(Reuters) – O Banco Central estimou que o Produto Interno Bruto (PIB) deve ficar estável ou apresentar ligeiro crescimento no segundo trimestre, conforme ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira, na qual voltou a indicar que há espaço para “ajuste adicional” nos juros básicos da economia.

Segundo o documento, a atividade econômica deve ainda mostrar “alguma aceleração” nos trimestres seguintes, reforçada pelos estímulos decorrentes dos saques de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do PIS/PASEP, investida concebida pelo governo para injetar ânimo à retomada econômica.

“Não obstante essa aceleração esperada, o cenário básico do Copom supõe que o ritmo de crescimento subjacente da economia, que exclui os efeitos de estímulos temporários, será gradual”, apontou.

Na semana passada, o BC reduziu a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, à nova mínima histórica de 6% ao ano, e indicou que o processo de afrouxamento poderá seguir adiante em meio à fraqueza econômica, inflação bem comportada, melhora no ambiente externo e avanço da reforma da Previdência.

Nesta terça-feira, a autoridade monetária ponderou que, apesar de ter indicado essa possibilidade, o Copom considera “fundamental” enfatizar que isso não restringe sua próxima decisão, a ser tomada em setembro.

“Os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação”, frisou.

Para o BC, houve “distensão relevante” nos indicadores recentes de condições financeiras, movimento que atribuiu à expectativa de corte na Selic, à melhora nos mercados globais e nas perspectivas para a economia doméstica — esta última embalada pelo progresso na agenda de reformas.

Sobre a reforma da Previdência, inclusive, o BC avaliou que ela contribui, num saldo líquido, para redução gradual da taxa de juros estrutural da economia.

Para além do tamanho do ciclo de afrouxamento, agentes de mercado aguardavam mais detalhes na ata para consolidarem suas apostas sobre a distribuição dos novos cortes na Selic. A próxima reunião do Copom ocorre em 17 e 18 de setembro. Depois disso, o Copom ainda se reúne neste ano em outubro e dezembro.

Diante dos sinais que já haviam sido emitidos pela autoridade monetária, economistas ouvidos no mais recente boletim Focus reviram suas expectativas para a Selic neste ano, passando a ver a taxa encerrando o ano em 5,25%, contra 5,5% antes, perspectiva que embute uma redução adicional de 0,75 ponto nos juros básicos.

O corte na Selic foi o primeiro desde março de 2018 e veio como uma medida para ajudar a dar algum impulso à anêmica atividade econômica, num ambiente de inflação vista como confortável pelo BC — mensagem que reiterou nesta terça-feira.

Nos 12 meses até julho o IPCA-15, que é considerado uma prévia da inflação oficial, subiu 3,27%, bem abaixo da meta oficial de inflação do governo para 2019, de 4,25% pelo IPCA, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Os dados do IPCA de julho serão divulgados na quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

AMBIENTE EXTERNO

Após os mercados globais terem sido abalados na véspera após a China permitir o rompimento da marca cambial de 7 iuanes por dólar, desencadeando uma onda de aversão ao risco pela perspectiva de acirramento da guerra comercial com os Estados Unidos, o BC assinalou na ata que os riscos associados a uma desaceleração da economia global permanecem.

“Incertezas sobre políticas econômicas e de natureza geopolítica – notadamente as disputas comerciais e tensões geopolíticas – podem contribuir para um crescimento global ainda menor”, disse o BC, após ter avaliado que, de maneira geral, o cenário externo havia evoluído de maneira benigna.

O BC lembrou que BCs ao redor do mundo promoveram estímulos monetários adicionais, contribuindo para o afrouxamento das condições financeiras globais. No mesmo dia em que a Selic caiu no Brasil, na semana passada, o Federal Reserve, banco central dos EUA, cortou a taxa de juros pela primeira vez desde 2008.