A exportação de soja do Brasil à China deverá cair cerca de 15% em 2020, impactando as vendas externas do principal produto de exportação do país, que tem nos chineses o maior mercado, avaliou o Rabobank, instituição holandesa com foco no agronegócio.

A redução ocorre em meio a fatores negativos para a exportação brasileira, como o acordo comercial sino-americano, a peste suína africana, que reduz a demanda por soja, e agora o coronavírus, cujos efeitos deverão ser sentidos no curto prazo, considerando um cenário sem descontrole do problema de saúde pública.

Os embarques brasileiros totais, estimados em 70 milhões de toneladas para todos os destinos, ante 74 milhões em 2019, devem cair menos (5,4%) ante a expectativa de redução de vendas para a China, na avaliação de analistas do Rabobank.

A China importaria algo próximo a 45 milhões de toneladas do Brasil neste ano, versus 53 milhões de toneladas em 2019.

Mas essa redução esperada, por ora, está muito mais ligada a uma maior concorrência dos EUA para o maior exportador global, do que a efeitos do coronavírus para os negócios, sinalizaram os analistas Victor Ikeda e Lief Chiang, em entrevista por email à Reuters.

“Os efeitos do coronavírus devem ser mais concentrados no curto prazo. Dessa forma, a fase 1 do acordo comercial entre China e EUA deve ser o principal fator que pode influenciar nas exportações brasileiras de soja em 2020”, afirmou Ikeda, analista sênior do Rabobank Brasil.

“Caso realmente os EUA retomem as exportações de soja para a China e os chineses consigam ter como incentivar as importações de soja americana…, provavelmente as exportações do Brasil para a China tendem a recuar”, comentou ele, lembrando do acordo comercial.

Isso em um cenário em que as importações anuais de soja da China, maior importador global, vão crescer entre 4% e 5% este ano.

A China comprou 88,5 milhões de toneladas de soja em 2019, com alta de apenas 0,57%, segundo dados oficiais.

EFEITO NO CURTO PRAZO

Chiang, do departamento de Análise e Pesquisa Setorial do Rabobank na Ásia, disse que o coronavírus terá um impacto negativo na importação de soja da China principalmente no primeiro e no segundo trimestre, “possivelmente”.

Ele destacou ainda que nas próximas semanas mais processadoras planejam retomar as operações normais, assim como devem ser solucionados gradualmente problemas logísticos gerados pelo coronavírus, que já matou 1.367 pessoas na China, paralisando indústrias, como processadoras de soja, e afetando o transporte de mercadorias.

“Neste estágio, acredito que a China continuará importando soja, mas em um ritmo mais lento, pelo resto do primeiro trimestre”, disse ele, destacando ainda que o Brasil, em processo de colheita de uma safra recorde, está com o produto mais competitivo com os EUA.

A programação de navios para fevereiro no Brasil, contudo, está forte, com a possibilidade de o país exportar mais soja após embarques menores em janeiro, afetado também por uma colheita mais tardia em 2020, além de menores compras da China.

Os embarques mais competitivos do Brasil, neste momento, tem pressionado as exportações semanais dos EUA para a China, que atingiram uma mínima de dez meses, informou nesta quinta-feira o governo dos EUA.

Já em janeiro, do total de soja exportada pelo Brasil de 1,5 milhão de toneladas, a China levou 1,1 milhão de toneladas, enquanto no mesmo mês de 2019 os embarques totais do país ficaram em cerca de 2 milhões de toneladas, com a China comprando 1,9 milhão de toneladas, segundo os números do Ministério da Agricultura. (Reuters)