A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou ontem, em audiência pública na Comissão de Agricultura da Câmara, que durante sua viagem à China o governo daquele país insistiu em habilitar apenas mais 20 frigoríficos brasileiros para exportar carnes a seu mercado. Ela disse que pediu para que fosse analisada a lista de 78 estabelecimentos que está sendo revisada e precisa ser encaminhada pelo Ministério da Agricultura à China até o fim desta semana, mas o Valor apurou que o ministério já sabe que, em um primeiro momento, serão só 20, que deverão ser escolhidos a partir de uma lista de 30 unidades a ser entregue pela Pasta.

Também ontem, as principais entidades que representam a indústria brasileira de carnes se reuniram no ministério para tratar dos detalhes finais da lista dos 78 – de onde tendem a sair os 30 que vão para a “peneira final” -, de forma que as exigências técnicas e sanitárias demandadas sejam cumpridas à risca. “Pedimos aos chineses que analisem as 78 unidades e para que incluam três plantas de suínos, porque quando [técnicos chineses] vieram ao Brasil ainda não tinham o problema monstruoso com a peste suína africana”, disse Tereza. Depois, a jornalistas, ela admitiu que de fato não serão habilitadas mais 78 plantas.

“Mas precisamos abrir um canal de negociação permanente. Disse aos chineses que não ia voltar para o Brasil com três ou seis plantas, mas que gostaríamos de entregar o maior número de questionários analisados”. Tereza cobrou que a o segmento de carnes do Brasil seja mais “profissional”, já que o ministério teve problemas com a entrega de documentação correta, e no prazo, por parte de alguns frigoríficos.
Para uma fonte do governo que acompanha a reunião anual ministerial da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em Paris, o acirramento das tensões entre EUA e China poderá acelerar o processo de habilitação de novas frigoríficos brasileiros.

No resumo que fez sobre sua viagem à Ásia, Tereza comentou que manteve encontros bilaterais com ministros de Agricultura de países do G-20 em reunião em Niigata, no Japão, há duas semanas. Em um deles, ela prometeu viajar à Rússia, por volta de setembro, para melhorar a credibilidade do Brasil com Moscou.

“Os russos são complicados, mas a indústria brasileira tem que ter consciência do que está mandando. Eles não aceitam ractopamina [promotor de crescimento animal]. Precisamos ir para a Rússia, é um mercado importantíssimo para nossas carnes bovina e suína”, afirmou ela.

Tereza esteve, ainda, com o ministro de Agricultura da Arábia Saudita, que reduziu o número de frigoríficos brasileiros dos quais compra carnes. “A primeira coisa que ele me perguntou foi: vocês querem vender toda a carne de frango que importamos?”. (AE)