Caroline Matos é graduanda em zootecnia pela USP e estagiária pela Agrifatto
Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto
Lygia Pimentel é médica veterinária, economista e consultora pela Agrifatto
A Pesquisa Trimestral do Abate de Animais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) do segundo trimestre de 2019 indicou avanço de 9,48% do abate de fêmeas (vacas e novilhas) em relação ao mesmo período de 2018. Isso é determinante para o que deve ocorrer com os preços pecuários nas próximas temporadas.
Aliás, o abate de novilhas foi recorde entre janeiro e setembro de 2018, totalizando 2,5 milhões de animais da categoria até dois anos de idade considerando o mesmo período. Trata-se do maior volume registrado em toda a séria história do IBGE, desde 1997. Um recorde!
O principal motivo do maior fluxo do abate de novilhas está relacionado às exigências do mercado externo, que favorece a precificação de animais jovens, ou seja, boa parte das novilhas abatidas destinam-se à exportação e são resultado de um aumento do aporte tecnológico na atividade, bem como de uma melhor relação custo-benefício para a engorda de fêmeas jovens.
Já no 2º semestre, a participação de fêmeas tende a recuar já que o descarte de vacas colabora para maior proporção no início de cada ano. Portanto, analisando os dados completos em cada temporada, observa-se que a maior participação recente de fêmeas nos abates aconteceu em 2013 e 2014, alcançando 42% dos abates totais.
Já em 2015, os preços dos animais de reposição começaram a refletir o aumento da participação de vacas nos abates totais, com o ágio do bezerro atingindo os maiores patamares da última década (Gráfico 2).
Este movimento já começa a ser percebido novamente pelo mercado, uma vez que a reposição se mostra gradualmente mais valorizada neste ano, aumentando sua representatividade na composição dos custos da pecuária nacional. E esse movimento deve continuar no médio prazo, alimentando perspectivas de uma reposição ainda mais valorizada em 2020.
Entre 2012 e 2014, a participação de fêmeas nos abates se ampliou, o que reduziu a capacidade produtiva de bezerros do rebanho brasileiro. Em primeiro lugar, isso pressionou positivamente o valor de animais mais jovens, assim como elevou posteriormente a pressão sobre as categorias mais eradas. Um movimento que já está em curso e que deve dar fôlego à arroba do boi gordo, especialmente na temporada de 2020.
Na parcial da região paulista em 2019, o ágio gira em torno de 33%, com a arroba do bezerro precificada em 204,72/@ na média anual, patamares próximos dos encontrados em 2016 (quando o ágio esteve praticado em 32%).
No Mato Grosso do Sul, assim como em São Paulo, o menor ágio do bezerro se registrou em 2011, ficando em 15%, resultado da maior oferta de animais jovens naquele período.
Em 2017 e 2018 o ágio permaneceu estável – em 34%, provavelmente reflexo do maior interesse na comercialização de fêmeas jovens. Já na parcial deste ano, entre janeiro e a metade de setembro, a diferença entre a arroba do animal jovem e do bovino terminado avançou para 39%.
No Mato Grosso, a menor disponibilidade de bezerros também encontrou seu auge em 2015, batendo o recorde de 51% de ágio na última década.
Em 2017 houve expansão de 12,05% na participação de fêmeas sobre os abates ante o ano anterior, totalizando 221,69 mil cabeças – maior volume observado desde 2014. O principal driver deste aumento foi o ciclo pecuário, que levou os preços reais dos bezerros a cair, impulsionando o descarte. Além disso, em relatório naquele ano, o Imea chama a atenção para a superlotação dos pastos, fator adicional para a oferta de fêmeas.
Em 2018, foi possível observar o movimento altista das cotações do bezerro que se mantém até a primeira quinzena de setembro/2019. Na parcial de 2019, o ágio está na faixa dos 44% – maior diferencial desde 2016.
Um ponto de destaque nessa análise fica por conta da aceleração do abate de novilhas. É certo que esse é um dos efeitos da intensificação produtiva, mas a verdade é que o movimento também ocorreu em decorrência dos ágios ofertados pela arroba da categoria, o que se tornou atrativo para o produtor sob o ponto de vista do custo/benefício de se manter as fêmeas para a reprodução nas propriedades.
A prova disso é que os abates de novilhas cresceram mais do que a produtividade do rebanho bovino brasileiro.
Assim, por serem abatidas jovens, não têm a chance de provar seu potencial reprodutivo e oferecer bezerros ao mercado, o que aumenta ainda mais a pressão no funil dos preços, aumentando o potencial de valorização da arroba do boi gordo e, possivelmente, encurtando a duração da fase de alta do ciclo pecuário atual.