Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto

 

Resumo da semana:

Na última semana, o mercado de grãos não registrou novos fatores que impulsionassem as cotações para além dos patamares atuais, predominando movimentação para realização de lucros, com ajustes dos contratos.

No mercado doméstico, o câmbio foi fator baixista para a soja, enquanto que os poucos lotes de milho para o mercado interno ainda sustentam as cotações de balcão.

Para as próximas semanas, espera-se volumes crescentes de milho para o mercado interno, especialmente com a colheita acelerada. Portanto, correções para baixo das indicações de balcão estão no radar.

Com relação à safra norte-americana, os mapas climáticos seguem indicando período de instabilidade, e a temporada chuvosa deve continuar impedindo avanços expressivos para a semeadura da soja. 

E ainda, o provável encontro entre o presidente dos EUA, Donald Trump, com o presidente da China, Xi Jinping, ao final deste mês em evento do G-20 no Japão, mantêm os mercados em cautela.

 

  1. Mercado futuro na tela

Sem novidades altistas para as cotações futuras, a última semana foi marcada por movimentações técnicas.

Os contratos futuros de milho abriram a semana nos maiores patamares já negociados, mas devolveram parte dos ganhos nos pregões seguintes.

O contrato para julho/19 começou a semana testando o limite de alta, com fechamento em R$ 38,89/sc na segunda-feira (17/jun) – o maior valor desde que este contrato passou a ser negociado. Mas caiu 3,00% ao longo da semana, com fechamento em R$ 37,72/sc na sexta-feira (21/jun).

Os contratos mais longos exibiram movimentação similar. O set/19 abriu a semana em R$ 39,75/sc, mas fechou em R$ 37,90/sc na sexta-feira (21/jun) – queda de 4,65% ao longo da última semana.

O nov/19 também iniciou a semana em alta, precificado acima de R$ 41,00/sc, mas se ajustou até R$ 39,95/sc no mesmo período – queda de 2,8%.

Nesta semana, os contratos devem se equilibrar entre a chegada do milho safrinha (pressão negativa), e os problemas da nova safra norte-americana (fator de pressão positiva).

Por fim, os contratos de milho sustentando altos níveis de preços geram oportunidades de hedge para a ponta vendedora, e por meio de uma opção de venda (PUT), é possível garantir valor mínimo de venda na praça paulista por R$ 36,00/sc em setembro e em novembro/19 – os prêmios destas operações giram em torno de R$ 1,00/sc.

 

  1. Enquanto isso, no físico…

Com as correções para baixo dos contratos futuros, registradas tanto na B3 como em Chicago, as indicações do milho no mercado físico esfriaram, e a ponta vendedora se mantém cautelosa em novas negociações.

O fato é que a colheita segue adiantada, com 16,85% das áreas já colhidas no Mato Grosso – nesta mesma época do ano passado, a proporção ficava em 6,23% (Imea).

O Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral) também reportou avanços para a colheita no estado, atingindo 21% das áreas até a última semana, contra 5% na média dos últimos 5 anos.

Além disso, o Departamento espera colheita 47% maior nesta temporada, projetando uma produção no Paraná de 13,46 milhões de toneladas.

Por enquanto, os primeiros lotes colhidos cumprem acordos de exportação fechados anteriormente, mas na medida em que se amplia o volume para o mercado doméstico, as indicações de balcão devem passar por ajustes.

Aliás, os problemas climáticos nos EUA e o preço competitivo do milho brasileiro nos portos, mantêm o interesse de compra do mercado internacional, refletindo em valorizações para os prêmios.

Na última semana, os prêmios subiram US$ 0,04/bushel para os embarques em agosto pelo porto de Santos, balizando-se em US$ 0,28/bu. Consequentemente, as indicações neste porto valorizam-se 0,06% na semana, e giram em torno de R$ 39,82/sc (CEPEA).

Para a soja brasileira, pesou as desvalorizações para o câmbio, o dólar caiu 1,70% ao longo da última semana, passando de R$ 3,889 para R$ 3,822/US$ na sexta-feira (21/jun).

E assim, as negociações no balcão desaceleraram, enquanto avançou a queda de braço entre a ponta vendedora e a consumidora.

No mercado disponível, queda de 2,87% em Campo Grande/MS e no Oeste do Paraná, com últimas parciais em R$ 68,60 e em 74,20/sc, respectivamente. Em Rondonópolis/MT, o valor de balcão caiu 2,18% para R$ 67,45/sc.

 

  1. No mercado externo

O Ministério da Economia divulgou os dados das exportações até a terceira semana de junho (14 dias úteis).

O país embarcou 7,22 milhões de toneladas de soja no período, registrando média diária de 515,85 mil toneladas. Alta de 4,7% para ritmo diário em relação ao mês anterior, e avanço de 4,0% frente a média diária do mesmo período em 2018.

O valor médio por tonelada ficou em US$ 341,29, queda de 1,7% em relação ao preço médio do mês anterior, e recuo de 15,3 p.p. em relação ao mesmo período do ano passado.

Os embarques com o milho somaram 415,34 mil toneladas, com média de 29,67 mil toneladas. O desempenho se registra 24,6% maior em relação ao mês anterior, além de alta de 49,4% em relação ao mesmo período do ano passado.

O valor médio negociado ficou em US$ 195,45 por tonelada, valorização de 17,75% na comparação mensal, e recuo de 2,5% na comparação com o mesmo período do ano passado.

 

  1. O destaque da semana

Na última semana, o Grupo São Martinho, uma das maiores produtoras de açúcar e etanol do Brasil, anunciou que pretende construir uma instalação para produção de etanol de milho em Quirinópolis/GO.

A unidade deverá ser anexa à usina Boa Vista, também da São Martinho, e deverá ter capacidade de produzir 200 milhões de litros de etanol hidratado e 140 mil de toneladas de grãos secos por destilação (DDG’s) por ano. Por enquanto, não há um prazo estimado para a construção da fábrica.

O fato é que a expansão do etanol de milho no Brasil amplia o consumo interno deste insumo, ajustando a relação entre a oferta e a demanda. 

No longo prazo, o uso de DDG’s para alimentação animal tende a crescer, assim como a competição pelo cereal.

 

  1. E o que está no radar…

A partir de agora, a expectativa é que o volume de milho safrinha destinado ao mercado doméstico passe a se ampliar, com expectativas de ajustes para as cotações de balcão.

Em relação à safra 2019/20 dos EUA, a janela ideal de plantio da soja começa a entrar na reta final, com o clima norte-americano oferecendo poucas oportunidades de acelerar o seu plantio.

Aliás, novas rodadas de chuvas são esperadas para o Corn Belt nesta semana, mantendo a volatilidade dos preços futuros.