Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto

 

Resumo da semana:

Em mais uma semana marcada por volatilidade, a soja brasileira respondeu positivamente às altas dos prêmios e ao câmbio, que se manteve em patamares acima de R$ 4,00/US$.

Em Chicago a soja também subiu, mas o destaque ficou por conta do avanço das cotações do milho e do trigo, que precificaram os problemas climáticos nesta nova temporada norte-americana. Aliás, o clima nos EUA deve trazer fortes chuvas nos próximos dias, com riscos de novas enchentes e tornados.

A possibilidade de quebra da produção norte-americana potencializa uma forte rodada de altas em Chicago, com os preços internacionais mais altos pressionando para cima as referências domésticas.

Além disso, as negociações para exportação nos portos brasileiros seguiram em alta e devem refletir em números maiores de embarques nas próximas semanas. A demanda aquecida para a exportação deve enxugar parte dos estoques ao longo do 2º semestre, o que também deve entrar no radar como importante fator de suporte.

Nesta semana, uma novidade que pode mexer com o equilíbrio das cotações é o anúncio do pacote de auxílio aos agricultores norte-americanos, adicionando mais um fator de incerteza para o tamanho da área a ser semeada com soja na temporada 2019/20.

Por fim, a colheita da safrinha de milho deve avançar nos principais estados produtores. Com boa produtividade esperada, traz expectativas de esfriamento das cotações do insumo e, com isso, novas oportunidades de originação no mercado físico.

 

  1. Mercado futuro na tela

A volatilidade voltou a subir na bolsa de Chicago com o predomínio da valorização dos contratos.

Considerando a variação ao longo da última semana para o contrato mais curto, com vencimento em julho/19, nota-se que o trigo subiu 5,1%, o milho avançou 4,95% e a soja se valorizou 1,13%.

Os cereais já precificam os impactos negativos do clima adverso nos EUA sobre a produção, que pressionam para cima os preços internacionais, devendo contagiar os valores praticados pelo grão no mercado brasileiro.

A soja subiu em menor intensidade por ainda contar com janela de plantio aberta, pela disputa comercial, que mantém afastada a demanda chinesa e, especialmente, pelo anúncio do pacote de ajuda do governo norte-americano aos produtores daquele país.

Já o milho na B3 segue precificando valores mais altos, distanciando-se dos valores mais baixos alcançados em abril.

Os contratos alcançam novos pontos gráficos. Na última sexta-feira (24), o vencimento para julho/19 superou os R$ 36,00/sc, o contrato para setembro/19 bate R$ 37,00/sc e o novembro/19 trabalha em R$ 38,40/sc.

Ou seja, a B3 continua precificando o milho cada vez mais fortalecido ao longo do segundo semestre, como câmbio e as exportações gerando pressão positiva, além do aumento da disputa pelo milho no mercado interno pelo aumento da demanda proteica, especialmente suína.

E assim, vale atenção às oportunidades no curto prazo pela chegada da safrinha, que devem aliviar as indicações no balcão.

 

  1. Enquanto isso, no físico…

Na última semana, o dólar devolveu parte dos ganhos recentes, acumulando uma correção para baixo de 2,00% no período – o fechamento ficou em R$ 4,02. Boa volatilidade no radar!

Mas, apesar do ajuste, o câmbio mantém os mais altos níveis do ano e, ainda, após superar a barreira em R$ 4,00, esse patamar tornou-se o novo suporte para a moeda norte-americana.

A valorização cambial torna o produto brasileiro da exportação mais competitivo no mercado internacional e combinadas a um mercado externo aquecido, as negociações para embarques com grãos continuaram aceleradas.

Além disso, a disputa sino-americana preserva a demanda asiática voltada para a América do Sul e as negociações nos portos já indicam bons embarques nos próximos meses.

Outro indicador que reflete o mercado externo são os prêmios para a soja, que acumularam novas altas ao longo da última semana e alcançaram os mais altos patamares em quase 12 meses.

