Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto

 

Resumo da semana:

O destaque da última semana ficou para o relatório do USDA, trazendo novas projeções para a área cultivada com grãos na temporada 2019/20. Além disso, o Departamento atualizou seus estoques trimestrais com grãos.

Os números surpreenderam o mercado, que responderam por meio de fortes variações para as cotações em Chicago. O movimento também contagiou os preços domésticos.

E as correções negativas para o milho na CBOT, combinadas com o avanço da colheita do milho safrinha, podem ajustar as indicações pelo cereal no mercado físico brasileiro. Neste sentido, as quedas podem ficar limitadas pelo posicionamento mais defensivo da ponta vendedora.

O clima nos Estados Unidos também continua no centro das atenções do mercado, e os mapas climáticos indicaram condições mais positivas para o plantio norte-americano.

Por isso, espera-se que o relatório de acompanhamento das lavouras a ser divulgado nesta tarde (01/jul), traga desempenho mais acelerado para os trabalhos a campo por lá.

 

  1. Mercado futuro na tela

Os preços futuros responderam aos novos relatórios do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), trazendo uma projeção maior que a esperada pelo mercado para a área cultivada com milho.

E assim, as cotações futuras de milho na B3, após iniciarem a última semana com novas valorizações, devolveram boa parte dos ganhos no pregão da sexta-feira (27/jul).

O vencimento para julho/19 subiu 1,10% entre a segunda (24) e a quinta-feira (27/jun), mantendo os altos patamares alcançados a partir do início de junho (ao redor de R$ 38,30/sc). Mas os preços caíram 3,05% na última sexta-feira, com fechamento em R$ 37,20/sc.

Movimento similar foi registrado para os contratos mais longos, ou seja, preços sustentados nos primeiros dias da semana, mas com forte pressão negativa após o relatório do USDA na sexta-feira.

Vale destacar que o mercado continuará precificando os riscos ao longo da safra norte-americana, ameaçada pela semeadura atrasada.

Já a soja subiu após a projeção de área menor a ser cultivada com a oleaginosa. As altas ficaram ao redor de 1,30%, e retornaram os contratos para níveis de preços acima de US$ 9,00/bushel.

Por outro lado, espera-se avanço do plantio na última semana, o que pode ajustar novamente para baixo os preços futuros da soja em Chicago. Os novos números de acompanhamento das lavouras serão conhecidos nesta segunda-feira (01/jul).

A volatilidade continuará em alta nas próximas semanas!

 

  1. Enquanto isso, no físico…

A ponta vendedora se mostra resistente em novas negociações com os grãos, especialmente com o ambiente tomado por incertezas.

Para o milho, a queda de braço entre os participantes do mercado mantém as cotações sustentadas, apesar da colheita adiantada nesta temporada. Aliás, o relatório do Imea da última semana trouxe colheita de 24,66% do milho safrinha (neste mesmo período do ano passado, a proporção estava em 12,57%).

Além disso, foi reportado que o mercado de silo-bolsa (ou silo bag) está aquecido, com produtores ampliando seus volumes armazenados. Ou seja, a movimentação indica que após entregar o insumo fechado em contratos anteriores, os produtores devem especular com o cereal na expectativa de novas valorizações.

E assim, além da menor disponibilidade do milho safrinha ao mercado doméstico, adiciona-se ainda o mercado externo bastante comprador, elevando os prêmios praticados nos portos, e por sua vez, ampliando os preços de paridade.

As variações no físico ficaram regionalizadas ao longo da semana, subindo 3,0% em Paranaguá (com parcial em R$ 40,55/sc), alta de 0,60% em Sorriso/MT (R$ 23,25/sc), mas queda de 1,30% em Rio Verde/GO (R$ 29,25/sc).

Com as correções em Chicago, espera-se que as indicações no balcão brasileiro também passem por ajustes negativos nas próximas semanas.

 

  1. No mercado externo

O Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) divulgou o relatório semanal de exportações.

Segundo o levantamento, as exportações de milho em grão atingiram a média de 72 mil toneladas por dia útil até o final da semana que acabou em 28 de junho. No mesmo período do ano anterior, a média diária foi 6,8 mil toneladas. Em faturamento, as exportações do grão em junho de 2019 somam 272 milhões de dólares.

Para a soja em grão, houve recuo de 4,5% em relação ao faturamento registrado em maio/19, enquanto o volume recuou 3,2%, tendo atingido 9,06 mil toneladas. O valor da tonelada embarcada ficou em US$ 342,3.

Na comparação com o mesmo período do ano passado, o faturamento recuou 18,3%, para US$ 4,19 milhões, enquanto o volume exportado caiu 3,8%.

  1. O destaque da semana

O destaque da semana fica para o relatório de área plantada nos Estados Unidos, divulgado na última sexta-feira (28) pelo Departamento de Agricultura – USDA.

A área estimada em 32,38 milhões de hectares para a soja veio abaixo do espero pelo mercado (de 34,25 milhões de ha). Além de se registrar 10% menor do que a extensão cultivada no ano passado.

Para o milho o cenário foi o oposto, com a área projetada subindo 3% em relação à safra anterior, estimada em 37,11 milhões de hectares.

E ainda, os números vieram acima do esperado pelo mercado, que ficava em torno de 35,07 milhões de hectares.

 

  1. E o que está no radar…

Com os ajustes de preços em Chicago após o relatório do USDA, a expectativa é que o mercado de milho doméstico também seja contagiado pelo novo cenário internacional.

A movimentação na CBOT combinada com volumes crescentes de milho safrinha, podem levar a possíveis ajustes no balcão brasileiro. O principal ponto para limitar um movimento baixista fica para a posição defensiva da ponta vendedora, limitando a disponibilidade de milho ao mercado.