O déficit comercial dos Estados Unidos caiu pela primeira vez em seis anos em 2019, quando a guerra comercial entre a Casa Branca e a China reduziu a conta de importação, mantendo a economia em trajetória de crescimento moderado apesar de uma desaceleração nos gastos do consumidor e do investimento empresarial fraco.

O relatório do Departamento de Comércio divulgado nesta quarta-feira também mostrou que a agenda “América Primeiro” do governo Trump diminuiu o fluxo de mercadorias no ano passado, com as exportações caindo pela primeira vez desde 2016. O presidente Donald Trump, que se autodenomina “o homem das tarifas” comprometeu-se a reduzir o déficit interrompendo importações negociadas injustamente e renegociando acordos de livre comércio.

Trump argumentou que o corte substancial do déficit comercial aumentará o crescimento econômico anual para 3% de forma sustentável. A economia, no entanto, não atingiu essa marca, crescendo 2,3% em 2019, resultado mais lento em três anos, depois de expandir 2,9% em 2018.

O déficit comercial caiu 1,7% para 616,8 bilhões de dólares no ano passado, diminuindo pela primeira vez desde 2013. Isso representou 2,9% do PIB, abaixo dos 3,0% de 2018. As importações de bens caíram 1,7% no ano passado, também primeira queda em três anos.

Os EUA importaram 2,4 bilhões de barris de petróleo, menor volume desde 1992, uma vez que o país reduz de forma significativa sua dependência do petróleo estrangeiro em maio à alta na produção e exploração.

A queda de 1,3% nas exportações foi liderada por reduções nos embarques de bens de capital, insumos e materiais industriais, além de outros bens.

No auge da guerra comercial EUA-China, no ano passado, Washington impôs tarifas sobre bilhões de dólares em mercadorias chinesas, incluindo produtos de consumo, levando a um declínio nas importações.

O déficit comercial de mercadorias com a China caiu 17,6% em 2019, para 345,6 bilhões de dólares.

A Casa Branca também brigou com outros parceiros comerciais, incluindo União Europeia, Brasil e Argentina, acusando-os de desvalorizarem suas moedas às custas da indústria norte-americana.

As importações de mercadorias se recuperaram acentuadamente em dezembro, impulsionando o déficit comercial a 11,9%, para 48,9 bilhões de dólares naquele mês. Os dados de novembro foram revisados para mostrar déficit de 43,7 bilhões de dólares, em vez dos 43,1 bilhões relatados anteriormente.

Economistas consultados pela Reuters previam que o déficit comercial aumentaria para 48,2 bilhões de dólares em dezembro.

Em dezembro, as importações de mercadorias subiram 3,2%, atingindo uma máxima em sete meses de 207,5 bilhões de dólares depois de cair por três meses consecutivos.

As importações de mercadorias foram impulsionadas por um aumento de 1,7 bilhão de dólares nas importações de petróleo, o que contribuiu para um salto de 4,0 bilhões nas importações de insumos e materiais industriais. Houve também um aumento de 1,2 bilhão de dólares nas importações de outros bens.

EMPREGO

Em dado separado, o Relatório Nacional de Emprego da ADP mostrou que a criação de vagas no setor privado dos EUA atingiu 291 mil em janeiro, maior número desde maio de 2015, depois de marcar 199 mil em dezembro. O emprego no setor privado provavelmente se beneficiou do clima anormalmente ameno e por um desvio sazonal, em meio a sinais de que o crescimento geral do emprego norte-americano desacelerou.

Essa pesquisa tem um histórico pobre em prever o componente privado do relatório mais abrangente de emprego do governo dos EUA, por causa de metodologias diferentes. O relatório oficial de emprego dos Estados Unidos será divulgado na sexta-feira.

“Sempre ficamos céticos em relação à precisão da ADP, e esse ceticismo é dobrado todo janeiro porque as empresas tendem a retirar nomes das folhas de pagamentos no início do ano, mesmo que essas pessoas possam não ter trabalhado para essa empresa por vários meses”, disse Paul Ashworth, economista-chefe para os EUA da Capital Economics.

“Essa distorção costumava, ocasionalmente, gerar leituras muito fracas no início do ano mas, neste caso, parece que a ADP pode ter exagerado com um ajuste.” (Reuters)