(Reuters) – O Banco Central reduziu nesta quarta-feira a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, a 5% ao ano, e indicou com clareza que deverá repetir a dose em sua próxima decisão, em meio a um quadro de fraqueza na economia e baixa inflação.
A próxima e última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deste ano acontece em 10 e 11 de dezembro. Com a nova tesourada, a Selic fecharia 2019 em 4,5%.
Todos os 31 economistas consultados pela Reuters já previam que a Selic seria diminuída em 0,5 ponto na reunião desta quarta.
“O Comitê avalia que a consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir um ajuste adicional, de igual magnitude”, trouxe comunicado do BC.
Olhando à frente, a autoridade monetária ressaltou ainda que o “Copom entende que o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela em eventuais novos ajustes no grau de estímulo”.
De qualquer forma, o BC também repetiu que, a despeito da sinalização dada, seus próximos passos continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.
“Não tem muito o que pensar. O BC simplesmente falou: vai ter mais um corte de 50 pontos-base”, afirmou o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luiz Otávio de Souza Leal.
Ele avaliou, por outro lado, que o BC também buscou segurar expectativas de mercado acerca de reduções adicionais para além desse patamar.
Para o economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, o BC buscou ser mais cauteloso, mas não a ponto de eliminar as chances de reduções adicionais nos juros básicos.
“Acho que o BC deixou a porta aberta para mais corte no começo do ano que vem, mas disse que será mais cauteloso. Nós acreditamos que a Selic fechará 2020 em 4%, mas não necessariamente a redução acumulada de 0,50 ponto depois dos 4,50% esperados para dezembro deverá vir no começo do ano”, opinou.
Numa inovação em relação a suas comunicações prévias, o BC apontou que o seu balanço de riscos para a inflação agora têm cinco fatores, correndo em ambas as direções. Numa eventual contribuição para inflação abaixo da trajetória das metas, o BC destacou dois deles: o nível de ociosidade elevado da economia e o potencial de propagação da inflação corrente.
No sentido oposto, o Copom frisou que “o atual grau de estímulo monetário, que atua com defasagens sobre a economia, aumenta a incerteza sobre os canais de transmissão e pode elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária”.
Esse risco altista para a inflação se intensifica no caso de deterioração do cenário externo para economias emergentes ou eventual frustração em relação às reformas na economia brasileira, acrescentou o Copom.
No comunicado, o colegiado elevou ligeiramente a projeção de inflação para 2019 pelo cenário de mercado a 3,4%, sobre 3,3% em sua última projeção, feita no fim de setembro. Para 2020, a estimativa foi mantida em 3,6%. Para 2021, foi apontada em 3,5%.
Em todos os casos, os valores estão abaixo do centro da meta para o ano: 4,25% (2019), 4,00% (2020) e 3,75% (2021).
Em outra novidade, o BC deixou de publicar as expectativas para o IPCA num cenário com juros e câmbio constantes, limitando-se a apontar suas estimativas no cenário híbrido, que pressupõe um dólar constante a 4,05 reais, mas a trajetória de juros da pesquisa Focus.
Com esses pressupostos, o BC calcula inflação em torno de 3,4% para 2019, 3,7% para 2020 e 3,6% para 2021 —também dentro das metas para os respectivos exercícios.
Em outras comunicações, o BC já havia sinalizado que, apesar da alta do dólar frente ao real, o repasse aos preços domésticos tem sido contido por outros movimentos, como a queda no preço de commodities.