Contas de energia e guerra comercial pressionando o valor do dólar no Brasil podem acelerar a inflação de agosto, porém nada que comprometa o índice, tendo em vista a fraca atividade econômica do País.
Para especialistas, o desempenho da inflação de julho reforça que o Banco Central (BC) fará mais cortes na taxa de juros básica da economia (Selic) este ano.
No mês passado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) variou 0,19%, abaixo das estimativas do mercado (+0,25%) e o menor resultado para o mês desde 2014, divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em junho, o IPCA foi de 0,01%.
O pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE), André Braz, diz que, para julho, esperava uma inflação mais próxima de 0,30%. Segundo ele, o que surpreendeu positivamente foram os preços do grupo Alimentos e Bebidas (+0,01%), que ficaram estáveis na passagem de junho a julho.
Contudo, Braz projeta uma aceleração do IPCA em agosto, para uma alta de 0,30%, que deverá ser puxada pelo aumento do preço da alimentação fora de casa (que variou +0,15% em julho) e das contas de energia elétrica, diante da mudança da bandeira tarifária de amarela para vermelha.
A bandeira amarela praticada em julho e os reajustes de concessionárias pressionaram, inclusive, as contas de energia no mês passado. Estas subiram 4,48%, provocando uma alta de 1,20% no grupo Habitação, que teve o maior impacto (0,19 ponto percentual) no índice.
Houve mudança nas tarifas de energia elétrica em: São Paulo (7,59%), reajuste de 7,03% em uma das concessionárias a partir de 4 de julho; Curitiba (3,18%), reajuste médio de 3,41% em vigor desde 24 de junho e Porto Alegre (3,36%), onde duas das três concessionárias de energia que atendiam a região fundiram-se e, de modo a unificar suas tarifas, foram concedidas correções médias de 3,61% e 6,19%, a partir de 19 de junho.
Flexibilização dos juros
Por outro lado, os grupos de Vestuário (-0,52%), Saúde e cuidados pessoais (-0,20%) e Transportes (-0,17%) apresentaram deflação no índice do mês. Estevão Garcia de Oliveira, coordenador dos cursos de pós-graduação da Faculdade Fipecafi, destaca que a baixa inflação verificada em julho só reforça que o BC cortará mais a taxa de juros este ano.
No último dia 31, o BC diminuiu em 0,50 ponto a Selic, levando a taxa de 6,50% para 6,00% ao ano. Oliveira ressalta que os juros devem encerrar 2019 entre 5,50% e 5,25%. Ele acrescenta que se a guerra comercial entre os Estados Unidos (EUA) e China continuarem a levar o dólar para cima de R$ 3,90 e R$ 4,00, haverá repercussão nos nossos preços.
“O Brasil importa grande parte dos seus produtos industrializados”, diz Oliveira. Porém, segundo ele, a atividade econômica do País está tão fraca que há espaço para acomodar choques inflacionários. Além disso, Oliveira comenta que o recuo dos preços do barril de petróleo não será tão sentido pela nossa inflação, tendo em vista a aceleração do dólar em relação ao real.
A projeção de André Braz, da FGV, é que o IPCA encerre 2019 com alta de 3,6%. As expectativas de Oliveira são semelhantes. Ele espera que a inflação brasileira termine com alta entre 3,5% e 4,0%.