O setor de carne bovina do Brasil está atento aos desdobramentos do conflito Estados Unidos-Irã. O país do Oriente Médio foi em 2019 o oitavo maior comprador da proteína bovina nacional. Também compra daqui milho e soja – os três produtos representam mais de 85% das exportações, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia. Analistas dizem que, por enquanto, é difícil mensurar possíveis efeitos do agravamento do conflito, mas destacam a relevância do parceiro comercial.
“Tudo vai depender da dimensão que isso vai alcançar. Fato é que o mercado iraniano é importante para a carne bovina brasileira, chegou a ocupar a quinta colocação no ranking dos principais importadores, embora tenha caído de posição em 2019”, diz o analista da consultoria Agrifatto Gustavo Machado. Para ele, um dos pontos de atenção é a eventual reação do governo do Irã ao ataque norte-americano ordenado pelo presidente Donald Trump na semana passada e que matou um dos maiores líderes do país.
O consultor em Gerenciamento de Riscos da INTL FCStone, Caio Toledo, também diz que é preciso aguardar. Ele lembra, no entanto, que exportadores têm encontrado mais dificuldades para enviar a proteína ao Irã desde 2018, quando o país do Oriente Médio passou a sofrer sanções norte-americanas, que afetaram relações comerciais com outros países. Dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) confirmam que, no acumulado de janeiro a novembro do ano passado, os embarques totais da proteína para o Irã recuaram 23,4% ante igual período de 2018, para 60,4 mil toneladas. O faturamento caiu 30,6% no mesmo intervalo avaliado, para US$ 214,8 milhões. Ainda assim, o país segue entre os dez principais compradores da carne.
Após as sanções americanas, os importadores iranianos tiveram dificuldade para negociar em dólar, o acesso a crédito com bancos internacionais ficou mais restrito e surgiram entraves logísticos, conforme apurou o Broadcast Agro. “Algumas empresas proprietárias de navios e de contêineres que transportam as carnes deixaram de fazer rotas que passavam pelo Irã. Com isso, o custo de embarque aumentou muito”, disse uma fonte. “Havia casos em que o exportador tinha que arcar com toda a operação logística. O setor, então, passou a buscar outras vias de acesso.”
Segundo o interlocutor, navios brasileiros passaram a enviar parte das cargas para compradores como Turquia e, de lá, o transporte era por caminhão até o Irã. Essa logística acabou impulsionando as exportações para os turcos. Conforme dados da Abiec, a Turquia comprou 373% mais carne bovina de janeiro a novembro de 2019, ou 26.104 toneladas. Sobre a possibilidade de esse desempenho ser afetado, a Abiec não quis se pronunciar. (AE)