Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto
Caroline Matos é graduanda em zootecnia pela USP e estagiária pela Agrifatto
Resumo da semana:
O baixo fluxo de negociações no mercado físico continuou neste início de 2020, especialmente pela menor necessidade de compras das indústrias (que seguem cautelosas na formação de estoques conforme se aproxima a segunda metade deste mês).
Com isso, o valor da arroba manteve-se praticamente estável na maior parte das praças analisadas, e continua orbitando a faixa dos R$ 200,00/@ na região paulista.
As escalas de abate iniciaram este ano menores, mas se confirmado um escoamento menor de carne bovina, as indústrias podem operar com programações menores sem necessariamente causar valorização expressiva do animal terminado.
A carcaça casada continua perdendo força, voltando aos patamares registrados em novembro/19, a média do boi casado encerrou a última semana cotado em R$ 13,53/@, baixa de 1,24% ante a semana anterior.
Por fim, o “risco” é continuidade de um mercado travado, sem grandes novidades altistas para que a arroba ganhe nova tração no curtíssimo prazo.
- Na tela da B3
A calmaria continuou sobre os contratos do boi gordo na B3, com o baixo fluxo de negociações combinado com a ausência de novos fatores altistas acomodando os preços futuros.
O contrato para janeiro/20, por exemplo, recuou 1,41% desde o início deste ano, passando de R$ 195,30/@ no primeiro fechamento de 2020 para R$ 192,55/@ na última sexta-feira (10/jan).
A expectativa do mercado de escoamento lento da carne no atacado na segunda metade deste mês também colabora para limitar altas mais expressivas no curto prazo. Por outro lado, os recuos alcançaram suportes gráficos de preços, e podem tentar recuperação ao longo desta semana.
Este cenário de inversão de tendência precisará ser confirmado nos próximos dias, e deve acontecer na esteira de um mercado físico mais fortalecido.
O fato é que o intervalo de preços para 2020 pela B3 continua entre R$ 190,00 e R$ 210,00/@, equilíbrio que tem predominado entre as negociações recentes nas praças paulistas.
- Enquanto isso, no atacado…
A carcaça casada bovina continuou perdendo força na última semana, demonstrando a cautela das indústrias sobre o escoamento de carne bovina no mercado interno durante o mês de janeiro.
O boi casado encerrou a última semana com média em R$ 13,53/@, baixa de 1,24% ante a semana anterior. Na comparação mensal, acumula queda de 7,46%.
O frango resfriado se mantém firme no atacado paulista, fechou cotado em R$ 4,95/kg – alta de 0,20% e acumula alta mensal de 1,96%.
A carcaça especial suína permaneceu praticamente estável, sendo cotada a R$ 9,98/kg no atacado paulista, baixa de apenas 0,75%. Nos últimos 30 dias acumula alta de 6,12%.
O spread (diferença de preços entre a carne bovina vendida no atacado e a arroba do boi gordo), encerrou a última semana em 4,94%.
- No mercado externo
As exportações de carne bovina in natura referentes aos 7 (sete) primeiros dias úteis de janeiro/20 contabilizaram um volume total de 55,48 mil toneladas e uma receita de US$ 285,49 milhões.
A média diária registrada ficou em 7,92 mil toneladas, alta de 11,87% em relação à média do mês anterior, e aumento de 70,22% frente ao desempenho do mesmo período de 2019.
O valor médio por tonelada registrou-se em US$ 5.146,10, alta de 1,91% em relação a dezembro/19, e valorização de 7,86% quando comparado com o valor médio de janeiro/19.
Projeções preliminares deste mês apontam para 150 mil toneladas enviadas até o final de janeiro, um cálculo considerando o histórico dos últimos três meses e uma possível queda dos embarques no último período do mês. Entretanto, se a média diária se preservar, é possível que um volume ainda maior seja alcançado.
Estimativas mais conservadoras indicam alta de 4,19% frente a quantidade enviada em dezembro/19, e alta de 51,32% na comparação com o mesmo período de 2019.
Por fim, as exportações com milho nos primeiros 7 dias úteis deste mês somaram 672 mil toneladas, queda de 53,85% em comparação à média diária do mês anterior, e baixa de 45,37% frente ao mesmo período em 2019.
- O destaque:
Foi registrado surto do vírus H5N6 da gripe aviária em cisnes da região oeste de Xinjiang, na China, o Ministério da Agricultura chinês informou que 15 animais de um grupo de 150 morreram pela infecção e outros 15 estavam doentes.
Além disso, a OIE também divulgou que foi identificado um surto de H5N1 de gripe aviária na Índia, em uma fazenda de aves no Estado Central de Chhattisgarh. A contaminação com o vírus matou aproximadamente 6 mil animais, entretanto todas as aves da propriedade foram abatidas, totalizando 21 mil abates.
A situação na Polônia também acende um sinal de alerta, o país que é o maior produtor de aves da União Europeia (com quase metade da sua produção sendo exportada), confirmou três casos de gripe aviária ao final de dezembro/19, somando mais de 42 mil perus infectados. O quarto surto foi registrado em uma fazenda de galinhas poedeiras, onde encontravam-se aproximadamente 65 mil animais.
- E o que está no radar?
A ponta compradora segue atenta a comercialização da carne bovina, principalmente com a proximidade da segunda quinzena do mês, momento em que o consumo desta proteína tende a redução.
Outro ponto importante, o poder de compra diminui neste período do ano, resultado do período pós festas e pela concentração de compromissos financeiros (como impostos e material escolar). Sendo assim, a indústria segue cautelosa em novas compras e acumulação de estoques.
Portanto, o “risco” fica para falta de novidades altistas, o mercado pode continuar em ritmo relativamente lento, e confirmado menor escoamento da carne bovina nas próximas semanas, as indústrias podem operar com escalas encurtadas sem exercer pressão positiva sobre o mercado.
Um abraço e até a próxima semana!