Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto

 

Nos primeiros 9 meses deste ano, o país ampliou seus abates em quase 2% frente ao mesmo período do ano passado, indicando que os abates totais devem terminar o ano maiores na comparação com a temporada anterior.

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registraram abates de 24,33 milhões de cabeças até o 3º trimestre deste ano, e embora venha mostrando expansão nos últimos três anos, ainda fica 5% abaixo da máxima alcançada em 2013 (quando 25,60 milhões de cabeças foram abatidas no mesmo período).

 

Mas a expectativa para 2020 fica para redução dos abates totais, marcando o início da virada do ciclo pecuário para a fase de alta da arroba. Aliás, este cenário já está presente neste final de 2019.

Os números parciais do IBGE já mostram queda da participação de fêmeas neste ano, caindo de 33% para 31% sobre os abates totais, e retornando as proporções observadas em 2016 (gráfico 2).

Outra tendência importante fica para a crescente participação de novilhas nos abates, atingindo 12% do total dos abates até setembro deste ano (a maior proporção já alcançada no período). 

A arroba mais valorizada ao final de 2019 também colabora para o cenário descrito acima, já que o bovino terminado mais caro incentiva a reposição e pressiona positivamente o valor de categorias jovens – estimulando a retenção de matrizes.

Portanto, o médio prazo tende a reposição mais cara, enquanto que a menor oferta de fêmeas nos abates também deve colocar a arroba do animal terminado em equilíbrio mais alto.

Além disso, a antecipação dos abates de novilhas potencializa este cenário de virada de ciclo em 2020, diminuindo a proporção de animais aptos para a cria. Aliás, não foi apenas esta categoria com antecipação dos abates, os valores recordes alcançados pela arroba ao final deste ano também devem ter incentivado o abate de animais que seriam enviados ao frigorífico apenas no próximo ano.

Este movimento deve ser confirmado por pesos médios menores no último trimestre deste ano, mas também entra na lista de fatores positivos a arroba na próxima temporada.

Portanto, segundo os números do IBGE, o saldo foi positivo para a pecuária até o terceiro trimestre deste ano, com aumento do número cabeças abatidas e animais mais pesados.

Se consideramos apenas os abates fiscalizados, a produção de carne brasileira avançou 3,4% nos primeiros nove meses deste ano frente o mesmo período do ano passado, mas considerando também os abates informais, o avanço pode ser menos expressivo – com taxa de crescimento anual mais próximo de 1,00%.

Já as exportações mostraram expansão de 11% na parcial deste ano, enxugando a disponibilidade de carne ao mercado interno. Logo, as exportações muito aquecidas com produção ligeiramente maior, apontam para um consumo per capita ainda tímido no Brasil, os números oficiais indicam alta de 0,54% nos primeiros 9 meses do ano.

Por fim, o último trimestre deste ano foi marcado por forte volatilidade, o que pode demandar ajustes dos cálculos exibidos acima. Entretanto, os números já sinalizam a virada do ciclo pecuário, uma reposição mais valorizada, além de exportações aquecidas com o consumo interno resistente em ganhar tração.