O escândalo no setor de proteína animal no Brasil tem elevado o preço internacional da carne bovina. Ao mesmo tempo, surgem oportunidades para que produtores e indústrias dos Estados Unidos e outros países consigam se aproveitar dos bloqueios impostos por algumas nações às carnes brasileiras.

Os tempos turbulentos para o maior exportador mundial de carne bovina e de frango elevaram os preços do boi gordo nos Estados Unidos, que atingiram os maiores níveis em 14 meses, na quarta-feira (22). A queda nos estoques e a demanda têm elevado também os preços na Austrália e alguns analistas apostam na alta das cotações do frango na China.

“O fato é que haverá mais demanda por qualquer carne não brasileira nos próximos meses e isso vai ser positivo para qualquer fornecedor global”, disse Aurelia Britsch, chefe de pesquisa de commodities do BMI Research em Cingapura.

Nos Estados Unidos, os criadores de suínos poderiam se beneficiar de forma mais imediata dos problemas no mercado brasileiro do que os de carne bovina e de frango, já que eles têm mais acesso ao mercado chinês. A exportação de frango dos Estados Unidos sofreu um embargo da China, desde que foram descobertos casos de influenza aviária em propriedades produtoras em janeiro de 2015. Já o mercado para a carne bovina dos EUA permanece fechado, enquanto as autoridades negociam o fim de uma proibição que dura 13 anos.

Guo Lijun, CEO da WH Group, maior processadora de carne suína do mundo, disse que a companhia espera usar os embargos ao produto brasileiro para alavancar suas operações nos Estados Unidos, China e Hong Kong.

O CEO da Smithfield, Ken Sullivan, maior processadora de carne suína dos Estados Unidos (comprada em 2013 pela chinesa WH), disse que a tendência de avanço dos competidores do Brasil existe, mas que até o momento não é uma realidade. “Se o bloqueio continuar por mais algumas semanas, então esses compradores vão procurar fornecedores diferentes”. Mesmo assim, ele disse que ainda não viu nenhuma ordem de compra diferente nos últimos cinco dias.

Apesar das dificuldades no mercado chinês, os produtores norte-americanos de carne bovina e de frango continuam tendo acesso à Hong Kong. A rede de supermercados ParknShop, uma das duas maiores no país, retirou a carne brasileira de suas prateleiras. Segundo um porta-voz da varejista, a intenção é “aumentar os estoques de carne bovina e de frango de outras regiões como Japão, Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos e Europa”.

A extensão desse espaço de oportunidade para as nações concorrentes do Brasil vai depender da duração desses embargos, disseram analistas do setor. Mas, mesmo com o bloqueio, vai ser difícil para qualquer nação cortar muito profundamente as compras do Brasil, disse o analista Steve Wagner, da CHS Hedging. Os estoques de carne bovina e o fornecimento no curto prazo estariam muito apertados para um movimento muito brusco.

A União Europeia e países como a China baniram temporariamente as importações vindas do Brasil ou de companhias citadas nas investigações da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que investiga irregularidades nas certificações sanitárias dos produtos.

Na Austrália, os fazendeiros esperam que os problemas no Brasil permitam que eles tomem o lugar do país no posto de maior exportador de carne bovina do mundo – título que os australianos perderam para o Brasil no ano passado. Fonte: Dow Jones Newswires.