(Reuters) – O choque da alta nos preços das carnes pressionou a inflação oficial do Brasil durante o ano passado, e o IPCA terminou 2019 acima do centro da meta oficial, porém dentro do limite pelo quarto ano seguido.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou em 2019 avanço de 4,31%, acima da alta de 3,75% registrada em 2018, informou nesta sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com isso, a inflação ficou acima do centro da meta do governo, de 4,25%, depois de dois anos terminando o período abaixo.
Ainda assim, foi o quarto ano seguido em que o IPCA fica dentro do intervalo definido como objetivo, já que a margem estabelecida era de 1,5 ponto percentual —para mais ou menos.
Para 2020, o governo determinou como meta inflação de 4%, mantendo a margem de tolerância em 1,5 ponto percentual.
Em dezembro, o IPCA teve alta de 1,15%, sobre avanço de 0,51% em novembro, na leitura mais elevada para o mês desde 2002, quando o índice subiu 2,10%.
As expectativas em pesquisa da Reuters com analistas eram de alta de 1,08% em dezembro, acumulando em 12 meses avanço de 4,23%.
O último mês do ano foi marcado principalmente pela pressão dos preços das carnes, que exerceram o maior impacto individual ao subirem 18,06% em relação a novembro. Sem esse impacto, a inflação teria sido de 0,64% em dezembro, de acordo com o IBGE.
Com isso, o grupo Alimentação e bebidas registrou alta de 3,38% em dezembro, maior variação mensal desde dezembro de 2002 (+3,91%).
Também se destacou a aceleração da alta de Transportes a 1,54% em dezembro, de 0,30% em novembro, diante dos fortes aumentos dos preços dos combustíveis (3,57%) —a gasolina subiu 3,36% e o etanol, 5,50%.
ANO
No ano de 2019, o preço das carnes disparou 32,40%, após alta de 2,25% em 2018, devido ao aumento das exportações para a China e à desvalorização do real . Sem o efeito das carnes, o IPCA teria subido em 12 meses 3,54%.
A maior parte do aumento nos preços das carnes ficou concentrada no último bimestre (27,61%), levando o grupo Alimentos e Bebidas a acumular alta no ano de 6,37% sobre 4,04% em 2018.
“O resultado acabou sendo muito influenciado pelas carnes, o que tem a ver com a questão de oferta, não com questão de demanda. A perspectiva é de melhora no cenário econômico, e a gente tem que aguardar 2020 para ver”, avaliou o gerente do IPCA, Pedro Kislanov.
Transportes, com avanço acumulado de 3,57%, e Saúde e cuidados pessoais, com 5,41%, também se destacaram em 2019. Dos nove grupos pesquisados, apenas Artigos de Residência tiveram deflação em 2019, de 0,36%.
Diante do cenário de inflação fraca, o Banco Central reduziu em dezembro a taxa básica de juros Selic em 0,5 ponto pela quarta vez consecutiva, à nova mínima histórica de 4,5%. Mas indicou cautela em relação aos juros dali para frente em meio a uma retomada econômica com mais ímpeto.
Com o ineditismo dos juros em nível tão baixo, analistas discutem os cenários para a taxa Selic ao longo deste ano, avaliando apenas que o fim do ciclo de afrouxamento monetário está muito perto do fim.
Sinais de recuperação da atividade têm contribuído para dispersar mais as projeções e ditar um cenário um pouco mais conservador.
“O IPCA não muda o debate sobre se vai cortar 0,25 ponto ou não (na próxima reunião). Isso não significa que está certo que BC vai cortar ou parar, estamos em uma linha d’água, tem espaço, mas por outro lado tem alguns riscos”, avaliou o economista do Banco Votorantim Carlos Lopes.
A primeira reunião de política monetária do BC no ano acontece em 4 e 5 de fevereiro.
O Focus, pesquisa semanal do BC junto ao mercado, mostra que a estimativa é de que a Selic termine 2020 a 4,5%, com inflação de 3,60% —portanto abaixo do centro da meta— e o Produto Interno Bruto (PIB) crescendo 2,30%.
“Para a política monetária o importante é o comportamento em termos de tendência e o que se espera para o futuro, e vemos o IPCA ainda abaixo da meta”, disse o economista-chefe do Banco Haitong, Flávio Serrano.