Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto

Caroline Matos é graduanda em zootecnia pela USP e estagiária pela Agrifatto

 

Resumo da semana:

O fluxo de negócios continuou baixo neste início de 2020, um cenário esperado neste período do ano, mas o ritmo de negociações deve ser gradualmente retomado ao longo dos próximos dias.

As escalas de abate também começaram o ano encurtadas, e uma corrida para prolongamento das programações pode revisar para cima as pedidas pelo boi gordo. 

Por outro lado, há dúvidas sobre o desempenho do consumo interno neste mês, fator que pode limitar uma recuperação mais agressiva da arroba, e manter o mercado pecuário com certa estabilidade.

O valor da carcaça casada bovina vem desacelerando nas últimas semanas, atualmente cotada em R$ 13,70/kg no atacado paulista. Já as proteínas alternativas continuaram com preços firmes na última semana, o frango resfriado cotado a R$ 4,94/kg e a carcaça especial suína R$ 10,05/kg.

Destaque para o novo caso de PSA registrado na Indonésia, na província de Sumatra do Sul, país que até o momento estava livre do vírus.

 

  1. Na tela da B3

Os contratos futuros começaram 2020 no mesmo ritmo lento observado ao final do último ano, um cenário comum neste período que o mercado está passando.

A baixa fluidez de negócios no mercado físico também colabora para o ritmo mais lento em bolsa, além disso, os players aguardam por novas informações que possam direcionar as cotações na B3.

E assim, o volume de contratos negociados está em sua menor proporção das últimas semanas, mesmo os vencimentos que costumeiramente têm liquidez relativamente maior, como os contratos para maio e outubro/20, por exemplo, seguem com baixo ritmo de negociação.

A mudança desse cenário deve vir do mercado físico, especialmente se novas vendas forem confirmadas em preços maiores, consolidando novamente um patamar acima de R$ 200,00/@ em São Paulo.

Para ilustrar o cenário descrito acima, vamos utilizar o contrato para janeiro/20, este vencimento mais curto começou o ano balizado ao redor de R$ 198,00/@, ou seja, um mercado físico com equilíbrio em níveis mais elevados pode ser o gatilho para destravar os negócios na bolsa, oferecendo novo fôlego as cotações. Cenário que precisará ser confirmado no curto prazo.

 

  1. Enquanto isso, no atacado… 

A carcaça casada bovina continuou perdendo força na última semana, demonstrando a cautela das indústrias sobre o escoamento de carne bovina no mercado interno durante o mês de janeiro.

O boi casado encerrou a última semana com média em R$ 13,70/@, retornando aos patamares registrados na metade de novembro deste ano. Na comparação mensal, acumula queda de 11,47%.

Enquanto a proteína bovina perde força, as alternativas se mantêm firmes. O frango resfriado fechou cotado em R$ 4,94/kg – acumula alta mensal de 2,92%.

Já a carcaça especial suína permaneceu firme, sendo cotada em R$ 10,05/kg no atacado paulista, no último mês acumula alta de 11,36%. 

spread (diferença de preços entre a carne bovina vendida no atacado e a arroba do boi gordo), encerrou a última semana em 0,92%.

 

  1. No mercado externo 

As exportações de carne bovina in natura em dezembro/19 contabilizaram um volume total de 148,76 mil toneladas e uma receita de US$ 751,22 milhões.

 

A média diária registrada ficou em 7,08 mil toneladas, queda de 8,93% em relação à média do mês anterior, mas avanço de 11,83% frente ao desempenho do mesmo período de 2018.

 

O preço médio por tonelada registrou-se em US$ 5.049,66, alta de 3,95% em relação a novembro/19, e valorização de 32,53% ante o valor médio em dezembro/18.

 

Vale destacar o volume embarcado com o milho em dezembro/19, foram envidas 4,47 milhões de toneladas, avanço de 1,87% em relação ao volume embarcado no mês anterior, além de aumento de 20,11% frente ao exportado em dezembro/18.

 

  1. O destaque:

A FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) informou que o primeiro caso de PSA (Peste Suína Africana) foi registrado na Indonésia, na província de Sumatra do Norte. 

Segundo a organização, o Ministério da Agricultura indonésio confirmou o surto de PSA, e também relatou o aumento da mortalidade em suínos nesta e em outras províncias desde o final de setembro.

No Vietnã o preço da carne suína alcançou nível recorde, o valor do suíno vivo avançou entre 35 e 40% desde setembro. De acordo com as informações divulgadas pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), a alta dos preços ocorreu após cerca de 22% do plantel suíno do país ter sido sacrificado em decorrência da contaminação pelo vírus da PSA.

O último relatório divulgado pela FAO em dezembro, indica que aproximadamente 7,66 milhões de suínos já foram eliminados em consequência da PSA.

 

  1. E o que está no radar?

O ano começou com alinhamento entre os valores cobrados no físico e os preços no atacado, indicando equilíbrio do mercado no curtíssimo prazo. 

As poucas negociações com boi gordo nas praças paulistas ficam ao redor de R$ 200,00/@ (para descontar impostos), enquanto a carcaça casada bovina está balizada ao redor de R$ 13,70/kg, colocando um equivalente físico de R$ 205,50/@.

Além disso, a maioria dos frigoríficos paulistas mostram escalas de abate encurtadas, e uma corrida para alongar suas programações pode adicionar um fator altista ao mercado.

Mas a incerteza se a arroba conseguirá ganhar tração no curto prazo se dá pelo pessimismo dos operadores do mercado em relação ao escoamento da carne bovina no mercado interno. Neste sentido, preços menores para a carne bovina no atacado podem ser acompanhados de novo reequilíbrio as cotações – com pressão negativa à arroba.

Em meio a uma demanda que precisará ser confirmada nas próximas semanas, fica no radar um cenário de certa estabilidade no curto prazo, com risco de ligeira correção negativa se o escoamento de carne esfriar.

 

Um abraço e até a próxima semana!