(Reuters) – As exportações de soja do Brasil para a China em janeiro podem cair quase pela metade na comparação com o mesmo período do ano passado, considerando dados apurados até o momento da programação de navios nos portos, de acordo com informações da agência marítima Cargonave compiladas pela Reuters.
Até quinta-feira, os embarques programados para a China somavam cerca de 800 mil toneladas, com mais de dez navios agendados, ante aproximadamente 1,4 milhão de toneladas estimados em janeiro de 2019 segundo “line-up” de embarcações apurado no mesmo período do ano passado pela agência.
A redução esperada nos embarques brasileiros para a China até agora, segundo analistas, ocorre em momento em que chineses estão perto de assinar o acordo comercial fase 1 com os Estados Unidos, o que deixa compradores mais distantes da soja brasileira.
Além disso, as exportações do Brasil para a China em janeiro do ano passado, quando havia nesta época cerca de 20 navios programados para enviar soja ao país asiático, refletiram muitos negócios feitos quando a guerra comercial sino-americana estava mais acirrada.
“Janeiro do ano passado foi atípico, porque nós tivemos um recorde de exportação em 2018, e o mercado seguiu muito aquecido com as demandas da China (no início de 2019)… Até aquele momento, havia a impressão de que a disputa (China-EUA) iria durar”, explicou a consultora Andrea Cordeiro.
Ela lembrou ainda que China e EUA estão muito próximos e, conforme as notícias, devem assinar um acordo na semana que vem.
Se esse acerto entre as duas maiores economias do mundo ocorrer, a analista não descarta que haja um certo “esvaziamento” de compras do produto brasileiro, com a possível ocorrência até de “washouts”, ou cancelamento de negócios no Brasil com recompra nos EUA pelas tradings.
O analista de complexo soja Gabriel Viana, da Safras & Mercado, concorda.
“Agora apareceu uma aproximação um pouco mais forte entre EUA e China, estão mais perto de assinar algum acordo comercial. A China deve ter dado uma esfriada nas compras do Brasil, já pensando em compras de soja dos EUA”, disse ele, ao ser questionado sobre os embarques programados.
Ainda que o “line-up” aponte uma redução, o mercado relatou alguns negócios com soja brasileira esta semana.
OUTROS DESTINOS
Embora uma redução de embarques para a China seja esperada para janeiro, olhando a fotografia do “line-up” do momento, as exportações totais do país —considerando outros destinos— apontam para uma estabilidade, somando ao todo cerca de 2 milhões de toneladas.
O número de navios sem um destino claro na programação é quase o mesmo ante o registrado no ano passado, em torno de dez.
No entanto, neste ano há mais embarcações nomeadas para transportar soja para outros países que não a China, principal cliente do Brasil —ela adquiriu mais de 57 milhões de toneladas de soja do país em 2019, segundo a Cargonave.
No “line-up” de janeiro de 2019, desconsiderados navios sem indicação de destino, havia praticamente somente embarques para a China, com exceção de dois para a Rússia.
Já para janeiro de 2020, há embarques de soja previstos para Espanha (três navios), Rússia (dois), Tailândia (dois), Turquia (dois), Reino Unido (um) e Romênia (um).
A analista Ana Luiza Lodi, da INTL FCStone, comentou ainda que o Brasil está enfrentando neste janeiro uma menor disponibilidade de soja, após exportações acima do esperado em 2019 e com uma colheita (que se inicia neste mês) mais atrasada na comparação com a safra anterior.
Ana Luiza ponderou ainda que, “como estamos no começo do mês, os dados ainda podem mudar bastante”. Lembrou também que o Brasil usualmente não exporta tanta soja em janeiro, quando a colheita ainda está só começando.
Enquanto nos melhores meses os embarques de soja do Brasil costumam superar 10 milhões de toneladas, em janeiro do ano passado atingiram 2,15 milhões de toneladas, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
MILHO
As exportações de milho do Brasil também indicam um recuo na comparação com janeiro do ano passado, de acordo com dados da Cargonave.
A programação de navios aponta, até o momento, embarques de pouco mais de 1,1 milhão de toneladas, versus mais de 2,5 milhões de toneladas na fotografia do “line-up” desta época do ano passado, segundo a agência marítima.
Em janeiro do ano passado, os embarques de milho somaram 4,2 milhões de toneladas.
Segundo a analista da FCStone, as exportações de milho deverão sim ficar abaixo do ano passado em janeiro, em meio a preocupações com a oferta no primeiro semestre, enquanto não entra a segunda safra, a maior do cereal no Brasil.