Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto
Caroline Matos é graduanda em zootecnia pela USP e estagiária pela Agrifatto
Resumo da semana:
A baixa demanda por carne bovina no mercado interno segue como principal limitante das cotações do boi gordo, mantendo a indústria cautelosa durante a aquisição de matéria-prima, evitando o acúmulo de estoques.
Na última semana já foram registradas negociações da carcaça casada no atacado paulista entre R$ 11 e R$ 11,50/kg – mesma faixa de preço vista em outubro/19.
Entretanto, com a proximidade de fevereiro é possível que haja maior fluxo de negociações na última semana deste mês, colocando no radar um possível mercado mais fortalecido ou com novos reajustes dos preços.
Destacamos as renegociações das importadoras chinesas, o que tem apertado a margem de ganho dos frigoríficos que passaram de 20% (durante o pico histórico de preços) e agora estão balizadas entre 8 e 9%.
- Na tela da B3
Os preços futuros interromperam seu o movimento de queda na última semana, mostrando também avanço da liquidez nos contratos mais curtos (janeiro, fevereiro e março/20).
Vale lembrar que a arroba do boi gordo passa por pressões negativas no mercado spot, consequência de demanda mais enfraquecida neste momento.
Portanto, o fato dos contratos futuros mostrarem sustentação neste período de mercado físico mais fraco, alimenta a perspectiva de recuperação dos preços na B3 nesta semana. Além disso, o movimento de revisão para cima pode ganhar fôlego ainda maior se o escoamento da carne no atacado também ganhar tração pela virada do mês.
Por fim, o valor em R$ 185,00/@ se mostra como o principal suporte de preços dos contratos futuros neste momento.
- Enquanto isso, no atacado…
A comercialização de carne bovina continua lenta, causando revisões negativas de seus preços no atacado.
O boi casado encerrou a última semana, segundo o último levantamento do Cepea, cotado a R$ 13,31/@ (queda de 1,92% na comparação semanal).
Entretanto, há registros de negociações abaixo disso, orbitando a faixa dos R$ 11,00 e R$ 11,50/kg – mesmos preços vistos em outubro/19.
O frango resfriado perdeu força, fechou cotado em R$ 4,32/kg – baixa de 9,53% e acumula queda mensal de 12,99%.
A carcaça especial suína também desacelerou, encerrando a semana em R$ 8,17/kg no atacado paulista, baixa de 8,00% quando comparada a semana anterior. Nos últimos 30 dias acumula baixa de 18,58%.
O spread (diferença de preços entre a carne bovina vendida no atacado e a arroba do boi gordo), continua positivo, encerrando a quarta semana de janeiro em 1,85%.
- No mercado externo
As exportações de carne bovina in natura referentes aos 17 (dezessete) primeiros dias úteis de janeiro/20 contabilizaram um volume total de 92,46 mil toneladas e uma receita de US$ 458,30 milhões.
A média diária registrada ficou em 5,44 mil toneladas, baixa de 23,22% em relação à média de dezembro/19, mas aumento de 16,82% frente ao desempenho do mesmo período de 2019.
O valor médio por tonelada registrou-se em US$ 4.956,54, queda de 1,84% em relação à média do mês anterior, e valorização de 32,22% quando comparado com o valor médio de janeiro/19.
A média diária das exportações desaceleraram novamente na quarta semana de janeiro, caindo 10,55% quando comparada à semana anterior. Sendo isso, nossas projeções foram ajustadas, e estão calculadas entre 115 e 120 mil toneladas até o final do mês.
Por fim, as exportações com milho nos primeiros 17 dias úteis deste mês somaram 1.955 milhão de tonelada, queda de 44,73% em comparação à média diária do mês anterior, e baixa de 34,57% frente ao mesmo período em 2019.
- O destaque:
O destaque da última semana foram as tentativas massivas das importadoras chinesas em renegociar os contratos com a exportadoras de carne bovina brasileira.
A Valor Econômico, em levantamento recente, divulgou que os importadores chineses estão impondo descontos de pelo menos US$ 1 mil por toneladas em cargas que já haviam sido enviadas (cargas em alto mar) ou nos portos.
O fato é que a margem dos frigoríficos ficou apertada após a massiva movimentação de renegociação, passando de 20% (durante o pico histórico de preços da arroba) para níveis entre 8,0 e 9,0%.
Parte da motivação das renegociações está relacionada com a disparada na inflação dos alimentos na China, que encerrou 2019 acima de 15%, quando no início do ano estava balizada em 2%.
E assim, o governo passou a restringir as linhas de créditos para importadores – a fim de diminuir a especulação. Aliado a isso, os preços elevados da proteína bovina fizeram com que os compradores chineses começassem a renegociar antigos contratos com seus fornecedores.
A expectativa é que após as festividades do Ano Novo Chinês, o mercado busque por novo equilíbrio, visto que o cenário ainda aponta para restrição de carne suína.
- E o que está no radar?
Com a proximidade do próximo mês, há expectativa que o fluxo de saída de carne no mercado interno melhore, visto que o período sazonal é mais favorável para compra de proteína animal pela população.
Sendo assim, as indústrias podem começar a reabastecer seus estoques, o que pode proporcionar suporte dos preços atuais ou até mesmo reaquecer as cotações da arroba.
Fica no radar o comportamento das vendas de carne bovina no início do mês e seu impacto às indicações do boi gordo.
Um abraço e até a próxima semana!