Lygia Pimentel é médica veterinária e consultora pela Agrifatto
Leonardo Ribeiro é graduando em medicina veterinária e estagiário pela Agrifatto

O ciclo pecuário virou, já ficou claro. Desde 2015 as variáveis indicavam que o movimento de preços em alta não possuía condições de continuar sua trajetória. De fato, é o que temos visto nos últimos 12 meses.

A fase atual é caracterizada pela variação dos preços abaixo da inflação e, especificamente em 2017, o movimento é ampliado devido à combinação de fase de baixa e crise econômica, aumentando o risco do pecuarista e fazendo os preços recuarem não apenas em termos reais, mas também em termos nominais. Isso mostra a magnitude e a força do ciclo.

Um dos sinais de que isso estava ocorrendo é a participação das fêmeas abatidas frente ao total. Esse indicador alcançou sua máxima em 2013, invertendo sua tendência a partir do início de 2014.
Acompanhando sua evolução, identificamos a menor participação de fêmeas no total abatido em novembro de 2015, observe o gráfico 1.

Gráfico 1.
Evolução percentual do total de fêmeas abatidas.
grafico 1
Fonte: Agrifatto

Como resposta aos bons preços da reposição, o criador passou a reter mais as fêmeas em sua propriedade, fato refletido posteriormente em um aumento da oferta de bezerros e consequente depressão de preços. Observe o gráfico 2.

Gráfico 2.
Evolução histórica preço bezerro MS em reais por arroba.
grafico 2
Fonte: Cepea/Agrifatto

Inversamente à oferta de bezerros, que aumentou, o ágio sobre a categoria tem caído, de modo que houve registro do menor ágio desde 2014. Observe o gráfico 3.

Gráfico 3.
Evolução do ágio do preço do bezerro MS em porcentagem.
grafico 3
Fonte: Cepea/Agrifatto

Hoje, essa oferta começa a se recompor e deve mostrar seus efeitos principais entre 2018 e 2020.
O reflexo sobre as outras categorias de reposição também ocorre. Observe o gráfico 4.

Gráfico 4.
Evolução histórica boi magro 12 arrobas MS preços em reais.
grafico 4
Fonte: Cepea/Agrifatto

Como observado no gráfico 1, a retenção de fêmeas continuou se acentuando até 2016, especialmente considerando o primeiro trimestre daquele ano em comparação com os anteriores.
Logo, as fêmeas retidas continuaram produzindo bezerros, o que consequentemente elevará a oferta de boiada magra e refletirá, futuramente e de maneira negativa, sobre o preço do boi gordo.

Em outras palavras, a retenção de fêmeas, iniciada em 2014, traz uma perspectiva de aumento sobre o volume de animais em idade de abate nos próximos meses, afinal, o valor do bezerro atingiu sua máxima em 2015 e hoje esses animais estão atingindo 24 meses. Naquele período, a reposição era escassa, o que sugere que hoje a oferta de animais terminados é escassa também.

Há apenas mais um ponto a se considerar nesta equação: a queda generalizada dos abates nos últimos anos como resultado da perda do poder de compra do consumidor. Como ele reduziu a compra de carne bovina, reduziu os abates e acumulou animais no rebanho, consequentemente. Afinal de contas, não há índice de mortalidade que justifique uma queda acumulada de 14% para os abates totais em dois anos.

Assim sendo, a virada do ciclo pecuário já aconteceu, mas está apenas começando. Enquanto isso, temos que colocar animais previamente retidos no mercado conforme avança a queda real de preços, o que aumenta sobremaneira o risco de mercado para os próximos anos.
Isso exige mais do que nunca planejamento estratégico, gestão de riscos e eficiência dentro da porteira.

Um abraço e até a semana que vem.