Os prêmios para exportação em julho subiram 23,8% na última semana, para US$ 1,30/bushel.

No mercado doméstico, a comercialização com a soja trabalha de forma regionalizada. E enquanto se mostra aquecida nos portos, caminha de modo mais lento no MS, onde a disputa de preços trava a comercialização – o intervalo de valores fica entre R$ 67,00 e R$ 70,00/sc.

Em Rio Verde/GO e em Primavera do Leste/MT, as negociações acontecem em torno de R$ 67,00/sc, no Triângulo Mineiro e Oeste do Paraná ficam ao redor de R$ 71,00/sc.

A negociação de balcão do milho também caminha de modo lento, com dificuldade do consumidor em aceitar os novos valores, ao mesmo tempo em que o vendedor não tem pressa de fechar novos negócios à espera de preços mais altos.

Já as negociações para entrega futura avançaram na última semana, na esteira do dólar e dos contratos futuros valorizados. Em Primavera do Leste/MT, rodaram lotes para exportação em torno de R$ 22,00/sc (FOB) para entrega em junho e julho.

Em Paranaguá, as indicações ficavam em torno de R$ 37,00/sc, e em Dourados/MS, a negociação antecipada acontece ao redor de R$ 23,00/sc (FOB) para entrega nos mesmos meses.

Vale destacar que a colheita deve ganhar fôlego a partir de agora nas principais regiões produtoras, o que deve aliviar as cotações de balcão, aumentar a liquidez e ampliar basis entre SP e os outros estados.

 

  1. No mercado externo

O Ministério da Economia divulgou os dados de exportação até a quarta semana de maio, com desaceleração para os embarques com soja e avanço para os envios com milho.

O desempenho diário com a soja caiu ao longo do mês, passando de 540,4 mil toneladas no início do mês para 484,7 mil toneladas no último relatório. O país somou 8,24 milhões de toneladas nos 17 primeiros dias úteis

O resultado ainda se mantém 1,1% superior ao registrado no mês anterior. Mas na comparação com o mesmo período do ano passado, o ritmo caiu 17,6% – em maio/18 o país enviou um média de 588 mil toneladas por dia.

Os preços médios também recuaram, caindo 2,93% na comparação com abril/19 e recuando 14,2% ante maio/18.

Já os embarques com milho somaram 908,41 mil toneladas nos 17 primeiros dias úteis do mês. Vale destacar que apesar de ser um resultado parcial para o mês, o desempenho já crava um novo recorde para as exportações com o milho em maio.

O ritmo médio diário subiu para 53,44 mil toneladas (avanço de 47,7% ante a média diária do início do mês). O volume avançou 163% frente o embarcado no mês anterior, e alta de 1.872% ante maio/18.

  1. O destaque da semana

Na última quinta-feira (23/mai), o secretário da Agricultura dos EUA, Sonny Perdue, anunciou um programa de ajuda aos produtores norte-americanos de 16 bilhões de dólares.

O valor deve ser destinado para abertura de novos mercados, além do pagamento direto aos produtores dos EUA.

A informação adiciona novo fator à precificação dos grãos, já que, além dos problemas climáticos enfrentados na nova safra norte-americana, o subsídio anunciado também pode alterar o planejamento da área a ser cultivada nesta nova temporada.

E ainda, o pacote de ajuda aos produtores dos EUA diminui a pressão pela qual o setor agrícola passa em ocasião da disputa comercial, o que pode permitir prolongamento das negociações entre os dois países.

 

  1. E o que está no radar…

A colheita do milho avança pelas regiões produtoras. Os trabalhos em campo seguem em estágios iniciais, completando até a última semana, 3% do cereal de 2º safra no Paraná e 0,26% no Mato Grosso.

Na segunda-feira (27), a Associação dos Produtores de Soja do MS realizou o lançamento oficial da colheita no estado.

Há expectativas que as produtividades venham em níveis recordes nesta temporada, com este período de maior oferta gerando oportunidades de compra e, possivelmente, pacificando as cotações.