Tudo indicava exportações recordes de milho do Brasil em 2019, com uma safra nos Estados Unidos possivelmente menor após problemas de plantio, mas números surpreendentes divulgados pelo governo norte-americano nesta sexta-feira colocam em dúvida os volumes previstos para os embarques brasileiros.

O relatório anual da área do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) mostrou que os agricultores plantaram 91,7 milhões de acres de milho, enquanto analistas esperavam 86,6 milhões de acres, versus previsão de 92,8 milhões de acres em março.

A surpresa, após um atraso histórico no plantio de milho diante de uma primavera chuvosa no Hemisfério Norte, fez os contratos futuros do grão na Bolsa de Chicago atingirem limite de baixa de 25 centavos de dólar por bushel durante o pregão.

O USDA voltará a pesquisar as áreas plantadas em 14 Estados e deve divulgar uma atualização do plantio total mais adiante, o que leva o Brasil, segundo exportador global do cereal, a acompanhar o desenvolvimento da safra norte-americana com atenção, segundo especialistas.

“Com uma safra normal nos EUA, não bateremos recorde de exportação”, disse o analista da AgRural, Fernando Muraro, falando diretamente de Chicago.

Ele lembrou que, além de uma concorrência maior dos EUA, há ainda a Argentina, com uma grande safra do cereal.

Analistas, incluindo a AgRural, têm apostado em volumes recordes de exportação de milho pelo Brasil neste ano.

A consultoria Céleres elevou recentemente sua previsão de exportação para 34 milhões de toneladas, enquanto a Agroconsult apontou recentemente 38 milhões de toneladas de embarques.

“Se esse cenário dos EUA permanecer, a perspectiva é de que tenha disponibilidade bastante elevada, e pode acabar reduzindo espaço para o Brasil aumentar a exportação”, acrescentou o analista sênior de Agronegócio do Itaú BBA, Guilherme Bellotti.

Por outro lado, ele disse que o avanço do milho para máximas de vários anos em Chicago anteriormente também poderia perder força, o que beneficiaria as indústrias de carnes brasileiras, compradoras do insumo.

“E não podemos esquecer que isso beneficiaria os produtores de etanol de milho do Brasil”, disse ele, em referência a uma indústria que tem crescido no país.

VOLATILIDADE

Mas Bellotti destacou que os números estão sendo revisados, o que deixa um ponto de interrogação sobre como será a safra norte-americana, indicando um mercado nervoso em 2019.

“Toda essa volatilidade acaba testando muito a gestão de risco de uma trading. Se não travou o preço de venda, pode ser que tenha que negociar a um preço mais baixo”, disse ele, ponderando que parte da produção que está sendo colhida no Brasil já foi comercializada, especialmente em Mato Grosso, e o produtor conseguiu “pegar preços bastante bons”.

Muraro, da AgRural, concorda que o mercado verá um período de nervosismo até a definição de safra dos Estados Unidos.

 

Fonte: DCI