcança R$ 4,40.

Por fim, espera-se que o carnaval nesta semana esfrie as negociações pelo boi gordo, a falta de novidades deve manter as indicações atuais, com possibilidade de altas caso os estoques precisem ser recompostos.

  1. Na tela da B3

Na esteira de um mercado físico sem grandes novidades, com um indicador do CEPEA variando entre R$ 195,00 e R$ 197,00/@, os futuros do boi também estavam resistentes, com dificuldades em buscar patamares mais altos.

Mas o levantamento da Esalq surpreendeu quando subiu 5% na comparação diária e alcançou R$ 202,85/@ na última quinta-feira (20/fev).

Com o indicador que liquida os contratos em bolsa mais fortalecido, os futuros finalmente encontraram espaço para novas altas.

As valorizações foram relativamente tímidas, mas alguns contratos recuperaram os valores mais altos em mais de dois meses. Este foi o movimento do contrato mais curto, o vencimento para fevereiro/20, alcançando R$ 200,00/@ (maior valor desde o início de dezembro).

Em intensidades diferentes, o mesmo movimento aconteceu para os contratos de maio e outubro/20, com altas de 1,28% e 1,44%, respectivamente.

  1. Enquanto isso, no atacado…

A carcaça casada bovina perdeu força na última semana. No atacado paulista, o boi casado está balizado em torno de R$ 13,00/kg – baixa de 3,70% na comparação semanal, mas ainda preserva valores 8,84% acima do mês anterior.

O frango resfriado permaneceu estável, com predomínio em R$ 4,21/kg na última semana. Já na comparação mensal caiu 12,12%.

A carcaça especial suína avançou sutilmente, com fechamento em R$ 8,10/kg – alta de 1,00% ante a semana anterior.

Segundo levantamento do CEPEA, o spread (diferença de preços entre a carne bovina vendida no atacado e a arroba do boi gordo), continua positivo, encerrando a terceira semana de fevereiro em 4,22%.

  1. No mercado externo

As exportações semanais referentes a terceira semana de fevereiro devem ser divulgadas na quinta-feira (27/fev) desta semana. Até o 10° dia útil deste mês foram embarcadas 61,18 mil toneladas de carne bovina in natura.

Entre janeiro e a 2° semana deste mês, foram enviadas 178,19 mil toneladas de proteína bovina in natura.

Em janeiro/20, as exportações de carne bovina total somaram aproximadamente 143 mil toneladas. Neste total, a China foi responsável por 37%, seguida por Hong Kong (7%), Chile (4%), Egito (4%), Rússia (3%) e Emirados Árabes Unidos (3%).

As exportações de carne bovina in natura totalizaram 117 mil toneladas, dentre isso, a China foi responsável 45,5% do total.

Já os envios de miúdos, carnes salgadas, tripas e industrializados, alcançaram 26 mil toneladas, com Hong Kong liderando o pódio (30%), seguido pelo Reino Unido (25%), Serra Leoa (6%), Costa do Marfim (5%) e Estados Unidos (5%).

  1. O destaque:

A valorização do câmbio foi o destaque da última semana, em um claro cenário de aversão ao risco pelo coronavírus, com nova máxima em R$ 4,394/US$ (20/fev).

Novos números sobre o surto na China apontam 75.465 pessoas infectadas pelo vírus, com 2.236 mortes registradas. Mas preocupações avançam com novos óbitos no Japão, Coréia do Sul e no Irã.

É cedo para afirmar seu impacto sobre a demanda asiática, ou o tempo necessário para que a sua atividade seja retomada a pleno vapor, enquanto isso, aumentam as dúvidas sobre um choque na economia mundial.

A certeza? Fica para o reflexo nas moedas mundiais.

O dólar não tem se valorizado apenas sobre o real, o dólar index (relação do dólar com uma cesta de moedas) fechou em 99,879 pontos na última quinta-feira (20/fev) – maior valor desde 21 de abril de 2017.

É fato que os riscos pelo Coronavírus ainda existem, mas há também certo otimismo sobre o seu controle nas próximas semanas. Um cenário mais otimista fica para retorno aquecido da China às compras em meados de março.

  1. E o que está no radar?

Espera-se que o carnaval no Brasil enxugue parte da liquidez do mercado pecuário. As negociações devem ficar mais lentas, e a ausência de novidades deve manter as atuais indicações pelo animal terminado.

Mas vale um destaque, as programações de abate estão mais regionalizadas, o que pode gerar cenários distintos entre as praças. Algumas regiões de São Paulo, por exemplo, estão com programações mais alongadas, o que limita o potencial da arroba superar os atuais níveis.

Por outro lado, o cenário é de menor oferta no Mato Grosso e Tocantins, onde reajustes das indicações podem acontecer.

 

Um abraço e até a próxima semana!