(Reuters) – A indústria de carnes do Brasil tem colhido preços mais altos na exportação e no mercado interno e maiores embarques ao exterior, com impulso da demanda da China, mas a euforia é menor para o setor de frango, já que há alguns fatores que podem preocupar o setor avícola, avaliaram nesta quinta-feira especialistas do Itaú BBA.

Segundo o analista de Alimentos e Bebidas da Itaú BBA Corretora, Antônio Barreto, os preços das proteínas animais estão firmes na China, que tem lidado com uma oferta menor de carne de porco após sofrer uma redução drástica no seu plantel pela peste suína africana.

“Quanto mais falta de proteína (na China), maior a rentabilidade para as empresas (brasileiras) listadas em bolsa”, disse Barreto, referindo-se à JBS, Marfrig, Minerva e BRF.

“É festa no mercado da pecuária do Brasil… patrocinada pelos chineses”, acrescentou outro analista do Itaú BBA, César de Castro Alves, em evento do banco realizado com jornalistas.

Isso tem se refletido também em preços historicamente elevados para o mercado de carnes do Brasil, com o setor produtor de bovinos recebendo valores nunca vistos, acima de 200 reais a arroba, na medida que os chineses estão buscando fortemente o produto brasileiro, o que também tem inflacionado preços aos consumidores do país, segundo especialistas ouvidos pela Reuters.

Contudo, Barreto sinalizou que o cenário não é tão brilhante para a BRF, maior exportadora global de carne de frango, já que a China tem aumentado a produção das aves, como uma das alternativas mais rápidas para diminuir o impacto da queda de oferta de carne suína no maior consumidor global desse produto —uma ave fica pronta para o abate bem antes de porcos e bois.

Além da BRF, outra grande exportadora de aves do Brasil é a Seara, uma das divisões da JBS no Brasil.

Barreto citou números do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), que projetou aumento de 14% na produção de carne de frango chinesa em 2020, para 15,8 milhões de toneladas, como sinal do investimento chinês.

“Se a China de fato conseguir produzir todo este frango, pode ser que exista um cenário em que a China não precise importar tanto frango assim”, afirmou.

Enquanto isso, contudo, o Brasil aumentou em 22% duas exportações de carne de frango para a China de janeiro a outubro, para 444,7 mil toneladas, obtendo resultado cambial de 931,7 milhões de dólares (+38%) no mesmo período.